CAPÍTULO 48

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Eu tive um sonho feliz.

Nele minha irmã ainda estava viva. Assim como Yuna. Nele eu estava bem e me sentia mais completa como nunca estive, a culpa não rodeava minha mente e a tristeza parecia ser algo distante.

- Eu sinto muita saudade sua - Lisa falou se aproximando e me dando um abraço apertado. Lembro muito bem dela ser meio magra e com ossos pontudos, mas sempre foi pequena feito um caroço de azeitona. Sorri ao me lembrar desse apelido que ela recebera da mamãe.

- Eu sinto muita, muita saudade sua, Lisa! - A abracei de volta com o peito apertado e o choro preso na garganta, fazia tanto tempo que eu não a olhava. Lisa acariciou meu rosto delicadamente e tocou sua testa com a minha, coisa que adorava quando faziam.

- Não tenha medo, Mari. Dentro de um fio de cabelo seu tem mais coragem do que você imagina ter no corpo inteiro. - Ela enxugou minhas lágrimas. - Vai ficar tudo bem, eu estou aqui...

Ela então começou a desaparecer aos poucos e eu me senti um tanto desesperada.

- Me leva, Lisa! - pedi. - Por favor! Me leva com você!

Ela não me respondeu e sumiu dando-me um sorriso amplo como sempre fazia.

Puxei o ar com força e abrir meus olhos. Ah, eu ainda estava viva, mas sentia como se tivesse sido pisoteada, meu corpo estava dolorido e minha cabeça latejava.

- Yuna, você está bem? - Ryan perguntou se aproximando da cama, ele me olhava preocupado como sempre fazia. Sorri agradecida por sua presença e notei que estávamos a sós no quarto, no entanto, a porta estava entreaberta. - Beatriz foi apenas conversar com sua tia, mas logo ela estará de volta... Sente algo? Precisa de algo? Que susto você nos deu, sabia?

Sorri, mas me arrependi ao senti uma fisgada na cabeça, então gemi e ele se aproximou.

- Eu estou viva - disse sem muito ânimo na voz.

- Graças a Deus! - Ryan se sentou na beira da cama e segurou minha mão. - Eu fiquei tão preocupado que fosse mais grave...

O olhei fixamente, aquela sensação de ser querida e especial preencheu e aqueceu meu coração. Sorri me sentando com sua ajuda.

- Eu tive um sonho bom, Ryan - falei finalmente, precisava compartilhar com alguém.

- Foi mesmo? E do que se tratou o sonho? - ele me olhou tão atento como uma criança curiosa. Sorri.

- Sonhei com minha irmã, a Lisa - disse e ele piscou ainda atento. - No sonho era parecia bem e feliz..., mas ela desapareceu. - Suspirei. - Devo ter sonhando com isso por que a muito tempo eu tive que deixá-la para trás, eu era uma criança, mas eu a abandonei e sinto como se ... a culpa fosse minha... - Funguei forte enquanto ele ainda me olhava. Ryan pensou um pouco.

- Se fosse ao contrário e você tivesse ficado no lugar dela, guardaria rancor por ela ter lhe abandonado?

- Claro que não, a Lisa merecia sair de lá! - respondi convicta.

- Então por que acha que ela não teria o mesmo sentimento? Creio que ela não guarde rancor de você, você guarda rancor de você. Tudo isso está dentro de sua cabeça, Yuna. Toda essa confusão e insegurança... Eu acredito que a Lisa gostou tanto de ti quanto tu gostaste dela. Imagino que ela lhe via como uma irmã assim como você a vê como uma irmã. Além do mais, que garantia você tem de que ela morreu?

O olhei me sentindo estranha, nunca havia parado pra pensar no que ele me falou, eu sempre imaginei que era culpada e nunca parei para lembrar que Lisa sequer me culpou, na verdade, ela me estimulou a ir com todas as suas forças. Engoli a seco sentindo um pouco de luz entrar em minha alma, mas aquela sensação me deixava aflita, quase como se eu precisasse me culpar para me sentir viva, quase como se tivesse me acostumado tanto a ter a culpa em minhas costas que, se tirasse ela, não saberia ao certo o que fazer.

- Uma vez a minha avó me disse algo. - Ele sorriu lembrando-se com carinho. - Que nessa vida, a maior batalha que vamos travar é conosco mesmo. E ela tinha razão. Sabe por que?

- Por que? - perguntei atenta.

- Por que nenhum sentimento entra em nosso coração e nenhum pensamento tormenta nossa mente se não permitirmos previamente. - Ele me olhava tão firme que cada palavra daquela pareceu ter sido cravada em meu coração. Fiquei sem saber o que dizer. - Tenha coragem de abandonar esse sentimento de culpa, se a Lisa lhe amava muito, tenho certeza que ela desejava que aproveitasse cada segundo de sua vida sendo você mesma.

Abri a boca para lhe agradecer, mas Ren entrou no quarto me olhando com preocupação.

- Mari, você está bem? Não sente nada?! - Se aproximou e começou a olhar minha cabeça cuidadosamente.

- Eu me sinto melhor... - falei estranhando seu comportamento, agia quase como se eu fosse realmente sua irmã, nunca o vi fazer isso. Então pisquei nervosa, ele me chamou de Mari ou foi coisa da minha cabeça?

- Irei deixar vocês a sós, espero que não se esqueça do que conversamos, Yuna. - Ryan se levantou e saiu do quarto. Ren o observou desconfiado e então olhou para mim.

- Do que estavam falando? - perguntou se aproximando.

- Contei sobre minha irmã, sem falar necessariamente sobre minha irmã.

- Sua irmã? O que contou sobre ela? - Suspirei, eu nunca havia falado sobre isso com ele, me impressiona ter conseguido guardar tudo isso por tanto tempo, era que nunca em minha vida o foco havia sido eu. Na casa dos Wamura, eu estava sempre tão focada em servi-los que não parei para pensar nos meus problemas, não queria pensar neles, não queria aborrecê-los com mais uma história trágica, sendo que ele já sofreu tanto... - Você nunca me contou a respeito de sua irmã ou sua família, o que aconteceu com ela?

- Do que adianta saber mais a meu respeito? - resmunguei cruzando os braços. - Vai usar isso contra mim de qualquer forma...

Ren mordeu o lábio inferior e se sentou na beira da cama olhando-me com cautela.

- Eu não farei isso, eu nunca fiz isso...

- Você sabia que eu era uma órfã, e desconfiou de mim e da minha palavra e das minhas atitudes só pelo fato de não ter família.

Ren piscou coçando a testa pensativo. Então vi o ferimento em suas mãos, meu primeiro impulso foi querer pegá-la e ver o que havia acontecido, ou lhe perguntar onde ele o havia machucado desta forma, mas algo dentro de mim estava revolto.

- Eu... fui um idiota, certo? - admitiu olhando fixamente. - Me desculpe, por favor. - Respirou fundo e eu pisquei me sentindo mais amolecida, mas não queria demonstrar. Cocei o nariz desviando o olhar para a janela. Ren prensou os lábios um tanto desconfortável pelo silêncio. - Você poderia me perdoar? - Fiquei em silêncio por mais alguns segundos e ele voltou a falar. - Talvez você esteja certa, eu ... - Ele pensou um pouco. - Na verdade, você está certa, eu fui muito covarde..., mas me conte a sua história sem ocultar fatos, afinal eu sei quem é você... - falou mais baixo, para evitar que ninguém nos escutasse, então sorriu de forma compreensiva. O observei desconfiada, isso nunca tinha acontecido, será que só por que me machuquei que ele ficou tão manso como está agora? Fiz um bico.

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Alguém ta preocupadinho?
Como prometidooooo

2 capítulos saídos do forninho

O CONDE QUE EU AMAVAWhere stories live. Discover now