Volte agora!

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               Lágrimas saudosas deslizando feito cascatas pelos rostos. O amor batendo na porta de entrada de ambos os corações. Abraço apertado, daqueles que lembram um lar. Finalmente, o reencontro. E todas as peças se encaixariam no quebra-cabeça da vida. O mundo teria dado a sua volta e parado justamente no lugar que deveria. Maduras e experientes. As duas já teriam enfrentado todos os seus medos e frustrações, portanto, estariam livres de seus pesadelos do passado. Encarado de frente o mundo da forma mais pura e amarga que ele poderia vir a ser, às vezes, mas teriam enfrentado todas as adversidades com garra e coragem. Essa era a intenção para o futuro, quando viessem a se acertar. E essas caídas constantes no chão sujo do destino seriam boas doses de fortalecimento para que, quando diantes de outra queda, fossem resilientes o bastante para aguentarem de pé a rasteira, de modo que sentissem cada vez menos os danos. Certamente seria o cenário perfeito, um digno de moldura de porta-retrato. Quando se vissem de novo depois do processo, tudo ficaria bem. Elas poderiam tentar... De novo, quem sabe.

               Mas não seria ali. Não seria naquele momento nem naquele dia. Nem nos próximos. Toda a visão de um possível relacionamento estável no futuro se embaçou como quando você passa a mão na superfície de um lago, deixando-o turvo. O sentimento de desamparo era sufocante.

               Os olhos de April encararam os de Sterling numa busca desesperada por algo que provasse que tudo aquilo estava errado; que a imagem à frente era apenas ilusão. Só queria enxergar algum vestígio de que ainda havia esperança para elas, qualquer coisa. Mas tudo o que encontrou foi dor, decepção e um vasto mar azul de palavras que aquela boca nunca foi capaz de dizer, mas que agora já era um pouco tarde para proferi-las. E elas se perderam no marejar de seus olhos bonitos, um incentivo indireto para que April entendesse que a sua paixão estava seguindo em frente.

              O choro ameaçou vir, brusco como um soco no estômago, mas ela o sustentou. Travou o maxilar imediatamente e mordeu o interior das bochechas. Os pingos da chuva desciam por seu rosto rígido e o contornavam, traçando os caminhos que as lágrimas salgadas e soturnas fariam, se no lugar. Sentiu raiva. Raiva de si mesma, raiva da vida, mas raiva principalmente de Sterling. Mesmo assim, sabia que não podia culpá-la. Então, trouxe o sentimento de raiva de volta para si.

               Deparar-se com as mãos da Wesley entrelaçada a de outrem fez com que ela se desse conta de que tudo poderia ter sido diferente se tivesse tido coragem de se entregar; de permitir que o mundo visse o quanto ela estava apaixonada por aquela garota; de ter sido sincera com e leal a si mesma e com as suas próprias emoções. Mas o medo do julgamento a impediu de viver a história que deveria estar vivendo. Ele ditou as regras do jogo e era ela quem estava sofrendo as consequências agora. E não havia nada que pudesse fazer naquele momento. Nada a não ser respirar fundo e controlar o seu emocional para não desmoronar.

— Luke. April. — desconcertada, Sterling se desvencilhou de Alicia com discrição para não parecer desesperada, e coçou a testa. — O qu-que, uh, o que vocês estão fazendo aqui?

               Arriscou perguntar, embora já soubesse a resposta. Não sabia exatamente o que fazer, seu corpo todo tremia que nem vara verde de nervosismo. Estava, sim, extremamente chateada e magoada pela cena, mas não se deu o direito de julgar, justamente porque não estava numa posição muito melhor para fazê-lo. Portanto, apenas tentou levar a situação da maneira mais branda que conseguiu.

— O mesmo que vocês, suponho. — April rebateu com hostilidade, fazendo referência ao encontro.

                 Mas quem era ela para estar com raiva, afinal?, Sterling se viu questionando a si mesma. Tudo tinha começado por causa da indecisão dela, para começo de conversa. Se April tivesse lhe pedido antes para esperar e buscasse alternativas para fazer dar certo, em vez de se unir a um garoto para passar a impressão de garota hétero, provavelmente Sterling não teria visto como uma opção ficar com Alicia. Talvez as duas estivessem erradas, no final das contas. Ou, quiçá, estivessem certas. Mas o ponto era que ambas encontravam-se bastante magoadas naquele momento e isso era tudo o que importava.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Where stories live. Discover now