As gravações

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       Tendo-a de costas para si, a loira estudou minuciosamente o caminho que algumas pintas formavam no corpo dela, como se fossem um labirinto pronto para ser desbravado, uma rua sem saída. Discreto e audacioso convite para quem gostaria de se perder naqueles caminhos... Sterl sentiu seu lado aventureiro se atiçar. Respirou fundo, desfazendo-se em ruínas emocionais. Desejou que não fosse tão submissa àquele sentimento, mas era, inegavelmente era, e o problema estava no fato de tê-lo desprezado quando lhe surgiu a oferta de ficar. Agora sofreria com as consequências de suas escolhas e com o fato de não poder chegar perto daquela garota da forma como gostaria... De não poder tocá-la...

       Parecia uma boba olhando-a.

       Desde a noite com a Alicia, sua mente foi tomada por somente um pensamento: sexo, sexo, sexo. Seu corpo estava num frenesi eterno. Tudo parecia tão sensual aos seus olhos que não conseguia evitar. Até o fato de estar numa missão teoricamente perigosa parecia excitante, no mínimo. Deveria se preocupar ou não? Talvez, sim. Provavelmente deveria. Aliás, onde é que estava a velha e inocente Sterling? Porque, naquele momento, estava se sentindo igualzinha a irmã quando no primeiro ato e, por ter testemunhado de perto o mesmo assunto ser repetido mil vezes em seu ouvido, sabia o quão insuportável poderia se tornar se seguisse os mesmos passos.

       Sua cabeça, repousada sobre as mãos cujos cotovelos estavam fincados no mármore, pendia para o lado sutilmente. Apreciava a garota diante de seus olhos.

       Entretanto, sem avisos, repentinamente April virou-se para Sterling com um pacote de macarrão na mão e, como uma câmera fotográfica, capturou o momento exato em que a sua ex a observava com uma atenção um pouco exagerada demais. Preferiu ignorar, fingir que nem tinha percebido. Era melhor para as duas.

— Vou fazer para o almoço isso aqui, senão a gente vai desmaiar de fome. Me ajuda?

       E a Wesley, complementamente envergonhada por ter sido pega no flagra, concordou com a cabeça sem nem pensar duas vezes, quase caindo do banco pelo susto. Provavelmente nem ouviu o que fora dito, mas assentiu porque acreditou que fosse o mais sensato a se fazer. April espremeu os olhos, estudando a personificação do desastre bem a sua frente, e teve de se conter para não perguntar qual era o problema dela.

— Deve ter alho em algum lugar aí, vê se você consegue achar, por favor. Vou precisar que você soque em alguma panela. — instruiu, à medida que ia se ocupando com outra coisa.

— Certo. — disse Sterling, e seus olhos imediatamente começaram a procurar o que lhe fora pedido.

       Depois de lavadas as mãos, as duas começaram a cozinhar. Fizeram milagre com o pouco que tinha e tornaram o demorado, rápido. Prático. Só queriam comer alguma coisa. O trabalho de master chef deixariam para os profissionais...

       Blair surgiu no cômodo minutos mais tarde, quando o macarrão ainda estava em processo de preparação e, depois de jogar uma blusa para cada uma das garotas, balançou a chave presa a um colar como se fosse um troféu. E era, não? Um sorriso extremamente animado brincava em sua boca.

— Olha só o que eu achei. — não estava se gabando, mas parecia, o tom prepotente de sua voz sugeriu. — E eu tenho de dizer uma coisa, hein: que filha horrorosa a de vocês! Achei que eu seria tia de uma boneca mais apresentável, mas ela tá mais para o Chuck que para qualquer outra coisa, Deus me livre! Especialmente agora que tá quase toda queimada. Faz sentido a sua irmã tê-la jogado na lareira, April. Eu faria o mesmo.

       Diante do comentário ofensivo contra a sua boneca favorita, Stevens lhe lançou um olhar fuzilativo.

— Vá pegar logo a caixa para abrirmos, vai. — pediu Sterling, quase a expulsando da cozinha. — Facilita para a gente.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Onde histórias criam vida. Descubra agora