Acabou

445 34 32
                                    


        Blair acordou de repente, num sobressalto, quando sentiu seu tronco projetar-se para frente, como se fosse cair de algum abismo. No instante em que abriu os olhos, imediatamente sentiu uma dor fortíssima na cabeça a atingir, deixando-a brevemente desorientada. Piscou algumas vezes para que os seus olhos se ajustassem à luz. A região de sua cabeça que latejava era justamente a parte de trás, lugar exato onde lhe acertaram com brutalidade a porra de uma garrafa de bebida quente, que se espatifou em vários pedacinhos com o impacto. Mas era como se tudo tivesse sido afetado com o golpe, porque a dor parecia generalizada. Sentiu que poderia explodir a qualquer instante.

       As dores no corpo também se fizeram bem presentes, qual a sensação de aperto em seu pescoço. Sufocante. Desesperador. Foi por meio dessas ligeiras impressões de vivências que sua mente despertou, fazendo-a se lembrar de alguns momentos antes de ter desmaiado.

       Quase morte. Agonia. Estrangulamento. Ar lhe escapando aos pulmões. Sorriso de satisfação no rosto do homem sobre si. Quase inconsciência total. E o tiro que veio de sabe-se lá onde, efetuado por sabe-se lá quem. Quatro tiros, ao todo. Ou será que foi impressão? Sangue jorrando. Miolos. As mãos ao redor de sua garganta se afrouxaram. O homem caiu morto ao seu lado. Vozes masculinas ao longe... Até tudo virar escuridão.

       Lembrou-se. E se lembrar não foi tão bom. Os sentidos voltaram vívidos quando recobrou à consciência de fato. Seus olhos finalmente puderam ver o que ainda não tinha percebido. Ao respirar fundo, engasgou-se com o cheiro desagradável. Era algo parecido com mofo ou coisa pior. Estava presa. Amordaçada, seus braços e pernas encontravam-se atados a uma cadeira de madeira completamente desconfortável. Quis gritar, mas só saiu um gemido esganiçado de sua garganta. O som, abafado. A isso se deveu o pano grosso colocado ao meio de seus dentes, preso com dois nós em sua nuca.

       Seus olhos perscrutadores e ávidos por informação vasculharam o redor. Sozinha. Encontrava-se sozinha. O ambiente quase não recebia luz, até porque estava de noite do lado de fora. Mesmo assim, não havia nenhuma janela ou duto. Pelo menos, não visivelmente. Nenhuma ventilação. Era só um cômodo de mais ou menos 3m², a cadeira, ela e a porta de ferro, que a trancafiava ali. Apenas. Um pavor nunca antes sentido a dominou por completo diante daquela realidade.

       Meu Deus, onde é que eu estou??? Cadê o Alex???

     E a resposta para a sua pergunta veio quase que imediatamente.

      Alguém finalmente deu as caras depois do que pareceram horas de espera e agonia, só que a presença do sujeito se mostrou extremamente indesejada no instante em que seu rosto fora revelado. Blair começou a rugir e a tentar se soltar da cadeira, a fúria e a repulsa ficaram claramente refletidas em seus olhos. Lembrava um animal feroz cuja soltura seria arriscada demais. Mesmo assim, reação melhor não poderia ter ocorrido para o homem, que sorriu com satisfação diante da garota.

— Ora, ora, ora... — ele brincou com as palavras proferidas, gozando do sabor delas em sua boca. — Parece que o leãozinho finalmente acordou.

        Era John Stevens.

        Ele contornou deliberado e vagarosamente a cadeira em que ela estava sentada, numa volta de 360º, e deslizou a ponta dos dedos no rosto e no cabelo de Blair, acariciando-os, e ela desesperadamente se contorceu ao toque, enojada e raivosa.

        John parou defronte, então, e a estudou por um breve instante.

— É muito bom te ver. — comentou casualmente para iniciar a conversa unilateral. — E, se me permite dizer, você está realmente linda. Bom... Só um pouco machucada aqui, descabelada ali, mas quem se importa, não é mesmo? — e riu um riso forçado. Os olhos dela, se fossem armas, já o teriam matado. — Cresceu bem.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora