Harvey-Johan

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Sete anos mais tarde

       Blair respirou profundamente, denunciando a sua falta de paciência. A dor de cabeça persistia. Era visível o quão exausta estava, qualquer um podia ver. A mancha preta sob os seus olhos denunciava a falta que fazia uma boa noite de sono. Desde quando mesmo que ela não dormia bem? Semanas, talvez. Sua perna direita, inquieta, balançava freneticamente embaixo da mesa enquanto ela lia e relia e ponderava a respeito da veracidade das informações que recebera a respeito de John Stevens. Seu contato em Mônaco era bastante confiável, tinha de admitir, fora-lhe útil e a ajudou muitas vezes em casos anteriores, mas as pistas fornecidas por ele durante os dois últimos meses não a levaram a lugar nenhum. Blair já estava começando a ficar puta da vida.

        A cartada da vez era que John estaria residindo em Mônaco há dois anos com o nome falso de Harvey-Johan Michelson. Permanecia tão milionário quanto sempre fora, porque a sua maior fortuna não se concentrava nos Estados Unidos, como muitos investigadores acreditavam, mas em várias partes do mundo, nos chamados "paraísos fiscais". Milhões. E nunca com o mesmo nome. Em cada lugar, sua identificação era diferente. Na Suíça, Humberto Losdwig. Luxemburgo, Marco Alehan. Mônaco, o atual nome. Ilhas Cayman, Pablo Hernández. Irlanda, Cruise Dawson. Hong Kong, Amido Legale. Ele diversificou sua fortuna. E em seus passaportes e identidades, para não ser reconhecido, John vez ou outra alterava sua aparência. E quanto as digitais constantes nas identificações, ele alterava para que a sua verdadeira digital não coincidisse com as demais.

        O Stevens já foi loiro dos olhos castanhos, de óculos. Já usou dreads. Seguiu por meses um estilo diferente do que as pessoas o conheciam, com roupas mais largas e uma maneira de viver a vida mais reclusa. Já foi careca, mas muito barbudo, justificativa para usar o tempo todo bonés e chapéus maiores. Já se passou por um homem mais idoso, fazendo uso de um pouco de maquiagem e muita encenação, além de ter de pintar os cabelos de branco. E, atualmente, segundo a fonte de Blair, ele estava com os cabelos longos, na altura do ombro, e utilizava uma barba cheia. Tudo para, aparentemente, esconder seu rosto. Usava óculos de grau falsos e vivia um estilo de vida simples, longe do glamour e suntuosidade antes tão familiar, a fim de não chamar atenção.

       E tudo isso Blair soube lendo o documento agora perante seus olhos. Parecia uma vida fantasiosa demais para ser real. O cara tinha de ser um louco muito do inteligente para ser capaz de fazer tudo aquilo e conseguir se manter ileso e escondido por tanto tempo! Era uma história digna de filmes e a Wesley já estava cansada demais e frustrada demais e desgostosa demais das furadas dos últimos meses para levar fé em tais informações. Mas se manteve lendo e lendo e lendo o documento a fim de sua mente se cansar e se convencer de que o melhor era acreditar no conto escrito, para o bem de todos. E pelo bem de sua sanidade.

       Gusto Arendoles era o seu contato e ele lhe enviara o informativo fazia uma semana e meia, mas ela postergou a leitura por uns dias devido às constantes furadas. Não queria se deparar com falsas pistas outra vez. Mas algo dentro de si a estimulou, numa noite em que fora abraçada pela insônia uma vez mais, a dar uma olhada no documento e, desde então, sua cabeça ficou matutando e matutando a probabilidade que aquelas palavras tinham de ser verdades. Pensou em ignorar o documento e seguir sua vida resolvendo outros casos, qual sempre fizera, mas o medo de estar deixando John escapar mais uma vez a deixou possessa.

          Sábado a noite, às 19h. Edifício Playcenton. Era lá que o Stevens estaria. Roger e Lena Hasparg, casados, eram dois grandes cientistas da atualidade e dariam uma palestra há muito esperada sobre Inflação Cósmica e Buracos Negros no edifício mencionado. John sempre foi um apaixonado por Física e pelo Espaço, não era por acaso que April e ele sempre amaram assistir Star Wars, portanto era impossível que perdesse um evento como aquele.
  
         Gusto confidenciou a Blair que descobriu todas essas preciosidades logo quando John contou vantagem durante uma partida de Poker a respeito de alguns de seus feitos mais recentes, depois de seis ou sete garrafas de cerveja barata: que ele conseguiu despistar a Interpol, a CIA e o FBI mais uma vez sem levantar nenhuma suspeita.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Where stories live. Discover now