Domingo

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            Muitas perguntas. Muitas perguntas dançavam pela mente curiosa de Blair, que se viu perdida em pensamentos desde a conversa com Bowser no dia anterior. Já no carro a caminho da mansão dos Stevens, arquitetava um plano para entrar no escritório de John a fim de caçar pistas, qualquer coisa que pudesse ajudá-la a descobrir as nuances do passado do homem. Tinha de achar uma forma de o fazer.

            Quanto a Sterling, esta ainda não sabia de nada, a irmã não compartilhou a informação, mas pretendia. A única coisa adiantada foi que aquela família tinha um histórico tão sujo quanto se era possível imaginar e que havia um segredo a ser desvendado, por isso precisaria realmente da cooperação da mais nova para dar um passo adiante na investigação, fosse para ganhar tempo distraindo os Stevens, fosse para dar a ela cobertura. Usar April para atingir o objetivo estava totalmente fora de cogitação, Sterling deixou bem claro antes de Blair considerar perguntar. Mas ela não faria isso, de qualquer maneira.

             Aliás, falando na busca, Bowser dera a ela um celular para que se comunicassem e a fez prometer que seria apenas para este fim, já que não queria se meter no castigo ditado pelos Wesley. Somente para emergências, me entendeu?, dissera ele e ela acenou com a cabeça positivamente.

              Orientada pelo homem, tomaria cuidado para não pôr tudo a perder. Cautela. Cautela foi a palavra que ele mais utilizou. Enquanto isso, ele contaria com a ajuda de Terrence para se infiltrar no sistema do computador de John quando ela conseguisse chegar até o objeto e, também, no sistema de segurança com o intuito de apagar as filmagens de Blair vasculhando a casa a procura de pistas.

              No entanto, metade do caminho seria encurtado se ela tivesse conversado com Sterling e perguntado com interesse como tinha sido o dia no asilo. Preocupando-se em ouvir, certamente teria descoberto que a irmã teve a oportunidade de conhecer a mãe de John e, portanto, aberto uma porta para uma possível solução daquele mistério todo, com Margaret sendo a chave. Mas, não, preferiu se perder nos próprios pensamentos. E a informação, que era preciosa demais para ser guardada, manteve-se em sigilo por ausência de comunicação.

— Só para relembrar: sejam educadas. Não queremos ter o desprazer de passar de novo por uma cena semelhante a que Sterling nos fez passar naquele dia na igreja. — orientou Anderson assim que estacionou defronte à mansão, virando-se para o banco de trás. — Este almoço será importante para nós e eu preciso da ajuda de vocês. Comportem-se!

              Sterling foi à frente, sendo seguida pela irmã e pelos pais. Suas mãos tremiam. Mordiscou os lábios nervosamente a cada passo que dava em direção à porta de entrada, porque significava estar no mesmo ambiente que John Stevens. Não, mais que isso: no mesmo lugar que April. Como olharia para ela depois do que presenciou na sexta? O que diria quando ela perguntasse sobre a Alicia? Onde estaria a coragem para confessar que cansara de esperar e, portanto, a ideia mais sensata que lhe ocorreu fora tentar com outras pessoas? Não tinha como fugir, de qualquer maneira, então teria de aprender rápido a lidar com os próprios problemas.

              Mas era muito complicado.

              Comportem-se!, dissera Anderson, mas para ele era fácil falar. Experimente estar prestes a deparar-se com o homem que está carregado de um desejo de vingança por você tê-lo entregado à polícia e, também, diante da garota por quem você está apaixonada, mas há muitos conflitos acontecendo ao mesmo tempo que impedem de vocês ficarem juntas. Experimente estar nessa posição e tente agir normalmente. Veja se você consegue manter a boa conduta. Provavelmente se perceberá falhando miseravelmente.

               Quando o dedo da mais nova tocou a campainha e o som melódico ressoou, um suspiro pesado escapou pelos lábios dela. Seu coração batia forte contra a caixa torácica, mas ela conseguiu controlar bem a respiração.

                Uma voz não identificada dentro da casa. Passos. E a porta foi aberta tão logo quanto o esperado, revelando justamente a imagem de April, que gelou no lugar por um segundo. Elas se encararam. Olhares intensos mergulhados um no outro, faiscando um misto de sentimentos naquele curto espaço de tempo. Sterling foi capaz de esboçar um pequeno sorriso para se mostrar agradável, mesmo que estivesse encabulada, mesmo que tudo dentro de si estivesse colapsando.

— Olá. — ela cumprimentou, quase num sussurro.

— Olá, Sterling. — Stevens disse de volta momentos mais tarde, e o nome da dita cuja em seu paladar soara amargo. — Como vai?

                 Só que antes de responder, deu-se conta da resposta para o questionamento que matutou em sua cabeça por horas no dia anterior. Lembrou-se do porquê de Margaret parecer tão familiar aos seus olhos, como se já a tivesse visto em algum lugar: ela lembrava muito a April. O desenho do nariz da mulher era muito semelhante ao da garota, assim como os olhos. Até a cor! E havia duas pequenas marcas de nascença que percebeu no lado direito do pescoço da senhora assim como a Stevens tinha.

               Era só uma coincidência ou será que havia algo que não sabia ainda? Não tinha como ser a avó de April... Tinha??
                 
— Uh... Bem. — respondeu à pergunta que ficou no ar por alguns segundos. — Eu vou bem, obrigada.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Where stories live. Discover now