Sterling, você é minha filha

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             As sirenes estridentes dos carros da polícia soavam ao longe, talvez a algumas quadras dali e, conforme se aproximavam do local, iam ficando cada vez mais altas. Mas, naquele momento, o único som que Sterling foi capaz de escutar com clareza foi o de seu próprio coração batendo extremamente acelerado contra os seus ouvidos após a revelação de sua tia. De sua... Mãe. Ela estava em choque demais para poder pensar direito. Em choque demais para acreditar naquelas palavras, porque não pareciam verdadeiras, não pareciam coesas.

           Sentiu lágrimas escorrerem de seus olhos quando Blair segurou a sua mão, os dedos finos entrelaçando-se aos seus, numa promessa silenciosa de que ela sempre estaria ali, independentemente do que fosse.

          "Sterling, você é a minha filha", a voz de Dana ecoava em sua mente repetidamente, como uma praga, enquanto seus olhos encaravam os dela. A descrença em sua própria fisionomia era evidente.

– Lamento. – leu os lábios da mulher, porque a voz saiu num sussurro inaudível.

          Debbie, por sua vez, estava devastada. Não era dessa maneira que ela gostaria que a noite acabasse. Primeiro porque nunca teve a intenção de um dia contar para as filhas sobre o assunto, justamente para poupá-las de toda aquela situação desastrosamente complexa. Estava tudo muito bem do jeito que estava, obrigada! Que diferença faria, afinal, Sterling saber que não era sua filha biológica? Isso nunca foi importante, de qualquer maneira. O amor que sentia por aquela garota como mãe ia além de qualquer coisa e ninguém jamais mudaria esse sentimento. Por mais que entendesse que sua irmã só queria dizer a verdade, ela não tinha o direito! Não tinha!

         Inferno! Por que as coisas tinham de se complicar tanto e tão depressa?

         Alternando o olhar entre suas filhas, sentiu faltar-lhe ar ao presenciar o sofrimento estampado no rosto das duas. Quis chorar verdadeiramente, pôr para fora toda aquela tristeza se formando dentro de seu ser. E sentiu culpa. Muita culpa. Culpa por ter mentido durante tantos anos, maquiando a realidade com um pó facial comprado na esquina, como se ele fosse durar para sempre. Na busca por proteger as meninas de todos os males, acabou por machucá-las devido às consequências dos erros cometidos e mantidos do passado. Se ao menos tivesse a oportunidade de voltar atrás... Por Deus!

– Eu-... – tentou argumentar, mas não tinha o que dizer, não havia uma palavra certa o bastante para servir de consolo, então suas palavras morreram no caminho.

– Sr. Bowser? – Anderson chamou de repente pelo Caçador, que direcionou-lhe a atenção prontamente. – Se importaria de levar as meninas para a casa? Ficaremos aqui até a polícia chegar.

         Por sorte, o Sr. Wesley, embora tão desolado quanto qualquer um, foi sensato ao ponto de pensar que era melhor as meninas irem para casa a terem de assistir à gêmea da mãe ir para a cadeia. Bowser acenou com a cabeça, em confirmação, e Anderson lhe ofereceu um meio sorriso em agradecimento.

– Vamos lá, meninas, venham. – ele fez uso de sua voz paternal para guiá-las em direção ao seu carro e elas o acompanharam sem contestar.

         O caminho para casa fora um mórbido silêncio, ninguém ousou puxar conversa e, francamente, fora melhor assim: cada qual preso aos seus próprios pensamentos, livres para pensarem ou xingarem quem quisessem. E Blair fazia isso. Ah, se fazia! Praguejava a tia por todas as merdas que ela causou e praguejava os pais por terem sido tão omissos em relação àquilo tudo. Que grande merda, sinceramente!

         Seus braços envolviam o corpo da Sterl com carinho e cuidado, protegendo-a, que tremia levemente devido ao choro. Deveria ser um pecado alguém fazê-la sofrer! Um crime! Um crime digno de uma pena bem recheada e dolorosa. Que se danasse o que aquela megera ridícula dissera, não aceitaria! Sterling era sua irmã e nada a faria mudar de ideia! Para o inferno esse lance de prima! Para o inferno essa coisa toda de mães diferentes! Não aceitaria e pronto! Ninguém jamais seria capaz de entender o que elas tinham: a conexão, o amor, a cumplicidade. Sabe por que não? Porque era coisa de gêmea! E elas eram gêmeas, sim, independentemente do que dissessem! Eram gêmeas de alma e eram gêmeas de vida. Para o inferno aquela revelação!

         Bowser, todavia, durante toda a viagem de volta desejou ardentemente saber o que dizer para amenizar o sentimento ruim que elas sentiam. Ele nunca as viu daquela maneira, nem em seus piores momentos. Eram sempre tão sorridentes e felizes. Sempre tão inconvenientes e brincalhonas. Raras eram as vezes em que não tinham uma pérola na ponta da língua para soltar ou um sorriso largo que chegava aos olhos. Vê-las da maneira como estavam quebrava o seu coração, e olha que ele acreditou por um tempo não ter mais um.

         Observando-as pelo retrovisor, lamentou que elas tivessem descoberto o tal segredo da família da maneira como descobriram. Mas, mais ainda, lamentou por Sterling ter passado pela terrível experiência de ter sido ameaçada, sequestrada e amordaçada por aqueles dois loucos, ainda mais quando um deles era um parente tão próximo. Cristo! Traumatizante demais para uma adolescente digerir de uma vez só! E cruel, também.

         Suspirou fundo, em pesar.

         Mas pôde enxergar algo de bom naquele cenário ao analisá-lo com um olhar mais atento: o amor que elas tinham uma pela outra. Honestamente era inexplicável a maneira como elas se cuidavam e como se conectavam. Ele nunca entendeu muito bem qual era a ideia dos olhares demorados que elas trocavam entre si de vez em quando, como se pudessem se entender apenas por meio deles. Das vezes em que questionou sobre, recebeu como argumento apenas um "coisa de gêmea, Bowie", até que cansou de perguntar e deixou para lá. Porém, refletindo sobre isso, deu-se conta de que talvez fosse coisa de gêmea mesmo. Ainda que elas não fossem gêmeas biologicamente falando, existia algo de transcendente naquela relação, por mais estranho que parecesse. Não é por acaso que as duas sempre se deram muito bem, mesmo em seus momentos de atrito e desentendimento. Ele se sentiu feliz por elas terem uma a outra. Verdadeiramente feliz por terem com quem contar.

         E foi emergindo desse pensamento que ele percebeu que já estava na rua da mansão Wesley, finalmente. Girou o volante para entrar no caminho até a garagem da casa e estacionou, logo descendo do carro. As meninas o acompanharam e ele as ajudou a entrar em casa.

         Sterling se apressou para subir as escadas e ir para o quarto; Blair, porém, ficou ali para fazer companhia ao Bowser.

– Muito obrigada por ter vindo. – ela disse, sua voz ainda chorosa, os olhos molhados. – Nada disso teria dado certo se não fosse por você.

– A qualquer hora, parceira. A qualquer hora. Pode contar comigo.

         E ele a puxou para um abraço apertado, demonstrando-lhe o quanto se importava e que realmente sentia muito por toda a bagunçada daquela noite. Um gesto simples e gentil que significou mais que mil palavras. 













heeeeey! Então, a ideia dessa fic foi justamente dar continuidade à primeira temporada da série e buscar responder as perguntas que ficaram sem respostas. 

minha irmã e eu nos indignamos com o cancelamento de tbh pela netflix e, num debate casualmente aleatório sobre como gostaríamos que a segunda temporada fosse, acabamos dando vida a esse bebê.  

espero que gostem!! bjinhos

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Onde histórias criam vida. Descubra agora