Vamos?

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              John encontrava-se exultante. Blair e Sterling, nervosas, a última ainda mais. Enxergavam claramente o sinal vermelho de "perigo, afaste-se!" pairando sobre a cabeça dele, cuja aura negativa era forte. Reuniram-se na sala de estar e tudo ao redor, a Wesley mais velha percebeu, estava milimetricamente em seu devido lugar. Nada destoante. E essa ausência de erro deixou claro que o cenário fora forjado para parecer estar sempre em perfeita ordem, quando naturalmente isso não aconteceria, a menos que ninguém estivesse morando ali há meses. Debbie era exatamente assim também.

                Aliás, falando nela, Krista fez questão de puxar conversa quase imediatamente, envolvendo-as num assunto sobre moda que se estendeu para fofocas sobre celebridades e, mais tarde, sobre bons vinhos e melhores adereços para enfeitar a casa. Frivolidades. O sr. Stevens, é claro, não perdeu tempo também, mas foi sutil, inteligente, não mencionando logo de cara negócios. Quis se achegar vagarosamente. Perguntou ao Anderson, então, a respeito do placar do jogo de beisebol do dia anterior, justificando o fato de não ter assistido com uma explicação plausível: era seu aniversário de casamento, então saíra com a esposa para jantar.

                 Blair, por sua vez, examinou todo o cômodo com discrição. Olhar atento às minúcias, arisca. Mas não havia nada de mais por ali além de porta retratos com fotografias da família e flores, quadros a óleo, pequenos suvenires, essas coisas. Alex fingiu prestar atenção na conversa dos adultos, mas estava tão alheio quanto Ayla, por exemplo, que tinha acabado de descer. Fora a última a ficar pronta e sua presença alimentou outro tipo de conversa, como o fato de os filhos crescerem rápido e ficarem ainda mais bonitos conforme vão envelhecendo. Sterling travava uma batalha mental e estava perdida em pensamentos, com April estrelando quase todos eles. Quanto a ela... Bom. Ela tentou imitar o irmão e parecer concentrada no assunto em questão, mas a situação em si e toda a inquietação que trazia consigo não a deixara sossegada, então sua perna ficou chacoalhando involuntariamente.

                 Onde é que estava toda aquela paz de espírito gerada pelas práticas de Yoga? Boa pergunta! Nem ela mesma sabia. Deve ter engolido, provavelmente, junto ao cheiro doce que exalava dos cabelos de Sterling. Devido à pouca distância, foi inevitável não inalá-lo.

                 Mas a pior coisa era não saber o que fazer diante do olhar acusatório de sua irmã mais nova. Ayla não escondia o sorriso maldoso nos lábios, como se estivesse só esperando April dar um deslize para se aproveitar da oportunidade de dedurá-la. Um olhar sugestivamente apaixonado para a loira e esse seria o seu fim. Não que fosse o fazer, obviamente, até porque estava chateada e também porque tinha senso. Porém teria de ter cuidado para não jogar a si mesma na armadilha do leão.

                 Alex, por sorte, capturando o caos antes que ele viesse a acontecer, interveio. Uma de suas melhores qualidades era essa: saber exatamente quando entrar em campo para jogar e quando sair.

— Que tal se formos conhecer a casa? Conversa de adulto é bem entendiante, às vezes. — ele sorriu, agradável, colocando-se de pé. — E o almoço vai demorar um pouco.

               Os olhares joviais voltaram-se para ele quase no mesmo instante e a proposta repentina foi bem aceita, por Blair principalmente, que só faltou lhe dar um abraço pelo convite. Viu no "passeio" uma oportunidade de desbravar o ambiente e dar início a sua investigação. Ayla, por sua vez, ainda que estivesse fazendo de tudo para não sair da cola de sua irmã, considerou entediante a desculpa de fazer a boa anfitriã e mostrar a casa, então preferiu ficar na sala mesmo, porque assim poderia chamar positivamente a atenção dos outros para si e ganhar alguns pontos com o pai.

               Os adolescentes, por conseguinte, seguiram caminho. Primeiro pelo andar de baixo, que não tinha muito a se ver além do básico: a cozinha, que era imensa e apropriadamente requintada, com leves toques rústicos; a biblioteca, que ostentava duas estantes enormes com livros diversos, desde os mais clássicos aos lançamentos mais recentes; o banheiro social, que era bem simples, mas, se visto por olhos mais humildes, certamente seria considerado luxuoso; a sala de estar, e esta ostentava um belo lustre acima do centro da mesa, que já estava toda arrumada com talheres, pratos e taças; e o porão, o qual, para fechar, era lar de uma bela adega de vinhos.

— Uau! — Blair sussurrou, impressionada.

                Alex ia à frente como guia; April, à retaguarda. Logo, as Wesley estavam no meio de ambos, amparadas pelos dois. Subiram as escadas para o andar de cima, as vozes dos adultos e suas risadas ecoando pela casa, e eis que houve a brilhante ideia do Stevens de se separarem. Sua justificativa foi que, dividindo-se, maior área poderia ser coberta. Mas claramente era uma desculpa esfarrapada, porque não havia muito a se ver ali também além dos quartos, do sótão, do escritório de John e da sala de jogos. Sua intenção, de verdade, era entender o porquê de Blair olhar tudo ao redor como se estivesse procurando alguma coisa valiosa. Ficara curioso. Ademais, queria que sua irmã tivesse tempo para se acertar com Sterling, porque sabia que elas precisavam de um momento a sós para conversar, fosse o que fosse. O quarto de April a alguns metros de distância, o tempo disponível e a ocasião perfeita fizeram-se para elas. Por que não deixá-las aproveitar?

— Blair vem comigo e Sterling vai com você. — e apontou com o queixo para a irmã, não deixando brecha para protestos. — Vão pela direita que a gente vai pela esquerda. — Alex sugeriu. — Se nos desencontramos, saibam que o almoço está previsto para 12h30. Agora são... — sacudiu o pulso para acertar o relógio a fim de conseguir ver a hora. — São 11h51. Até daqui a pouco.

                E seguiu caminho sem dizer mais nada, com Blair ao seu encalço. Ela estava tão exultante que o sorriso desenhado em sua boca era largo.

                April respirou fundo ao assisti-lo partir, deixando-as para trás. Coçou a testa, nervosa, e voltou-se para Sterling, que a encarou com expectativa. Expectativa do quê nem ela mesma sabia.

— Uh... Vamos? — a Stevens convidou meio que a contragosto, seu tom de voz a denunciou, e só começou a caminhar em direção ao seu quarto quando recebeu um aceno positivo de cabeça.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora