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Acordei com o som de uma música clássica, uma linda música por sinal, que se parecia com a valsa tocada no dia do meu aniversário, na qual eu dancei ao lado do meu pai.

Quanta saudade.

Levantei e percebi que eu ainda estava na sala, porém o outro sofá que Caleb havia se deitado estava vazio e desarrumado.

Caleb nunca o deixaria bagunçado. Ele sempre deixa tudo arrumado, com os cobertores perfeitamente dobrados.

Olhei em volta procurando por ele, mas não encontrei.

Será que estou sonhando, e de onde está vindo essa música.

Conforme eu andava, a música ia aumentando, até eu perceber que o som vinha da cozinha.

Fui até lá, descalça e esfregando os olhos para me certificar de que eu não  estava dentro de um sonho ruim.

E encontrei Caleb na cozinha, todo atrapalhado fazendo o café e coberto de farinha.

Murmurando algumas melodias.

Eu nem sabia que ele cantava.

Escorei no batente da porta, cruzei os braços, e fiquei observando ele.

Ele estava com a mesma roupa da noite anterior, gravata solta e o cabelo bagunçado, ele nem sequer tomou o seu  banho matinal.

Eu achei tudo tão estranho.

Ele reparou que eu estava ali, e  rapidamente desligou a música.

—– Oi, amor — Disse com um largo sorriso

Ele nunca manteve um sorriso no rosto  por tanto tempo, e vê-lo tão feliz com certeza era um motivo de preocupação.

—– Oi — Respondi confusa, em seguida me aproximei.

—– Está tudo bem? — Perguntei desconfiada, visualizando toda aquela bagunça que ele havia feito.

Tinha farinha até no teto.

—– Eu estou ótimo  — Disse, crescendo ainda mais o sorriso.

Passei a mão sobre um pouco de farinha que estava em seu rosto.

—– Mas não parece — Falei, aproveitando para pôr a mão em sua testa e checar sua temperatura.

Ele segurou a minha mão, depois a beijou.

—– Por que não se senta? daqui a pouco levo o café pra você. Ah, deixa eu colocar o bolo pra assar...

Reparei que ele se quer tinha posto a água pra ferver.

Aquilo era bizarro demais, e era preocupante ver que ele estava por horas amassando a massa nas mãos.

Sem nem ter uma fôrma por perto, como ele pretendia assa-lo?

Sorri meio sem jeito.

—– Não precisa, meu amor, eu posso cuidar disso.

Ele parou de amassar a farinha e olhou pra mim, despreocupado.

—– Estou tentando te tratar da maneira que você merece, fazendo um café especial pra você — Ele direcionou os olhos para o fogão e sua expressão mudou subitamente — Caramba, eu esqueci de pôr a água no fogo. Espera um pouco.

Ele foi até a pia, colocou o copo pra encher e ficou por horas olhando pra ele transbordar.

Agoniada, eu fui até lá e fechei a torneira.

O vizinho Where stories live. Discover now