Os preparativos

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           Grama perfeitamente aparada. Lixos recolhidos antes de encherem por completo. Cheiro de lavanda por toda a casa. Objetos muito bem organizados e estrategicamente distribuídos pelos cantos. Vinhos escolhidos a dedo da adega refinada e um cardápio pomposo demais para um simples almoço informal de domingo. Era assim que estavam os preparativos para a chegada dos Wesley: a todo vapor, como se a reputação dos Stevens dependesse da aprovação daqueles. Não que não fosse verdade, se me permite dizer, mas havia muito mais em jogo. A proposta, por exemplo. E John estava inegavelmente ansioso e animado para a parceria que tinha certeza de que sairia do tal encontro.

             Aprumou-se dentro de uma bela camisa social de manga longa branca por baixo de um colete de lã preto, e uma bermuda caqui bege. Nos pés, um mocassim marrom com detalhes em dourado. Tinha os cabelos curtos penteados para o lado e um sorriso radiante nos lábios, qual já era de se imaginar.

             No relógio de parede da sala de estar, batiam 10h40 da manhã ainda, porém quase tudo estava pronto para a recepção. Quem visse de fora, certamente pensaria que os Stevens estavam esperando o Presidente da República ou, quiçá, a Rainha da Inglaterra devido à exuberância e requinte de todo o planejamento. Mas, não. John só exagerou demais nos detalhes mesmo. Compreensível, até. E não estava ruim, se quer saber. Muito pelo contrário.

                Os ânimos dos outros não estavam tão à flor da pele quanto o dele, salvo o de April, que parecia prestes a explodir de tanto nervosismo. Desde a noite de sexta, não foi capaz de domar seus pensamentos para que pensasse em outra coisa além de Sterling e aquela tal de Alicia. Era sempre levada de volta à cena, fosse por causa de uma música ou filme, fosse porque era muito mais conveniente para a sua mente reviver a lembrança a fim de fazê-la sofrer um pouco para que o sentimento de amor se extinguisse de vez. O coração desejou se libertar; o racional queria ter a última palavra, dando xeque-mate no emocional.

               Voltando para a casa na sexta, tudo o que quis foi chorar e chorar e chorar. Mas não podia fazê-lo, justamente porque tinha com quem lidar ainda. Beijo roubado. Desconforto dentro do carro. Uma música ambiente colocada para quebrar o gelo e tranquilizar o clima. Silêncio durante a maior parte da viagem de volta, mas não porque estava com raiva de Luke. Não, não era isso, embora estivesse desconcertada. E sim porque estava perdida demais em seus próprios pensamentos para considerar alimentar alguma conversa além daquela que estava tendo consigo mesma: Sterling tinha seguido em frente, afinal, e não havia nada que pudesse fazer para mudar essa realidade. Na verdade, existia, sim, porém não estava preparada para fazê-lo. Por isso doía. Doía dentro de seu ser. Entretanto, teve de aceitar, fosse por bem, fosse por mal. O problema era que não admitia perder o jogo tão facilmente, mesmo que praticamente todos os seus jogadores estivessem com cartão vermelho.

               Começara a pensar em soluções desde então. Entretanto, é importante frisar que ela não destruiria relacionamento nenhum, também não tinha a pretensão de fazê-lo. Diferentemente de como sempre agira antes, isto é, utilizando-se de meios sujos para vencer, procuraria consertar as coisas dignamente. Ou tentaria, pelo menos.

               Quanto ao Alex, este encontrava-se na biblioteca lendo. Com uma caneca de café sobre uma mesinha ao lado de sua poltrona, ele investia tempo mergulhado nas palavras do segundo livro de Jogos Vorazes fazia mais de uma hora. Era o seu momento de paz e um refúgio da agitação de sua família, especialmente naquela manhã, que havia muito ainda a ser feito para agradar aqueles com quem eles nem se importavam só para passar uma boa impressão. Consertar a merda que John mesmo criou e fingir que a prisão fora só um contratempo dentro de sua vida perfeitamente bem desenhada. Alex desistira de tentar entender.

               Ayla, entretanto, estava na piscina. A chuva incessante dos últimos dias finalmente se esvaiu e quem ficou responsável por assumir seu posto fora o céu azul, o qual se vestiu vagarosamente com um clima ameno e agradável. A temperatura, daquela vez, encontrava-se por volta dos 26°C e tinha a tendência a subir um pouco mais, todavia nada exuberante.

               Já April esteve ajudando Krista com os detalhes há horas: arranjo de flores sobre alguns lugares, como bancadas e mesinhas, para enfeitar; os brinquedos dos cachorros, os quais comumente ficavam espalhados no chão da casa, colocados para o quintal; os pós sobre os inúmeros porta-retrato foram retirados, também. Além disso, elas guardaram o excesso de louça e fizeram a mesa, por fim: puseram uma toalha toda refinada e chique sobre ela e, por cima, organizaram os talheres, os pratos e taças, e os guardanapos. Estava pronto.

              Portanto, esperaram.

              Primeiro foram tomar um banho para se arrumarem antes da chegada dos convidados, e então ficariam sentados na sala no aguardo para recebê-los. John, até aquele momento, era o único pronto. Logo depois, fora Krista. Então, Alex. E quando April estava descendo as escadas para se juntar aos pais e ao irmão, a campainha tocou. Seu coração saltou da boca de nervosismo e ela travou no meio dos degraus.

— Querida, atende a porta, por favor? — fora a mãe quem pedira ao escutá-la se aproximar. Não sabia se era Ayla ou April, mas sabia que só podia ser uma das duas.

                 A mais velha respirou fundo.

— Estou indo.

                 E ela foi mesmo, mas a passos extremamente curtos e lentos, como se temesse o que encontraria do outro lado. Suas mãos tremiam. Só de pensar que a família da garota e a garota por quem estava apaixonada estavam ali, tudo dentro de si entrou em combustão.

               O que faria? O que falaria? Como reagiria diante deles? Não sabia. Não sabia como lidaria com a presença de Sterling depois de tudo nem tampouco com o fato de Blair saber de seus segredos mais íntimos, qual a ideia de ela ser gay. Parecia exposição demais e sua alma encontrava-se nua. Estava vulnerável demais para o próprio bem. Que Deus a ajudasse!

               Seus dedos tocaram a maçaneta e ponderaram por uns segundos antes de girá-la, abrindo-a completamente e, com ela, revelando a imagem dos Wesley. April segurou a respiração quando os seus olhos depararam-se com os olhos verdes posicionados bem a sua frente. Lindos olhos verdes! Droga de olhos verdes! E um sorriso casto desenhou os lábios da dona. Recatado, desconcertado, envergonhado, educado, mas ainda assim um pequeno sorriso bonito. Fora ela o primeiro contato e April não conseguiu chegar a um consenso consigo mesma, porém, se deveria ficar feliz ou não com isso.

— Olá. — a garota cumprimentou, quase num sussurro. Dentro de si, o nervosismo também batia muito forte, mas manteve o elã.

— Olá, Sterling. — Stevens disse de volta momentos mais tarde, e o nome da dita cuja em seu paladar soara amargo. — Como vai?

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Where stories live. Discover now