Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)

As gravações

         A chave reserva da grande casa ficava em um lugar tão, tão escondido que nem a própria Interpol seria capaz de encontrar, acredite: embaixo do tapete da porta de entrada. Tão óbvio que chegava a ser ridículo, mas era justamente por ser tão óbvio que a suspeita sobre ele seria menor. Diante de uma residência de tamanhas proporções como a dos Stevens, qualquer um em sã consciência jamais pensaria que invadir um lugar feito aquele seria tão fácil. No mínimo pensariam que, para pelo menos arrombarem a porta ou a janela, seria necessário que elaborassem um plano mirabolante qual o Professor de La Casa de Papel.

       Blair riu em divertimento quando abriu a casa, sua cabeça balançava em negação, uma clara referência a sua descrença diante de todo aquele mecanismo de segurança... Que não existia. Perfeito para o plano, pelo menos.

       Sterling e April estavam um caos, esta última principalmente, mas entraram assim mesmo. A porta se fechou por trás delas. Antes de chegarem, porém, a Stevens expeliu o máximo da sujeira acumulada sobre a caixa de madeira em suas mãos e logo a repousou em cima de um aparador de madeira da sala de estar. Ainda no Hall de entrada, retiraram os sapatos, deixando-os ali, e April tirou a blusa. Ficou apenas de sutiã. Sterling, diante da cena, não pôde esconder o seu espanto. Sentiu-se completamente desconcertada com aquela atitude repentina e... Agradecida, também.

        Evidentemente tirar a camisa social branca, agora toda imunda, era o mais sensato, visto que ninguém merecia ficar com uma roupa que cheirava a adubo e terra velha, porém o choque residiu mesmo na naturalidade com que April o fez. A timidez, que pareceria um obstáculo, sequer existiu. A Stevens tampouco se importou com a presença das outras duas, afinal eram todas mulheres e adultas. Para ela, não tinha nada de mais, e realmente não tinha, em especial porque ela estava na própria casa e com pessoas conhecidas. Entretanto, Sterl e Blair não puderam acreditar no que seus olhos presenciaram. Ambas estavam boquiabertas. A mais velha, entretanto, para esconder sua surpresa, fez piada.

— Wow!!! O que é isso, senhorita acumuladora de camisinhas? Está tentando me seduzir com esse seu corpo todo esbelto, é?? — brincou ela com um sorriso divertido nos lábios. A irmã, encabulada, não sabia se ria só para disfarçar, se desviava o olhar para qualquer outro lugar ou se encondia o seu rosto corado. — Funcionaria, não vou negar... Mas infelizmente eu gosto de homens.

        April, que já estava começando a se acostumar com as zombações de sua ex-cunhada, revirou os olhos diante do comentário e suspirou, limpando o rosto e as mãos sujas na camisa branca.
       
— Talvez a Sterl...

— Blair! — bradou a gêmea, desesperadamente nervosa.

       Com a peça de roupa em mãos, a Stevens lançou-a contra a cara da mais velha para que ela calasse logo a boca.

— Por que você não vai fazer algo de útil, hein? — sugeriu April. — Já que está limpa e tão à toa, arranja para mim e para a sua irmã alguma blusa em um dos quartos e aproveita para ir no sótão pegar a boneca. Não tem como errar, é a única que está com parte do corpo queimada.

        E ela foi, até porque sabia que tinha de ajudar em alguma coisa. Sem demora, desapareceu da vista das outras ao subir os degraus para o segundo andar, mas deu para ouvir claramente a sua voz ressoar ao longe quando gritou:

— Só espero não ter o desprazer de ver vocês duas se pegando quando eu voltar...

       (...)

        Sterling seguiu April até a cozinha e tomou a liberdade de se sentar em um dos bancos defronte à bancada de mármore enquanto a observava procurar algo para comer em um dos muitos armários. A maioria deles estava vazio e, os que tinham algo dentro, armazenavam alimentos que não dava para se preparar em menos de cinco minutos. Mas Sterl estava pouco se lixando para a fome àquela hora. Seus olhos verdes se concentravam mesmo na forma sutil como a sua ex deslizava de um lado a outro. April tinha um jeito diferente de fazer as coisas quando com fome. Por mais que estivesse impaciente e quisesse sair quebrando tudo por não achar o que estava procurando, era delicada e cuidadosa, embora seu estado de espírito muitas vezes não fizesse jus.