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Ajoelhei e comecei a catar tudo desesperadamente. Até que uma laranja rolou para perto de um par de sapatos pretos.

Questionei o fato de como eles vieram parar ali tão rápido.

Agarrei a laranja e levantei os olhos lentamente, percorrendo o comprimento de sua calça até chegar em seus olhos verdes e brilhantes que estavam indiscretamente fixados em meu decote.

Sem contar que eu estava de quatro na calçada bem diante dos olhos dele, o que era uma posição um tanto comprometedora.

Me levantei rapidamente e extremamente envergonhada que eu pude sentir meu rosto queimar instantemente. Já é a segunda vez que ele me pega em uma situação tão  constrangedora.

Provavelmente ele deve pensar que eu sou uma mulher qualquer, e já deve ter criado uma versão um tanto equivocada sobre mim.

" A vizinha de moral questionável que vive me espionando pela janela".

E eu não o culpo, confesso que a minha perversão tem alcançado limites extremos.

Ele sorri ao me ver desconfortável com as mãos ocupadas demais para ajeitar tanto os meus cabelos como o vestido que estava com uma alça um pouco irregular, fazendo com que um dos meus seios quase saltasse pra fora.

—–  Gostou da torta? — Ele perguntou sério, apesar do seu olhar ter o entregado totalmente.

—– Torta? Ah sim, a torta, gostei...gostei bastante.

Segurei as sacolas com uma mão e com a outra tratei de afastar o cabelo do rosto.

Um gesto que o deixou bastante interessado. Seus olhos estavam ardendo em chamas, e ele meio que ajeitou a calça indiscretamente.

A energia sexual que seu corpo exalava era quase palpável.

Fiquei ali estagnada sem saber o que dizer. Eu estava vermelha de vergonha por ter o encontrado novamente em  circunstâncias tão desastrosas.

Eu não deveria ter me exposto tanto, mas por que se surpreender? A primeira vez que nossos olhos se encontraram ele estava transando com uma mulher.

Ele se abaixou e apanhou a minha presilha que estava no chão.

—– Creio que isso pertença a você — Ele falou num tom gentil direcionando seus lindos olhos para os meus cabelos soltos e compridos.

Que já passaram do prazo de cortar.

—– É sim, obrigado  —  Coloquei as sacolas no braço para poder pegar a presilha de sua mão, mas ele a puxou  de volta.

—– Deixa que eu faço isso  — Ofereceu

Segui com olhos suas mãos evasivas se estendendo sobre o meu cabelo, e segundos depois, senti seus dedos se enroscarem em minhas madeixas.

Um gesto simples, mas que me fez fechar os olhos por um instante e sentir a fundo o toque de suas mãos. Uma sensação deliciosa por sinal.

Assim que ele prendeu os meus cabelos, senti um estranho vazio, quando suas mãos se afastaram como se as quisessem sempre ali.

—– Obrigado — Suspirei um pouco retraída, enquanto seus olhos estavam o tempo todo sobre os meus.

Ele estendeu o braço novamente e passou o polegar sobre o ferimento em meu rosto.

—– Por nada.

Seus olhos brilhavam como duas esmeraldas e sua boca estava entreaberta deixando transparecer o intenso desejo que sentia por mim.

Ele olhou para os meus olhos e depois para os meus lábios, e quando ele estava prestes a me beijar novamente, eu recuei.

Eu não podia permitir que acontecesse outra vez.

—– Lamento, mas eu tenho que entrar.


—–  Ah sim — Ele se afastou e passou a língua pelos lábios secos — Eu também tenho que ir, não sei se isso importa, mas tenho uma entrevista de emprego.

—–  Serio? Isso é ótimo — Sorri meio sem jeito.

—–  Deseje - me sorte.

—– Boa sorte.

Ele curvou os lábios em um sorriso simples deixando suas covinhas aparecerem. Isso o deixava fofo, mas eu sabia que fofura não era o forte dele.

Em seguida, ele saiu, acompanhei ele com os olhos até entrar em seu carro, e só depois fui me tocar da dor latejante em meus braços por ter segurando aquelas sacolas por tanto tempo.

Entrei em casa às pressas e praticamente joguei elas sobre a pia, sentindo uma extrema leveza seguida de uma sensação de alívio sem fim por ter me livrado de um peso, se eu pudesse me livrar do meu fardo assim também, seria muito bom.

Vi que ficaram algumas marcas avermelhadas, mas elas logo iriam desaparecer, exceto as marcas de agressão, essas eu infelizmente irei carregar por toda a vida.

Marcas de amor.

Mais tarde eu me escorei na janela pra ver o resultado da entrevista do vizinho, pelo menos observar algum comportamento que demonstrasse sua felicidade ou descontentamento, e parece que ele não conseguiu.

Já que chegou em casa bêbado e irritado, quebrando tudo. Confesso que fiquei com pena. Ele saiu tão confiante, achei que isso seria suficiente.

Ele arremessou uma garrafa na parede me assustando completamente, e depois me lançou um olhar transtornado e apático que me fez fechar a janela imediatamente.

.....

Senti um corpo pesar sobre o meu, me impedindo de respirar. Eu estava nua, totalmente vulnerável enquanto alguém avançava violentamente contra meu corpo me machucando a cada estocada, meu coração estava acelerado assim como a minha respiração.  Senti dor,  muita dor.  Eu queria abrir os olhos, mas fiquei com muito medo do que eu iria ver.  Abri a boca pra gritar, porém não saiu nada, nem sequer um grunhido.

Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, enquanto eu apertava os olhos e cerrava os dentes, assim como o punho, afim de me livrar dessa sensação horripilante, até que por um instante tudo parou.

Por fim, pude abrir os olhos e perceber  que eu estava sozinha no meu quarto..Ainda eram duas da madrugada, e a única luz ali presente era a luz da lua que invadia a janela.

—– Caleb?

Levantei e olhei para o lado, mas não tinha ninguém.

Caleb ainda não havia voltado de viagem.

Passei a mão pela testa encharcada de suor e suspirei aliviada ao ver que tudo não passou de um terrível pesadelo.

O vizinho Where stories live. Discover now