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—– Olha pra ele — A voz sussurrou.

Levantei os olhos e olhei para Zyan, no sofá com os olhos fixos no desenho que estava passando na tv, abraçado ao seu dinossauro de pelúcia.

Uma lágrima rolou dos meus olhos.

—– Caleb?

—– Você quer tanto ser mãe, o que te impede de roubá - lo?

Sequei rapidamente as lágrimas e voltei a picar a cebola de uma maneira frenética.

É só ignorar, não é real.

Mais assustador foi o fato de eu sentir a presença de mais alguém do meu lado e também atrás de mim.

Eles estão todos aqui, eu posso sentir.

Isso não pode acontecer, não quando eu estou a quase quatro meses fazendo terapia.

A faca começou tremer na minha mão, então por impulso da raiva eu me virei e apontei ela para o nada.

Porque era exatamente isso que tinha do meu lado, um grande nada.

Me virei novamente pra frente e me concentrei no que eu estava fazendo, tentando me convencer que era tudo coisa da minha cabeça e consequência do remédio que não tomei hoje de manhã.


O psiquiatra disse que fazendo o uso correto do remédio, as alucinações iriam sumir.

Bom, como eu não estou tomando.

Eu disse pra minha mãe que havia tomado, mas a verdade é que eu não quero depender de remédio a vida toda, eu tenho plena convicção de que eu não preciso.

Eu não estou louca. Sem contar que eu não ia conseguir trabalhar se dependesse de remédio. E eu preciso trabalhar, preciso de alguma coisa que me faça acreditar que eu sou útil e que consigo viver por mim mesma.

Não quero ninguém cuidando de mim.

—– Ela é velha demais pra cuidar dele, ela sequer cuidou de você...

—– Isso é verdade — Falei inconscientemente.

Percebi que eu não deveria dar crédito para essas vozes, já que elas fazem parte da minha desordem mental. Cuja a única função delas é me confundir, e fazer com que eu perca o controle.

Balancei a cabeça afim de me livrar delas, e fui até a geladeira, peguei algumas verduras. Porque eu pretendia fazer uma sopa.

Uma coisa mais leve e nutritiva para o jantar, já que só tinha duas pessoas em casa.

Tirando os espíritos.

Lavei todas as verduras e depois voltei para o balcão para assim poder cortá-las.

—– Ele é filho da minha mãe e do Richard — Repeti para mim mesma. E eu também não vou ficar discutindo com as vozes da minha cabeça sobre isso.

—– Ah, o Richard, você reparou como ele tem sido gentil com você — A voz agora ficou diferente, e eu reconheci imediatamente como sendo a do meu pai.

É insuportável ouvir a voz de quem tanto me fez mal, é de embrulhar o estômago.

Virei o rosto e o confrontei.

—– O Richard é o marido da minha mãe - Falei entre os dentes.

—– Eu também era.

O vizinho Where stories live. Discover now