Tentando se manter viva

651 94 27
                                    

          Imagine-se despencando em queda livre de uma árvore de altura mediana e caindo de costas na grama num baque seco e extremamente doloroso; o fôlego lhe escapando dos pulmões por um longo instante como se alguma costela quebrada tivesse o perfurado. E aí tem você, lutando, com evidente desespero, para trazer o ar de volta. Foi essa a sensação que Sterling teve no instante em que sua mãe mencionou ao telefone que Blair tinha saltado de uma ponte. O breve intervalo entre a revelação do acontecido e a posterior explicação sobre o desenrolar da história foi o bastante para que a mais nova quase passasse mal de verdade.
  
          Debbie repassou a ela exatamente tudo o que o policial lhe contou por ligação, como: a perseguição em alta velocidade, o carro dos Wesley se chocando contra a mureta na toda e a garota pulando da ponte feito uma doida desvairada, sendo salva por um caminhão de lixo. Sabe-se lá onde ela estava naquele momento. O silvo de alívio que escapou dos lábios da loira foi incompreendido pela mãe.

– Dá para você me explicar a razão de você estar suspirando em alívio agora??? – Debbie estrilou, raivosa. – Porque não tem nada de calmo aqui! Blair está metida em algum crime, não está, Sterling?? – quis saber, exigente, mas dava para sentir a preocupação no tom de sua voz. – Eu quero saber de tudo, não me esconda nada!

           Sterling entendeu o porquê da pergunta. Entendeu que, vendo de fora e pelo ângulo do perseguidor, sua irmã realmente parecia algum tipo de bandida foragida, qual o Carl Johnson (CJ) do GTA San Andreas tentando despistar os tiras quando com três estrelas. Compreensível, especialmente levando em consideração a aceleração que ela empregou para sair o mais depressa que pôde da Casa do Lago dos Stevens, mas ter de explicar em detalhes essa situação seria complicado.

– Não, mãe! Não tem nada disso. Não se desespere assim, por favor, se não eu fico desesperada também.

– Então por que ela estava fugindo da polícia, pelo amor de Deus??? Soube que havia outros carros perseguindo o carro dela também, muito antes dos da polícia, e houve troca de tiros. Eu tô toda me tremendo aqui. Ela só pode estar metida com alguma merda, Sterling! – Debbie encontrava-se exaltada, desesperada demais com a possibilidade de a filha ser uma criminosa em potencial. Queria chorar, mas era mais forte que isso e a adrenalina que percorria suas veias não lhe permitia ceder.

– Ela não estava fugindo da polícia...

– Então o que ela estava fazendo, merda!?????

– Tentando se manter viva.

– Pare de me dar respostas evasivas, Sterling! Eu não quero respostas evasivas! Quero respostas!!!! – explodiu grosseiramente do outro lado da linha, de modo que até April, que só estava escutando a conversa, levou um susto. – A sua irmã estava fugindo de quem, se não da polícia?? POR QUE INFERNO ELA ESTAVA TENTANDO SE MANTER VIVA????

        Mas antes que Sterling pudesse responder, todos os músculos de seu corpo se retesaram quando ela ouviu a voz se pronunciar. Pronunciou-se próximo de Debbie demais para o bem de todos.

– Acalme-se, Deborah. Vamos encontrá-la. Vamos encontrá-la, vai dar certo. – disse John com uma calma que não lhe era nem um pouco normal. Perigo. Que porra ele estava fazendo???? – Veja onde as meninas estão. Veja se April está com a Sterling.

         Como a ligação estava no viva-voz, a Stevens ouviu o pai do outro lado da linha, e imediatamente compartilhou um olhar desesperado com a Wesley. Aquela solicitude toda do homem era tão descaradamente estranha que as duas adolescentes se admiraram com o fato de não ter causado estranheza nos Wesley. Mas quem poderia julgá-los naquela ocasião, não é mesmo? Qualquer ajuda era muito bem vinda.

          Mas o que fora muito surpreendente para as jovens foi a aparente burrice de John em se deixar revelar enquanto na chamada com a Sterling, visto que é claro que a garota contaria à mãe que ele estava por trás de tudo. A menos que... A menos que ele estivesse preparando alguma emboscada para os dois adultos. E essa era a explicação mais lógica, era o que mais fazia sentido: ele rastrearia o celular da loira para encontrar a filha e arranjaria um jeito de acabar com a vida dos Wesley e de Sterling, assim como com a de Blair. Porém John era inteligente demais para ser burro e, obviamente, tinha tudo muito bem planejado para se deixar destruir por um simples deslize. Agora qual era o plano dele que era a verdadeira incógnita.

         A ideia dele era resgatar a filha da casa do lago e levá-la embora consigo. Eles fugiriam. As gêmeas, por outro lado, seus capangas se encarregaram de cuidar da melhor forma possível. Entretanto, claramente as coisas não saíram como imaginou que sairia, portanto teve de mudar todo o seu planejamento de última hora. Evidentemente, a resposta para isso talvez fosse sequestrar os Wesley, mas sem parecer que era um sequestro, e sim algum tipo de ajuda. Quando chegasse o momento certo, ele tiraria a máscara e usaria os dois como ferramenta de chantagem.

         Tudo muito bem calculado, se esse fosse mesmo seu plano mirabolante.

         O que ele não sabia era que Debbie já tinha sido uma caçadora um dia e, bem, as habilidades desenvolvidas não se perdem tão facilmente.

– Mãe, eu tô no viva voz???

– Não, não está. Por quê??

– Escuta bem o que eu vou te falar agora. – orientou Sterling com cuidado, a saliva estacionada no meio da garganta. Teve dificuldade em engolir. – Se você tiver sido mesmo uma caçadora de recompensas um dia, como contou daquela vez, vai saber que há um criminoso dentro desse carro aí. Acredito que saiba o que fazer, mesmo que esteja bastante enferrujada por causa do tempo. Você não está segura.

– O quê?? O que você está dizendo, Sterling???

– Eu vou dar um jeito de encontrar a Blair, mãe. – levou o assunto para o ponto que realmente importava, ignorando a pergunta feita. – Preocupe-se em dar um jeito de sair das mãos desse homem. Não confie nele. Não confie nele!!! Eu amo vocês.

          E antes mesmo que Debbie pudesse protestar, a filha desligou em sua cara, para imediatamente ligar para Bowser com o intuito de descobrir se ele sabia algo sobre sua irmã. Aparentemente, sim, porque a chamada estava ocupada. Então, apreensiva, esperou pela oportunidade junto a April.

    
         O que elas não estavam esperando era que a polícia estava esperando pela chegada delas na costa mais próxima. Sabe a calmaria? Sabe aquele momento de paz? Então, desapareceu junto à cor do rosto das duas. Viram-se encurraladas.

           

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें