Alex?

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                Era fim de tarde de um domingo. April estava deitada de barriga para cima em sua cama, os fones no ouvido e o coração quebrado em mil pedaços. Escutava toda a playlist que montara junto a Sterling só para sofrer um pouco mais no silêncio de seu quarto, e a música da vez era nada mais nada menos que Easy, da Camila Cabello: uma provocação silenciosa aos seus sentimentos, porque a letra tinha um toque especial da história delas, também, querendo ou não. E doía.

              Tal como é cantado, percebeu que talvez fosse mesmo uma pessoa muito complicada e indecisa, muito difícil de amar, mas a Sterling tornou tudo isso muito fácil. Ela sabia bem como remar o barco, ainda que toda desastrada e emocionada, às vezes. Não era capaz de negar que sentia muito a falta de tê-la por perto, de mandar mensagem com emojis bonitinhos ou passar algumas horas no FaceTime jogando conversa fora, quando não no mesmo ambiente. Sentia falta das coisas simples, como receber uma foto dela de cara amassada com um "bom dia" acompanhado de um arco-íris ou uma dela sorrindo com a boca cheia de cereal. Por mais que parecesse nojento, achava fofo. Respondia sempre com uma foto sua mostrando a língua, fazendo careta ou mandando beijo. Bem piegas mesmo, mas era isso que trazia ainda mais brilho ao relacionamento. E sentiu falta, também, do nervosismo e do frio na barriga só de pensar, durante as noites, em encontrá-la no dia seguinte. Agora, tudo o que conseguia sentir era pavor e tristeza, porque não estava pronta para assistir a dor no rosto de Sterling quando a encontrasse na escola.

              Realmente se assumiria naquela noite, por mais que não se sentisse nem um pouco segura e confortável com a situação. Tinha receio, mas o faria, nem que fosse um gesto discretamente sutil. É claro que também não curtia a ideia de viver um romance às escondidas, embora considerasse prazeroso, pois significava que tinha de disfarçar quando às claras. Depois de um tempo, o segredo se torna cansativo e perigoso. Bom mesmo é poder amar livremente, sem medo dos julgamentos, e ela queria viver isso mais do que tudo, especialmente porque Sterling era a sua primeira: a primeira que beijara, a primeira que tocara, a primeira que a fez se sentir bem consigo mesma e a primeira pela qual estava disposta a lutar. Disposta a tentar, mesmo com todas as negativas ao redor. Mas aí John voltou e arrancou de si toda aquela confiança, fortaleza e esperança. Quebrou toda a beleza adolescente que havia dentro de si, desestabilizando-a emocionalmente, destruindo o belo castelo de areia como uma onda forte. Ele voltou e se materializou em sua frente vestindo seu uniforme usual, porém bem mais requintado: a opressão sutil, a intolerância maquiada e uma autoconfiança forjada no ódio da batalha, o que não significava algo bom. April nunca se sentira tão amedrontada antes quanto se sentiu ao vê-lo bem a sua frente depois de tantos meses. E foi aí que todo o seu conto de fadas virou um pesadelo.

               Impossibilitada de mandar mensagem para a Sterling a fim de explicar a situação e afastá-la por um tempo, agiu da pior maneira possível, machucando e magoando os sentimentos da garota de quem gostava por sentir medo (e o medo pode ser bastante cruel quando você o tem como inimigo). Desejou ter sido mais corajosa ao ponto de não ter usado o Luke como arma para ferir, mas sim de ter chamado Sterling num canto e ter sido transparente, porque ela merecia saber o porquê de sua mudança brusca de atitude. Merecia a sua honestidade, e não aquela situação desastrosamente desonrosa no acantonamento. Todavia, foi tudo o que o desespero corrosivo dentro de si foi capaz de oferecer. Ela lamentava demasiadamente o término, porque não queria que houvesse um ponto final, mas até que seu pai fosse seu pai, teria de conviver consigo mesma no fundo do armário por mais tempo.

              Havia lágrimas em seus olhos, reflexo do grito eloquente de sua alma, e elas começaram a cair sem piedade por seu rosto de repente, umedecendo a região do colchão sob a sua cabeça. Slow Burn agora tocava, tão envolvente e delicada quanto uma brisa fresca, harmônica, mas extremamente dilacerante para quem pusera nela algum significado e lembranças de um passado bom que não voltaria mais. Era a música do carro no estacionamento, a trilha sonora da troca de carinho mais íntima que elas já tiveram. Mas também do momento mais triste, porque foi colocando para tocar essa canção no acantonamento que Sterling foi embora. A coincidência dos dois extremos era sufocante.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Where stories live. Discover now