Como um vulto, Caleb avançou sobre ele e distribuiu uma série de socos em seu rosto.

E a violência dos golpes era absurda.

Enquanto todos à sua volta, assistiam horrorizados, inclusive a sua família.

Eu estava tão anestesiada que pouco me importava o desfecho dessa história, eu só pensava em ir embora e me jogar na cama.

Precisou de dois seguranças para arrancar Caleb de cima do pobre rapaz que ficou irreconhecível depois.

Depois disso Caleb saiu me puxando pelo braço rumo a porta de saída. Mantive a minha cabeça baixa o tempo todo, me recusando a olhar para a sua família, porque eu estava morrendo de vergonha deles e de mim mesma.

Caleb fez um sinal para o motorista seguir sozinho com a limosine, porque decidiu que íamos no nosso carro.

Antes de entrarmos em casa, eu ainda fui obrigada a assisti-lo, quebrando o seu carro mais caro, com chutes e pontapés. Além de socos.

Essa é a forma que ele encontrou de estravazar. Eu não estava tão surpresa até porque esse não era o primeiro carro que ele quebrava.

Eu estava aliviada por ele não ter descontado em mim dessa vez.

Depois do show de pancadaria, ele passou por mim furioso e eu, sem escolha, o segui cambaleando.

—– Bravo — Bati palma — Foi um ótimo show, os vizinhos adoraram.

Ele me ignorou totalmente e subiu as escadas.

Fechei a porta, tirei os sapatos e subi as escadas atrás dele, rindo sabe se lá do que.

Depois escorei no batente da porta e observei ele tirar os sapatos.

—– Foi uma bela festa, não acha? Eu me diverti muito, os seus pais...são...adoráveis...muito obrigado por ter me levado.

Quando fui dar alguns passos para entrar no quarto, acabei tropeçando e caindo.

—– Ops!

—– Olha pra você, parece uma maluca, uma puta de esquina — Falou enfurecido apontando para mim jogada no chão.

—– Eu, meu amor — Apontei para mim mesma — Puta de esquina? até elas vivem uma vida melhor do que a minha. Aliás, feliz aniversário, você não me contou que era o seu aniversário, poxa, eu teria comprado um presente...que tal um belo par de chifre.

Levantei do chão e tentei ficar em pé, mas eu estava tão tonta que precisei me escorar na parede.

—– Cala a porra da boca, Ella.

—– Já imagino a primeira manchete dos jornais: " O renomado Caleb Miller recebe um belo par de chifres de sua esposa e não se conforma e se mata"

Soltei uma gargalhada.

—– Ella, para com isso. Eu não quero machucar você.

—– Ah, nossa — Aumentei a voz — Como se você nunca tivesse feito isso...

—– Eu sei, e eu me arrependo muito disso —  Ele falou no tom mais baixo.

—– Ah, Caleb, como você é cínico, tá arrependido porque matou o meu bebê, ou porque me tirou a oportunidade de ser mãe algum dia, porque você sabe o que esse aborto me custou.. agora se eu querer um bebê vou ter que adotar, olha só que maravilha.

As feições dele rapidamente se converteram em dor.

—– Ella, você está bêbada, não sabe o que está falando...

—– Eu nunca vou ser mãe, tá feliz agora — Soltei entre as lágrimas. Meu lindo bebê. Era para eu estar segurando ele nos braços agora, e você acabou com esse sonho.

—– Me perdoe por favor.

—– Não, eu quero que vá à merda.

Passei a mão pelo cabelo, atordoada, depois voltei a olhar pra ele.

—– Quer saber de uma coisa? eu queria mesmo beijar aquele homem, eu queria dar para ele como uma puta de esquina, porque você nunca me comeu direito nessa porra...

Isso foi a gota d'água para Caleb avançar na minha direção e apertar a minha  garganta, mas para a minha surpresa ela me soltou. E esmurrou a parede ao invés de  mim.

Depois disso, ele me segurou pelos ombros e colou a sua testa na minha.

—– Você desperta o pior de mim, eu não quero te machucar, mas você me obriga —  Suspirou tentando se controlar.

Deixei escapar uma risada sarcástica, depois empurrei ele.

—– Oh me desculpa então —  Ergui a mãos em rendição — A culpa é toda minha agora.

—– Ella, vamos dormir, amanhã é outro dia — Ele fez menção de pegar o meu braço, mas eu me afastei.

—– Como preferir, eu vou porque estou exausto — Ele se adiantou e passou por mim em direção a cama.

—– Você se lembra do Ed? — Perguntei, fazendo ele parar no meio do caminho e se virar pra mim —  Ele era o nosso vizinho, ele era tão bom, tão gentil, todo mundo do bairro adorava ele, porque ele era muito prestativo, simpático,  então é claro que comigo não seria diferente, não é mesmo?

—– Ella, agora não — Caleb soltou entre os dentes.

—– Um belo dia você resolveu chegar mais cedo do trabalho, e encontrou a gente na cama...

Caleb fechou os olhos e respirou fundo afim de conter a sua impaciência.

—– E você... o matou, e matou bem aqui— Apontei para o piso do quarto — Bem na minha frente. Ele estar enterrado bem debaixo dos nossos pés, e você segue a vida tranquilamente como se nada tivesse acontecido 

Eu estava aos plantos enquanto no rosto de Caleb não havia nenhum traço de arrependimento.

—– E desde então eu sigo atormentada por causa disso, a culpa pela morte de alguém que você matou,  e você acha que a culpa é minha, por isso você me mantém aprisionada aqui, por que quer me ver longe das pessoas, do seu irmão, porque você não quer que eles saibam quem eu sou de verdade, e mais do que isso, você tem medo que eu faça de novo não é?  você simplesmente desfigurou o rosto daquele homem por minha causa.

—– É mais complexo do que você imagina, Ella, espero que um dia eu possa te explicar tudo, mas agora não é o momento...

—– Sabe o que é mais engraçado nisso tudo, é que eu não consigo te odiar...e olha que eu tento, mas o que eu sinto por você é mais forte do que eu, te amar dói...dói muito. Somos duas pessoas desprezíveis que estão condenadas a morrerem juntos...um não sobrevive sem o outro... você sabe que se eu te deixar, você vai morrer sozinho...

Ele se aproximou e sem se importar com que havia acabado de falar, me tomou em seus braços e me levou pra  cama, enquanto eu suspirava exausta e com o sono beirando os olhos.

—– Ninguém te ama mais do que eu - Sussurrei.

—– Eu sei, eu também te amo, é por isso que eu estou tentando mudar... por você.

Adormeci ouvindo Caleb sussurrar essas palavras no meu ouvido, sem ter certeza se era isso mesmo que ele sentia por mim.

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