Ele estava vestindo apenas uma calça preta, e eu vestia uma camisola branca de seda que acentuava bem as minhas curvas.

Nunca estive tão à vontade.

Ele moveu a peça da torre eliminando minha rainha com um único movimento.

Depois sorriu vitorioso.

—– Ah não — Resmunguei, rindo de desespero porque faltava pouco pra acabar a partida e havia poucas peças minhas no tabuleiro.


Ele estava acabando comigo no xadrez também.

—– Como conheceu o seu pai ? — Perguntei, depois de mover o meu cavalo.

Sua linguagem corporal mudou radicalmente.

Ele ficou um tempo em silêncio, e eu me questionei se deveria ter tocado no assunto.

Ele moveu a sua rainha, encurralando o meu rei e depois olhou pra mim atentamente.

—– É engraçado, porque eu passei a vida inteira procurando pelo meu pai, e quando finalmente encontrei ele.... está morto.


Senti uma certa mágoa em seu tom de voz, além de uma raiva contida em seu olhar.

—– Eu sinto muito.

—– Não cheguei a conhecê-lo — Desabafou —  Minha mãe era o típico caso de uma prostituta que engravidou de um cliente, é claro que, ele não iria acreditar que o filho era de fato dele, ainda mais sendo um milionário casado.


Ele apertou a peça com tanta força que por um momento pensei que iria quebrar, contive suas mãos nervosas, levando-as até os meus lábios e as cobrindo com um beijo sutil.

—– Eu não sabia que Robert era assim, ele parecia ser uma pessoa tão sensata — Lamentei, soltando sua mão e migrando o meu rei para um lugar seguro

—– Não conhecemos tão bem as pessoas com quem nos relacionamos  — Ele me lançou um olhar misterioso. Que por algum motivo me deixou excitada.


—– Poxa, é uma pena —  Insinuei, me aproximando dele.

—– Ela até foi procurar por ele, mas possivelmente ele a rejeitou — Ele completou brincando com a mecha do meu cabelo.

—– Se você o odeia tanto, por que aceitou herdar os bens dele?

—– Porque alguém como eu precisa ter alguma coisa a mais para oferecer do que só um corpo, Ella.

—– Alguém como você?

—– Sim, um jovem frustrado que nem sequer tem um emprego.

Olhei para ele, incrédula.

—– Não acho que seja um frustrado, você é perfeito, sabe controlar muito bem suas emoções.


Ele sorriu de maneira dócil.

—– Éramos muito pobres e o dinheiro que a minha mãe ganhava com os programas, muitas vezes não eram o suficiente, então quando eu e minha irmã nos tornamos adolescentes, minha mãe começou a nos prostituir, ficando assim com o nosso dinheiro pra comprar drogas, bebidas essas coisas...


Tampei a boca horrorizada com aquela revelação surpreendente.

Ele me olhou e eu vi uma mágoa contida se formar em seu olhar, mas ele disfarçou com um sorriso.

—– Não pareço tão interessante agora, não é?

Agarrei o seu rosto e o beijei calorosamente.


—– Você é interessante sim, pra mim, Não importa o que tenha acontecido no seu passado, ou se sua mãe era uma louca, você não teve culpa alguma, e além do mais você se tornou um homem extraordinário e isso é o que importa.

—– Uma dose de vinho, e eu viro extraordinário pra você.

Dei um tapinha no ombro dele.

—– Para, não é por causa do vinho, eu posso está tonta, mas não estou cega, muito menos louca, qualquer uma veria o quão incrível você é..


Ele sorriu abertamente e depois me abraçou, soltando o ar com força.

—– Fico feliz por saber disso —  Sussurrou no meu ouvido, fazendo o meu corpo vibrar.

—– Fico contente que tenha me contado —  Agarrei as suas mãos e vislumbrei seus olhos tristes — Eu vou confiar em você, mas também quero que confie em mim, quero descobrir seus piores segredos.

Ele sorriu e se virou, movendo uma peça do jogo de xadrez.

—– Cheque mate — Disse com uma expressão serena, me arrancando um imenso sorriso.

Em seguida ele se levantou, tomou o último gole do vinho da taça, e depois estendeu a mão pra mim.

—– Agora, acho que mereço uma dança — Sorriu malicioso.

Agarrei a sua mão, e ele me puxou sutilmente, fazendo o meu corpo colar em seu peito.

—– Eu te amo — Confessou.

Eu me surpreendi com suas palavras, e por um momento senti um aperto no peito por não poder dizer o mesmo.

Toda vez que penso na palavra "Eu te amo" a única imagem que me vem na cabeça é a de Caleb.

—– Ei — Ele agarrou o meu rosto e olhou dentro dos meus olhos — Não precisa dizer agora 

Sorri emocionada e enterrei a minha cabeça em seu ombro e começamos a dançar ao som de uma música calma e romântica.

O vizinho Where stories live. Discover now