Cassiopeia

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        O barco motorizado Stevens seguiu sua trajetória o mais depressa possível logo após o encontro inusitado, para que não houvesse chances do oficial mudar de ideia e voltar para dizer-lhes que contataria John. Foi muita sorte das duas a desculpa ter colado, porque o segundo-tenente James não parecia ser o tipo de pessoa que cedia com muita facilidade. Estava mais para um profissional ranzinza e frustrado. As aparências podiam enganar bastante, pelo visto. Mas, cá entre nós, as garotas também mereciam alguns créditos por terem moldado tão bem a história a ponto de torná-la aparentemente verídica. Não fosse pela ideia ousada de Sterling e pela atuação muito boa de ambas, provavelmente não conseguiriam sair ilesas da encruzilhada.

        E o momento, que tinha tudo para ser estressante, acabou servindo como descontração diante da situação complicada a qual elas estavam inseridas.

        A fisionomia antes soturna e cabisbaixa de April assumiu alguns traços de divertimento conforme Sterling, para quebrar o gelo e animá-la um pouco, forçou a voz e fechou a cara para poder imitar o oficial.

Só não quero vocês duas navegando por aqui depois das 22h, caso contrário serei obrigado a relatar. — caçoou ela ao repetir a frase dita pelo homem. Estamos entendidos?

         As duas caíram no riso, e ficou bem claro o quão felizes estavam por tudo ter dado tão certo.

Você é tão idiota.

— Talvez um pouco... —  entrando na pilha, teve de concordar. A zombação se fez presente e brincou em seus lábios. — Uma idiota carismática e muito bonita, né?

         April, tendo-a ao seu lado, deu-lhe uma cotovelada no braço, boquiaberta com o narcisismo escancarado.

— Além de idiota, ainda é convencida ao extremo. Meu Deus, tenho piedade!

         E riram uma vez mais, com o eco do riso frouxo deslizando no ar junto à brisa lânguida. Parecia uma agradável dança sonora, música para os ouvidos. Sabe aquela sensação boa de paz momentânea? Aquela que aquece o coração, mesmo que por alguns míseros milésimos? Foi assim que se sentiram. Sterl suspirou profundamente.

         O silêncio voltou a mergulhar no infinito instante, com apenas o som de seus corações e o do motor do barco para quebrar a plena quietude, e elas olharam para cima, para o céu noturno todo estrelado. Havia muita beleza lá em cima, especialmente quando notaram que a valsa estelar (metáfora para o cintilar constante e harmonioso dos astros) ficava muito mais natural quando longe das luzes da cidade. De bônus, elas ainda tiveram como acompanhantes a calmaria e a solidão características do lago. O vento fresco do cair da noite bagunçava o cabelo das duas, apesar das muitas tentativas de colocá-los para trás das orelhas.

— Eu queria saber identificar as constelações. — confessou Sterl de repente, seus olhos analisando o céu com certa curiosidade. — Mas meu cérebro não consegue formar nenhuma imagem coerente. Como é que alguém consegue enxergar algum Urso aí? Sério, não faz sentido.

         April achou graça. A indignação da Wesley fazia referência às constelações Ursa Maior e Ursa Menor, que de urso realmente não tinha nada. Era compreensível que não entendesse.

— É só conectar os pontos.

— Pontos??? Que pontos???

— As próprias estrelas. — com toda a serenidade, a capitã dos debates respondeu.

— Como?? — quis saber Sterl, interessada demais e curiosa demais, especialmente porque a Stevens estava inclinada a lhe explicar mais sobre.

         Varrendo a vastidão universal diante de seus olhos, April buscou atentamente um conjunto estelar no céu dentre tantas estrelas para poder usar como exemplo. O olhar voltado para o alto lhe dava um sentimento bom de liberdade. Tudo parecia novo e poético. Era como se as luzes distantes que assistia brilhar pudessem conduzi-la por onde quer que fosse. E conduziram, de fato. Encontrou uma constelação naquela imensidão infindável. Logo, apontou para a direção do tal conjunto.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Where stories live. Discover now