Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)

Não posso te prometer

       Naquela época, há sete anos, quando tudo estava um caos, foi comprovado que Krista nunca tinha se envolvido ou tido conhecimento das muitas merdas que John fazia, então não tinha como ela ser cúmplice de coisa alguma. Diante deste fato, imediatamente foi solta e as supostas acusações de envolvimento sobre ela foram retiradas. Livre, por fim, pôde recuperar a guarda de Ayla e, sabendo que o seu filho Alex logo seguiria jornada, fosse para a faculdade fosse para qualquer outro lugar, claramente não teria condições de cuidar da avó para sempre. Em vista disso, ela achou melhor ter Margaret junto a si.

         Antes Krista não conseguia enxergar, mas agora via que foi uma das melhores decisões que já tomara na vida, porque além de ter tido todo o apoio financeiro, emocional e social, muito de seu sucesso atual como microempresária aconteceu devido a ajuda que tivera dela. Somaram, como uma boa equipe, e puderam criar bem Ayla. A menina nunca precisou tanto de apoio quanto naqueles últimos anos e ter duas grandes figuras femininas dando-lhe suporte e força foi de tamanho benefício. Além disso, os cuidados de Krista e seu amparo familiar durante tantos anos prolongaram muito a expectativa de vida de Margaret, que tinha perdido as esperanças de lutar por sua própria sobrevivência depois de assistir a toda aquela desgraça acontecer. Porém tudo deu certo, no final das contas.

         Em resumo: April tinha ido para Yale, em Connecticut, para cursar Direito. Mais tarde, mudou-se para Nova York; Alex ficou temporariamente em Atlanta com Blair para ajudá-la a caçar recompensas e John Stevens. E este contato entre eles deixou de ser apenas profissional, transformando-se em um relacionamento. Os Caçadores de Recompensas contra o mundo do crime; e Krista, Margaret e Ayla foram para Chicago, vivendo por lá desde então.

        Sabe a Adele? Isso, a Meisner. Então... Ela e April, depois de toda aquela bagunça e confusão na vida de ambas, tornaram-se de fato amigas. Um relacionamento amoroso entre as duas estava fora de cogitação por motivos óbvios: além do fato da Stevens ter começado a focar em seus estudos e tudo o mais, ainda tinha a questão de que ela nunca deixou de amar Sterling. Por isso, foi melhor que ficassem mesmo apenas na amizade. E deu bastante certo, se quer saber.

        Adele também foi para Yale cursar Direito, mas abandonou a faculdade antes de concluir o primeiro período, porque percebeu que a vida universitária não era para si. Sua praia mesmo era música e queria viver disso mais do que tudo, nem que tivesse que fazer show o dia inteiro durante semanas e semanas seguidas para levantar uma grana.

       O trabalho dela inicial, tenho que dizer, foi extremamente árduo e complexo, com vários percalços pelo caminho, mas valeu muito a pena. Adele sabia se virar bem como DJ e, também, era muito boa cantando. O que aconteceu com o seu futuro foi o seguinte: o destino colaborou para que ela pudesse unir as duas habilidades/dons. Anos mais tarde, algumas de suas músicas já estavam entre o top 200 do Spotify.

         Entretanto, preciso contar algo.

         No começo de sua carreira, dentre as idas e vindas da vida, Adele reencontrou uma amiga que não via há anos: Bárbara Reis, uma produtora brasileira que passou uns anos em Dubai. Bárbara e Adele conversaram por horas e horas, e as duas compartilharam suas aspirações e sonhos; medos e frustrações, tal como experiências, até que decidiram, em algum momento do bate papo, formar uma parceria. Seria um teste. Elas levaram semanas. Não, talvez meses para montar o projeto. Queriam que ficasse perfeito, por isso tiveram que usar a mão abençoada de uma terceira pessoa para dar o sabor necessário. Uma outra amiga de Bárbara. E foi durante todo esse processo de criação e modelagem que apareceu uma figura muito importante e que, posteriormente, devido aos seus contatos, seria a peça-chave para colocar Adele nas paradas mundiais. Ninguém mais, ninguém menos que Alicia Farwell. A linda e incrível Alicia, que também seguiu seu sonho como música e fez sucesso.

        April teve notícias recentes: Adele e Alicia iriam se casar.

         Hannah B. ficou na Willingham para dar aula de Religião e, depois que Ellen se aposentou, a menina assumiu o seu lugar. Ezequiel, por sua vez, tornou-se Youtuber. Em seus vídeos, ele falava um pouco sobre tudo, mas seu maior foco era em assuntos polêmicos e relevantes. Ficou relativamente conhecido, de modo a se tornar um Influencer, e fazia dinheiro o suficiente para viver bem por muito tempo.

        Quanto a Sterling, bom... A Sterling...

— Senhorita Wesley? — a secretária chamou pela advogada antes que esta alcançasse o elevador.

        April girou imediatamente a cabeça para olhar por cima de seu ombro e seus cabelos acompanharam o movimento. Voltou-se para Emily.

— Sim?
       
— Posso cancelar todos os seus compromissos de hoje? — quis saber, embora já soubesse a resposta, e a sugestão fez April sorrir um sorriso divertido.

          Emily Valkacie trabalhava com a Stevens há dois anos. Tempo o suficiente para o sentimento de amizade e de cumplicidade ser desenvolvido. Emily era praticamente o braço direito de April. Diante deste cenário, não era novidade que ela soubesse de toda a programação da agenda da advogada, tal como as datas importantes. E aquele dia era uma data importante. Muito importante: comemoração das Bodas de Papel, isto é, Um Ano de casamento.

— Todos. — April ratificou, a animação presente em seu tom de voz. — E, por favor, não me ligue, tá? Estarei muuuuito ocupada...

         A frase pairou no ar como uma nuvem e as estrelinhas ficaram bastante explícitas, especialmente pelo semblante audacioso que desenhou o rosto da advogada, dando a entender que a noite seria interessante. Emily, com o comentário, não pôde conter a gargalhada que irrompeu de sua garganta, ecoando pelo corredor.

— Nem se o prédio estiver pegando fogo? — insistiu, mas apenas para caçoar.

— Se isso acontecer, Emily, está autorizada a ligar, sim. — disse April, resoluta, e sua resposta firme surpreendeu a secretária por um breve instante, porque ela estava esperando que sua chefe dissesse que "não, nem mesmo nesse caso". Foi então que a advogada logo continuou: — Está autorizada a ligar para o bombeiro.

          E as duas caíram no riso.

— Até amanhã, Emily. — April se despediu com um aceno e, em seguida, desta vez com um pouco mais de pressa, continuou a seguir pelo caminho que ia antes.

— Até amanhã! — respondeu, e acrescentou, divertida: — Aproveita, hein! Só não faça nada que eu não faria.

         Por coincidência, as portas do elevador se abriram assim que a Stevens se aproximou e ela rapidamente entrou nele, pressionando logo o botão do térreo. Só teve tempo de dizer mais uma coisa para Emily, o sorriso largo dançando em seus lábios, antes das portas se fecharem diante de si:

— Isso eu já não posso te prometer.