A embarcação

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       Assistindo à fúria sobre rodas acontecer praticamente diante de seus olhos, Sterling e April, completamente chocadas e descrentes, se deixaram levar pelo barco motorizado rumo a sabe-se lá onde enquanto Blair e os outros três veículos desapareciam de suas vistas em alta velocidade. A mais nova sentiu o coração se apertar dentro do peito, desesperada por não saber o que poderia acontecer com a irmã, e sua mente se ocupou com uma oração silenciosa para que tudo ficasse bem. Suplicou para que Deus a protegesse por onde quer que fosse, porque somente Ele tinha o poder de cuidar dela, especialmente naquele momento. Depositou ali toda a sua fé, mas não pôde evitar o seu nervosismo. Tal sentimento apreensivo ficou bastante explícito no balançar inquieto de suas pernas e no seu olhar distante, preocupado. Vez ou outra esfregava o rosto. Quis chorar.

         O barco foi colocado na direção automática pela Stevens, porque só tinha uma direção a ser seguida a partir dali: a próxima costa, que ficava a uns onze quilômetros de distância. E elas se sentaram nos bancos acolchoados, mas velhos, frente a frente.

— Ei. — num murmuro baixo, April tentou chamar a atenção. — Ei, olha pra mim. — pediu, o tom delicado e a voz, sutilmente embargada. A loira, então, o fez, lentamente ergueu a cabeça para olhá-la nos olhos. — Vai dar tudo certo, tá bom? Blair é boa, com certeza vai conseguir. Fica tranquila.

       Apesar de tudo dentro de si estar em um colapso desastroso; apesar de estar num caos completo; por mais que seu estado emocional estivesse em cheque, destruído, caindo aos pedaços, ainda assim tentou animar Sterl. Ainda assim fez questão de tentar ser otimista para que a menina não definhasse em apreensão. Fez-se presente. E essa atitude sua, de se colocar à disposição da garota que amava no momento em que ela mais precisava, mesmo que não conseguisse acudir nem a si própria direito, fez com que Sterling percebesse de fato o quanto tinha agido feito uma estúpida antes ao deixá-la seguir sozinha. Foi um tapa em sua cara, embora nem um pouco intencional. A Wesley se deu conta, portanto, de que o amor talvez fosse aquilo: estar. Estar no bom e no mau momento, aceitar todo o combo, com defeito e tudo, e se doar. Doar-se, apesar de não haver muito a ser doado.

       Segurando uma das mãos de April em agradecimento, admirando-a com o olhar por ser tão forte, beijou-lhe o dorso num gesto carinhoso antes de trazê-la para mais perto de si num abraço, confortando a ambas. Sterl se lembrou da vez que disse a ela, numa discussão que tiveram depois de a Stevens ter escrito o poema Se eu Pudesse: "meu coração não te escolheu por ser perfeita. Ele te aceitou e aceitou cada detalhe seu, mesmo com todas as negativas". E era sobre isso. O amor era sobre isso, só que ela própria se esqueceu de colocá-lo à prova. Palavras não significavam nada, se só ditas; tinham de estar em congruência com as ações. Tinha de estar e não parecer estar. Sterling entendeu o cerne da questão. E, tendo-o em evidência, soube como começar a agir se quisesse fazer diferente.

       Aquele pequeno gesto de apoio mútuo foi o bastante para abastecer o tanque vazio das duas. Foi o combustível necessário para que pudessem deixar as questões emocionais anestesiadas, por ora, a fim de se concentrarem no que mais importava a partir dali. Respiraram fundo. April, com a cabeça deitada no ombro de Sterl, fechou os olhos. Estes ardiam por conta do choro intenso de antes. A loira iria fazer o mesmo, mas o peso da caixa de madeira em seu colo fez com que focasse sua atenção ao que tinha dentro. Cuidadosa para não se mexer muito a fim de não incomodar April, começou a revirar os objetos e seu olhar fisgou as fotografias. Segurou-as, então, intrigada. A Stevens, interessada no porquê dos movimentos, imediatamente voltou a abrir os olhos e, tão curiosa quanto, sentou-se melhor no banco para conferir também.

        A primeira fotografia era a foto de algumas caixas de tamanho médio com fitas K7 dentro e, no exterior, o nome e a idade das vítimas escrito com caneta piloto preta: Lauren Septer, 17; Agatha Olsen, 23; Melina Burjac, 23; Rose Jeanings, 25; Lena Cavalieri, 19; Sabrina Kirken, 18; e Louise Meisner, 15. E estas eram somente umas dentre muitas outras que a câmera não capturou. A incredulidade e o desamparo voltaram a se expressar na fisionomia das duas adolescentes, em April ainda mais, porque se espantou com a idade e o sobrenome da última garota. Meisner. Meisner, qual Adele Meisner. Era só uma coincidência ou tinha alguma coisa a ver???

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Where stories live. Discover now