Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)

Cúmplices

                Dois encontros não-encontros aconteciam naquela noite de sexta, eventos totalmente distintos, mas conectados pelas semelhanças. Uma delas, a principal, era que uma das partes de ambos os "casais" teve de sair de casa às escondidas para encontrar seu respectivo parceiro. Motivos pessoais movidos pelas circunstâncias. Outra, importante mencionar também, era que os irmãos mais velhos dessas partes foram elementos essenciais para que essa fuga desse certo.

               E tudo estava indo às mil maravilhas, como era o esperado. Risadas. Conversas. E as amizades estavam sendo fortalecidas, com a expectativa de se transformarem em algo mais. Pelo menos foi o que os companheiros das partes acreditaram. Mas tudo começou a ruir no instante em que os caminhos dos casais se cruzaram...

Algumas horas antes

             Na escola, entre um intervalo e outro e durante as aulas, April continuou evitando Sterling o máximo que pôde e esta, ciente da necessidade do afastamento, não fez nenhuma tentativa de se aproximar também, embora tenha pensado em algumas maneiras de se chegar sem estar precisamente perto. Porém foi sensata e deixou para lá. Por mais que a sua afobação e o seu desespero lhe dissessem para fazer o contrário, seguiu o conselho de seu juízo e se manteve longe.

             Tinha considerado escrever uma mensagem num papel e pedir a Blair para entregá-la, mas não se arriscou, dado que não tinha lá um bom histórico com bilhetes, embora tenha aprendido a lição: jamais se identifique se a mensagem for comprometedora. Cogitara, também, fingir que tinha dúvidas em matemática só para ter um pretexto para puxar conversa, mas o Ezequiel e a Hannah B. estavam sempre por perto. Quando não eles, o Luke, que andava atrás dela para cima e para baixo como uma sombra.

           Sorrisos. Olhares cúmplices. Os dois pareciam um verdadeiro casal, se visto de fora. Diante deste cenário catastrófico para o seu coração, Sterling desistiu. Desistiu da ideia de tentar voltar com a garota. Percebeu, enquanto assistia às cenas de April com Luke, que não valia a pena insistir.

           Talvez fosse um sinal, até. E a loura o tomou como um sinal, na verdade. O sinal que tanto pedira aos céus. Uma luz para que soubesse por qual direção trilhar, já que estava perdida e era inexperiente. Refletindo sobre isso, deu-se conta de que o melhor a ser feito naquele instante era deixar tudo como estava: cada qual em seu canto, sem contato. April para um lado e ela para outro.

            Portanto, depois de tomar uma dose de ousadia, avançou pela estrada escolhida: a estrada do "seguir em frente".

            Por mais que doesse em seu coração e não soasse nem um pouco inteligente aos seus ouvidos, foi corajosa o bastante para decidir não depositar mais nenhuma energia em seu relacionamento com April para fazer dar certo. O amor podia até ser paciente, mas não era de ferro. E ela não era de ferro, também. Não aguentaria toda a barra sozinha enquanto a assistia se divertir com outrem. Independentemente do que aquilo entre eles significasse, não conseguia agir friamente e fingir que não se afetava, colocando de lado os seus próprios sentimentos para lidar com a agonia da separação. Estava se cansando demais ao sempre dar de cara com a parede.

            Compreendia o porquê dela, não era insensível a tal ponto, mas também não podia ficar se colocando em segundo plano. April teria o tempo que precisasse para agir, para decidir o que faria, para se conectar consigo mesma e para nortear os próprios caminhos. Teria o tempo que precisasse para descobrir o que queria e quem seria. Se optaria por se revelar antes de atingir a maior idade ou se não. Sterling daria a ela espaço. Todo o espaço do mundo. Daria a ela o que quisesse, só não daria mais a sua espera.