Caça ao tesouro

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— Querido, você está bem? — oferecendo um guardanapo ao marido, Krista o encarou com preocupação. Um vinco se formara ao meio de suas sobrancelhas.

              Diante do cenário, da incompreensão da sra. Stevens com a reação abrupta de John, ficou bastante claro para Blair que a mulher não estava entendendo o que se passava, como se a existência/paradeiro de sua sogra fosse um segredo que desconhecia. Ou ela era uma excelente atriz e fez parecer que não havia nada de errado. Entre as duas alternativas, a Wesley ficou em cima do muro, mas quase pendendo para a segunda opção ao ponderar sobre o quão estranho soava o fato de um cônjuge não conhecer a família do próprio parceiro.

              Só que era de John que estavam falando. Dele, ninguém poderia duvidar de nada e esta certeza se confirmava a cada minuto. Era bem provável que ele tenha escondido a mãe por todo aquele tempo dos filhos e da esposa, porque talvez a senhora soubesse de algo comprometedor. Matar ele não iria, se não já teria o feito. Ou, quiçá, tenha um motivo muito bom para não tê-lo feito.

              Era de estremecer até a espinha pensar que poderiam estar diante de um homem capaz de tirar a vida de alguém do próprio sangue para benefício próprio.

              Blair mordeu os lábios com ansiedade e sua perna direita começou a balançar embaixo da mesa, impaciente.

              A verdade era que toda aquela história tinha uma profundidade muito maior do que era sabido.

— Estou sim, meu bem. — ele respondeu Krista com doçura e pegou o guardanapo das mãos dela, limpando a si e a sujeira que fizera. — Desculpa, pessoal. Hoje estou com a cabeça nas nuvens, totalmente desastrado.

              Um sorriso sem dentes desenhou seu rosto.

— Preciso ir ao banheiro. — informou Blair de repente.

— Preciso fazer uma ligação. — disse John ao mesmo tempo que a adolescente, para a surpresa de ambos.

               Eles se encararam imediatamente, desconfiados um do outro, mas os presentes na mesa riram um pouco com a coincidência, exceto Alex e Sterling, que perceberam a aridez no olhar trocado entre os dois.

— Com licença, vai levar só alguns minutos. É uma ligação realmente importante. — justificou-se enquanto arrastava com certa pressa a cadeira para trás e se colocava de pé, o celular já em mãos. Sem muita demora, abandonou o cômodo.

              Blair não perdeu tempo, é claro.

— April, se importa de me acompanhar até o banheiro? — a pergunta repentina fizera a menina franzir o cenho, confusa. — É que a sua casa é muito grande e eu estou com receio de me perder. Além disso, não lembro bem onde fica.

              Era bem certo de que sabia, sim, onde ficava. E a mansão não era lá do tamanho do universo para que pudesse se perder da maneira que descrevera. Tudo não passava de uma desculpa esfarrapada. Obviamente não iria andar por aquela residência sozinha quando tinha um John estarrecido à solta. Não era boba. Precisava falar ao telefone com Bowser para contar a descoberta, mas não poderia fazê-lo na frente dos pais, então o melhor lugar era o banheiro.

              Poderia chamar a Sterling. Sim, poderia. Mas, sem querer ofender a irmã, estar com ela seria o mesmo que estar com ninguém, tendo em vista que o homem estava com raiva das duas e seria um prato cheio tê-las juntas e sozinhas. Tudo bem que ele não tentaria nada drástico por estar em casa e com gente por perto, mas para causar um estrago psicológico não era preciso muito, apenas o mexer de uma boca proferindo palavras coesas e bem articuladas para soar como uma ameaça.

               April, no fim das contas, era a melhor opção, até porque pedir ao Alex para ir ao banheiro consigo seria, no mínimo, muito estranho e Ayla era só uma pirralha inconveniente. Ademais, a Stevens era a querida do pai, então ele não se atreveria a tentar alguma graça contra Blair na frente da filha mais velha.

             Sterling encarou a irmã com um grande ponto de interrogação desenhado na testa, depois seus olhos deslizaram pelos olhos de April, que a fitou de volta exatamente com a mesma expressão, e em seguida as duas voltaram a olhar para Blair.

              Estava tudo muito confuso.

— Ainda bem que disse. Estou querendo ir ao banheiro também, vou com vocês. — comentou Sterling com um risinho forçado para disfarçar sua expressão.

             As três se levantaram quase ao mesmo tempo, com o olhar de desconfiança de Ayla e de preocupação de Debbie por achar que elas estavam prestes a aprontar as acompanhando até que saíssem do cômodo.

              Blair foi andando na frente, apressada e bem norteada, como se já soubesse o caminho de cor e salteado.

— Ué, mas ela não me disse que não lembrava onde ficava o banheiro? — April sussurrou, intrigada. Sterling contraiu os ombros, demostrando que não sabia o que responder.

              A jovem tinha ânsia por passar a informação logo para frente. Não duvidava de que a ligação que John disse que faria era para falar sobre Margaret e temia que ele a mudasse de asilo, de estado, de região ou fizesse algo pior, como queima de arquivo.

             Quando entraram no banheiro, April foi quem fechou a porta por detrás de si. Cruzou os braços sobre o peito e pendeu a cabeça sutilmente para o lado, descrente, um vinco ao meio de sua testa, ao ver Blair sacar o celular e começar a digitar. Sterling tinha as mãos sobre a cintura e a encarava com curiosidade.
              
— Sério que você só me trouxe aqui para mexer nesse celular escondida? — a indignação presente na voz da Stevens era perceptível. Blair nem sequer olhou pra ela quando respondeu:

— É, é. Obrigada, inclusive. Muito gentil da sua parte.

               O deboche implícito naquele comentário deixara April ligeiramente incomodada, estarrecida. Seus olhos encontraram os de Sterling, que riu um pouco de sua fisionomia séria, mas logo ergueu as mãos em rendição para dizer que não tinha nada a ver com aquilo.

— Por que simplesmente não veio sozinha? — April quis saber, ainda não acreditando que fora feita de trouxa.

— Porque a sua casa me dá medo e porque o seu pai é um tarado.

                Retrucou sem dó nem piedade, pouco se importando se isso ofenderia a Stevens ou não. Sterling arregalou os olhos com a resposta, surpresa. Essa era uma das últimas coisas que achou que a irmã diria. April torceu a boca, engolindo o argumento que devolveria, porque sabia que não tinha como defender o indefensável.

— E porque gosto da sua presença. Você é maravilhosa. — caçoou para quebrar o gelo. — Sterling quem o diga.

               E imediatamente a mais nova sentiu vontade de esconder a cara corada dentro de um buraco.

               Ah, qual é!

              April não conseguiu sustentar a cara fechada e acabou rindo.

— Para de graça, sua idiota! E fala logo o que você está fazendo aí nesse celular. — Sterling achou sua forma de sair da encruzilhada.

              Blair finalmente ergueu os olhos e um sorriso lateral acompanhou o movimento.

— Fazer o que a gente sabe fazer de melhor, maninha: caçar tesouros.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Where stories live. Discover now