As anotações

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               O início do culto foi uma benção. Os componentes da banda introduziram a reunião com uma sequência de quatro músicas bastante animadas e todos, de pé, louvaram tão alto quanto o som dos instrumentos. Imersos naquele momento de paz, Anderson e Deborah até esqueceram da vergonha que a filha os fizera passar e puderam descarregar os sentimentos negativos. Espíritos calmos e livres. Isso era bom, porque talvez Sterling fosse poupada do longo sermão que receberia no caminho para casa e em casa.

               Os Wesley normalmente sentavam no lado esquerdo da igreja, sempre nos mesmos bancos. Os Creswell e os Stevens, porém, à direita, com estes à frente daqueles. Sabendo disso, podia-se entender por que Luke vez ou outra puxava assunto com April, fazendo-a virar para trás para olhá-lo. Sterling conseguia ver tudo de onde estava, pois o assento deles era quase exatamente à direita do seu. Ocupando o lugar que dava para o corredor, ela inevitavelmente se viu apurando os ouvidos para escutar o que eles conversavam.

               Sim, não era o certo, sabia, mas não pôde evitar. Foi mais forte. Ninguém mandou eles inventarem de bater papo durante as canções que ela não sabia cantar direito.

— Eu adoro essa. — April forçou um pouco a voz para que ele pudesse a escutar, fazendo referência à música cantada. For Your Glory. — E a Kate consegue expressá-la muito bem, não acha? Escuta só! Escuta só esse tom de voz. Ela é incrível!

               E era mesmo. Muito.

              Se em outra ocasião, provavelmente Sterling teria se remexido no lugar com um certo desconforto dentro de si — ciúmes, a palavra —, se não soubesse quem era Kate. Mas, como sabia, apenas balançou discretamente a cabeça, concordando com o comentário. Enxerida!

               Kate Bryant era uma das vocalistas. Com os seus quase quarenta e dois anos, tinha um vozeirão de dar inveja. Um dom. Qualquer música ficava maravilhosa em sua voz, mas tinha umas específicas que casavam perfeitamente, e essa era uma das.

— Põe incrível nisso! Tem horas que eu até me arrepio. — ele disse de volta. Depois, parou um segundo, como se estivesse avaliando algo, o cenho franzido. — É normal homens se arrepiarem com essas coisas, certo?

               Com a pergunta, April ergueu uma sobrancelha, estudando-a para ver se ele falava sério. E falava. Ela riu um pouco, achando graça, mas o fez baixo.

— Bom, eu não sei, não sou um homem. Acho que sim, né? A menos que você seja um alien ou um vegetal ambulante.

              Sterling até tentou, mas não conseguiu segurar: começou a rir sozinha.

              Blair, ao lado, ficou assustada com a reação repentina e olhou para a irmã com preocupação.

— Tá rindo de quê? Eu hein!

               Mas a menina não respondeu. O riso era silencioso, de modo a fazer o corpo dela tremer todo.

— Mãe! — a mais velha cutucou Debbie com certa pressa, mas não com desespero, tirando-a do momento de tranquilidade. — Mãe!

— Que houve?

— Acho que a Sterling tá possuída. — apontou para a irmã, que começou a rir ainda mais com a suposição. — Deus a livre! Deus a livre!

               E começou a fazer os sinais da cruz.

— Como??

               Querendo ter certeza do que ouviu, a sra. Wesley questionou, inclinando-se um pouco para o lado para checar a filha mais nova. Porém, antes que tivesse a oportunidade, a luz acabou do nada. O forte vendaval junto à tempestade que caía do lado de fora fez tombar uma árvore velha, que arrancou alguns fios presos aos postes, cortando a energia da rua inteira.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Where stories live. Discover now