CAPÍTULO 40

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— Eu não posso fazer isso... — repeti sem saber o que fazer, se chorava ou tremia, se corria, se desmaiava, mas quando Selena me segurou com força pelo braço a olhei com os olhos arregalados.

— Faça o que estou lhe ordenando, ou contarei que matou minha sobrinha para tomar-lhe o lugar, não vai ser difícil de acreditarem, principalmente vindo de alguém tão suja como você.

Fiquei em choque, então ela saiu do quarto batendo a porta com força, permaneci assim mesmo depois de Beatriz entrar no quarto.

— Senhorita Wamura? — perguntou Beatriz e eu soltei o ar misturado com um gemido de choro, me sentia perdida. Eu não matei Yuna, e por que eu era suja? Por que fui abandonada? Por que as ações dos outros tem sempre definindo meu destino?

Caí de joelhos tentando entender o porquê de tudo aquilo estar acontecendo. E quando mais eu me deparava que não havia ninguém que pudesse confiar, mais desesperador ficava. Yuna não podia estar morta, podia?

Me lembrei de Lisa. Por que todas as pessoas que me aproximo acabam por morrer? Por que?

— Calma senhorita... — Beatriz me abraçou forte, mas eu não retribuí, me sentia machucada e queria apenas me esconder, sumir, morrer. Enquanto isso, as palavras venenosas de Selena adentravam a minha carne e me deixava ainda mais fraca. Aos poucos, ia esquecendo de quem eu era e imaginava que era como ela dizia, uma inútil. Será que realmente isso era tudo o que eu sempre fui?

Tentei dormir, mas sempre que fechava meus olhos, tinha pesadelos com o corpo em decomposição de Yuna achado na margem de um rio, ou com meu pai, ou com um monstro devorador de almas querendo matar-me. Então aflita, saí do quarto e resolvi pegar um pouco de ar do lado de fora da mansão, mas assim que cheguei lá notei que foi uma má ideia, pois vi Ren se aproximando de mim.

Ele logo fechou a cara e aumentou o passo, e antes que pudesse dar meia volta o rapaz segurou-me pelo cotovelo.

— Vamos conversar — disse tão frio e sério que não o reconheci. Meu coração se apertou, minha nossa! Ren perdeu mais alguém que ele amava! Como pude deixar que isso acontecesse?! Como!?

Nós andamos em silêncio um pouco mais para dentro do jardim e o vi abrir e fechar a boca várias vezes. Sua expressão era de dor misturada com raiva.

— Por que não me falou sobre esse plano? — perguntou depois de alguns segundos. — Se você é incapaz de dizer não, eu o faria.

— Não sou incapaz de dizer não, eu apenas queria ajudá-la.

— Minha nossa, você é muito mais ingénua do que imaginei. — Ele parou e me olhou de frente. — Por sua causa a Yuna não está mais viva, consegue ver o que você fez? Você é mais velha que ela, sabia dos riscos, pois já viveu no mundo a fora, mas a colocou em risco... Se tivesse ao menos dito não ou me contado, nada disso teria acontecido. — Sua voz falhou misturado com choro e rancor.

Desviei o olhar para o chão sentindo aquelas pontadas no peito. Era inevitável não me sentir culpada. Se eu tivesse dito não como pensei desde o princípio, nada disso teria acontecido, nada... Yuna não teria morrido e ele não teria tamanha perda, mas eu novamente... agi de forma imprudente, sem pensar... Por que sou assim?!

— Me desculpe... — foi a única coisa que consegui dizer.

— Você acha que isso é suficiente? Uma pessoa não é como um objeto quebrado que pode ser comprado, eu perdi a minha...irmã... — Ele fungou levando as mãos a cintura, seus olhos estavam vermelhos, mas nenhuma lágrima desceu, imagino que ele já tenha chorado o suficiente. — Você não faz ideia do que eu estou sentindo agora e me vem com desculpas?!

— O que você quer que eu faça?! — briguei me sentindo nervosa. Não queria ouvir mais nada, eu estava cansada de tanto ser julgada, apunhalada ou criticada. Estava mais que farta e isso estava me matando.

Ren piscou surpreso pela minha pergunta, então franziu o cenho como se fosse doloroso falar sobre isso.

— Não quero nada de você — lambeu o lábio e olhou para cima para conter o choro. — O que eu iria querer com a pessoa que traiu a minha confiança? — perguntou a si mesmo, então piscou fitando o chão e saiu a passos decididos para dentro de casa.

— É muita crueldade sua dizer isso... — resmunguei e ele parou, então me olhou por cima dos ombros. Eu chorava, mas o olhava com raiva, misturada com culpa, com dor... — Depois de tudo o que fez, eu traí sua confiança?

Ren abriu a boca, mas eu o interrompi.

— Você que traiu a minha e me julgou sem que soubesse a verdade, me abandonou como se não fosse absolutamente nada... — Fechei os olhos com força. — Está me cobrando algo que na verdade... não é exatamente minha culpa já que eu nunca passei de uma empregada para você... — Me aproximei e ele cerrou o punho. — Não foi o que disse? Que eu era apenas uma empregada? Creio que tudo o que uma empregada faz é obedecer a seus senhores, e se você não se lembra, eu fui contratada para obedecer somente a Yuna, não devo satisfação a você, tudo o que fiz para ti, conde Wamura, não passou de bondade minha, caridade... Então não me cobre como se eu fosse algo mais que uma empregada — grunhi olhando fixamente. Ren mordeu o lábio inferior e desviou o olhar.

— Já que é assim, você deveria cuidar de sua ama..., mas nem isso foi capaz de fazer — ele retrucou, mas sua voz falhou, parecia magoado.

— E você, como irmão, e sucesso da família, deveria ter a confiança e cuidar de sua irmã, mas nem isso foi capaz de fazer, ao invés disso entregou esse papel a outra pessoa. — Saí de perto dele e andei a passos rápidos em direção a mansão.

Eu queria gritar, queria correr e deixar tudo para trás. Ah meu Deus, se eu pudesse voltar no tempo... Eu não sou uma assassina, tudo o que eu queria era ajudar... resmunguei para mim mesma sentindo minhas pernas enfraquecerem. Se eu tivesse morrido no lugar de Lisa, nada disso estaria acontecendo.

Assim que passei pela porta da mansão, caí sentada sentindo meu corpo desfalecer. Lisa costumava dizer que eu era forte, que eu suportaria todas as coisas, mas eu não sei se consigo. Eu não sei se consigo suportar isso! Lisa... Por favor... Eu não sei...

Não tenho pessoas que me amem, não tenho casa, não tenho família, eu não tenho nada a não ser minha vida. Se eu morresse nesse segundo, quem choraria por mim? Quem iria a meu enterro? Quem me levaria flores? Tive a oportunidade de sair para uma vida diferente, mas meu fim seria exatamente como os de minhas irmãs, solitários. Por que é isso que eu nasci para ser...

— Ninguém, eu estou sozinha... — resmungava quando uma mão gelada tocou minhas costas fazendo-me levantar rapidamente a cabeça e olhar aqueles olhos conhecidos.

— Você está bem? — Núbia perguntou visivelmente preocupada. Pisquei surpresa, então limpei as lágrimas com o dorso da mão. — Consegue se levantar? — assenti e ela me ajudou a levantar. — Yuna... Sei que tem algo que te aflige imensamente, mas lembre-se que eu estou aqui, tudo bem? — falou encarando-me e eu assenti me sentindo uma pessoa horrível, meu nome não era Yuna, era Mari.

Esse nome não me pertencia, era como se eu tivesse simplesmente desaparecido, é como se a Mari tivesse sido forçada a morrer, e foi eu mesma quem a matou.

Antes que pudesse dar um passo, senti meu corpo enfraquecer e tudo escureceu. Apaguei.



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Isso Mari! Dale nele! Bate nele! 

O CONDE QUE EU AMAVAWhere stories live. Discover now