Fiz o que ele mandou, girei o corpo sem nem conseguir respirar, de tão apertado que o vestido estava.

—– Está um pouco justo, talvez devesse emagrecer — Sugeriu, ríspido.

—– Ou talvez, você deveria trocar por um tamanho maior — Retruquei

Ele deu um tapa no meu rosto, em seguida agarrou firme as minhas bochechas.

—– Quando eu falo uma coisa, é pra você balançar a cabeça e concordar, entendeu? — Rosnou, enquanto eu o encarava com os olhos lacrimejando —  Entendeu?

Assenti balançando a cabeça e ele finalmente me soltou e se recompôs.

—– O que vai fazer? — Perguntou ao me ver sentar na mesa e pegar um garfo.

—– Comer outro pedaço de bolo —  Encarei ele, ingênua

—– Não ouviu o que eu acabei de dizer? você está gorda e se comer mais um pedaço de bolo, é capaz de explodir — Esbravejou.

—– Mas eu estou com fome..

Ele me lançou um olhar tão mortal que a minha única atitude foi balançar a cabeça e concordar, e depois assistir ele  jogar o resto do bolo no triturador de alimentos que fica embutido na pia.

—– Posso pelo menos tirar esse vestido? — Perguntei com a voz embargada.

—– Vai, vai não suporto ter que olhar para essa tua cara.

—– Nem eu pra sua — Murmurei baixinho, enquanto seguia até a escada.

....

Eu estava deitada no sofá, assistindo pela décima vez um filme de romance  que falava de uma garota que fugiu de casa pra viver uma história de amor.

Os pais dela não aceitavam o seu relacionamento, porque o cara era  negro e pobre, mas isso não a impediu de lutar por ele e por sua liberdade.

E eu nem sei porque eu estou chorando horrores por causa disso.

Talvez por que sua história de amor foi interrompida já que acusaram injustamente o pobre rapaz de ter abusado dela, e o condenaram à morte.

Talvez eu me sinta como ela em algumas partes, tentando salvar uma coisa que é totalmente impossível.

Fui interrompida pelo som da campainha. Limpei os vestígios de lágrimas dos meus olhos e levantei do sofá, já imaginando quem poderia ser.

—– Feliz aniversário!

Foi o que eu escutei assim que abri a porta.

Vicent estava com um enorme sorriso no rosto, segurando um bolo de padaria.

–— Como sabe que hoje é o meu aniversário? — Perguntei desconfiada — Não me lembro de ter te contado.

Ele passou por mim se fazendo de desentendido e colocou o bolo sobre a mesa.

—– Cadê os convidados? Agora não era pra tá rolando uma puta festa? — Estranhou ele

—– Pra quê, não há nada pra comemorar aqui — Soltei desanimada fechando a porta e me aproximando dele com os braços cruzados, observando ele acender uma pequena vela.

—– Como não, você é um milagre divino Ella Watson —  Disse balançando o palito de fósforo — Muitas coisas poderiam ter contribuído para a sua não existência, e no entanto você está aqui,  firme e forte.

—– Está exagerando — Suspirei

Ele se aproximou de mim e me olhou profundamente, e por algum motivo comecei a ofegar.

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