CAPÍTULO 82

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RYAN VENOZA:

De todas as coisas que pensou a respeito de Mari, aquela não passou por sua mente. Ele queria rir da sua ingenuidade. Sim, o mundo não girava em sua volta. Ela sempre deixou claro que tinha assuntos a resolver, ele só não pensou que se tratava de algo tão sério como isso.

Enquanto todos estavam falando a respeito do acontecido, e o baile estava praticamente arruinado, ele a viu se distanciar discretamente e sumir pelas portas dos fundos, então a seguiu. Não sabia para onde ela estava seguindo, mas teve a breve impressão que aquela seria a única oportunidade perfeita para pedir suas sinceras desculpas e talvez, ser pela primeira vez, o honesto que tanto diz ser.

— Mari... Espere... — Segurou seu cotovelo antes que ela continuasse aquela corrida sobre o jardim.

A luz da lua e algumas luminárias espalhadas pelo jardim o permitiam ver os olhos marejados da moça. Antes que ele a perguntasse o motivo óbvio do choro, ela limpou as lágrimas e respirou fundo.

— Não espero que entenda...

— Me desculpe — ele falou a interrompendo. — Há coisas que não preciso entender, não é? — Sorriu prensando os lábios e ela fez o mesmo. — Me perdoe por ter sido um idiota...

— Me desculpe por não ter falado a verdade desde o início, Ryan — falou ela e ele sorriu.

— Se tivesse falando, duvido muito que teríamos nos aproximado — continuou ele mais calmo e Mari sorriu assentindo.

Ryan então engoliu a seco. Ser verdadeiramente honesto era algo mais difícil do que ele imaginava.

— Eu... exigi de você coisas que não podia lhe oferecer — falou por fim e ela piscou. — Eu acreditei que tê-la perto de mim fosse suprir a minha necessidade de ser honesto comigo mesmo. Que com você perto de mim, não pensaria mais nos meus problemas pendentes, e coloquei sobre você o fardo de agir de acordo com minhas expectativas. — Ele engoliu a seco. — Por isso, permita-me ser honesto com você ao menos uma vez... Mari, eu tenho sentimentos por você, mas... eu sei que não é amor. Você é linda, é inteligente e sagaz, e eu gosto muito de tê-la por perto, mas não é amor... Apesar de querer muito que fosse, pois assim não a magoaria, porém eu sei mais do que tudo que preciso resolver-me comigo mesmo antes de dar o próximo passo, ou eu nunca serei feliz ao lado de qualquer pessoa.

Ela o olhou atentamente, então pensou um pouco antes de falar.

— Obrigada pelos elogios — Sorriu. — Então dei-me retribuir amigavelmente, você é lindo, inteligente e muito cativante, Ryan, mas eu não o amo — afirmou e ele piscou confuso. — Tive sentimentos pelo senhor, sim, mas não era amor. Nunca foi amor. Então, não se preocupe, não estou magoada, talvez um pouco aliviada apenas.

— Aliviada é uma palavra um pouco forte, não acha? Machuca um pouco... — falou e ela riu.

— Deixe-me melhorar, então, eu estou talvez um pouco me sentindo menos mal?

— Melhorou, meu ego agradece — Sorriram e ambos suspiraram.

— Então eu acho que deveria conversar com o seu verdadeiro amado, ao invés de fugir — continuou ele. — O homem fez uma confusão e ... me confundiu também...

— E o senhor deveria conversar com a senhorita Lowis, creio que colocar um ponto final nessa história, não acha?

— Sempre rápida com as palavras... — resmungou ele.

— Sempre prepotente — replicou ela sorrindo. — Te desejo sorte, Ryan... E o perdoo. — Ela lhe deu as costas.

— Igualmente, senhorita Momo — retrucou ele sorrindo.

Mari riu levantando a mão lhe acenando sem virar-se para ele e desapareceu indo em direção as carruagens. Ryan respirou fundo levando as mãos ao bolso. Então lembrou-se que esqueceu de lhe dar o documento que Ren havia assinado.

— Você não cansa de me surpreender — sorriu pensando nela. Ela sabia que Ren a amava, e pelo visto, era recíproco, mas mesmo assim decidiu partir. — Coragem ou covardia, Mari? — resmungou antes de voltar para dentro do salão e avistou Sara o olhando atentamente. Agora se preguntava: Coragem ou covardia, Ryan?

Ela estava certa, estava na hora dele por um ponto final no assunto dele com Sara. Não queria sentir raiva dela, estava cansado disso, estava cansado de sentir-se um idiota por ter gostado dela, na realidade, ele no fundo sabia que tinha raiva dela por ter machucado seu ego, por tê-lo rejeitado quando tudo o que ele fez foi amá-la profundamente, como se isso fosse o suficiente para que ela o amasse. Olhando por esse lado, ele pareceu bem egoísta.

Isso não tirava o fato de que ela também o machucou, porém, isso agora não importa mais, depois de tantos anos, finalmente ele poderia dizer que agora isso não doía mais. E pela primeira vez, sentiu-se liberto de si mesmo.



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Nem todas as histórias da nossa vida, são histórias de amor, e sim uma linda história de amadurecimento. Isso não deixa de ser um dos finais felizes da nossa vida, que tem tantos, não é?

Mas Ryan ainda vai nos surpreender. Sabem que eu adoro surpreender vocês :) 

O CONDE QUE EU AMAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora