CAPÍTULO 35

424 81 29
                                    


Acordei mais cedo do que o combinado, na realidade, mal tinha conseguido dormir pensando na possibilidade de passar o dia inteiro ao lado do conde Venoza. Aquele homem estava mexendo comigo de uma forma que nunca sequer imaginei. Eu realmente estava desenvolvendo sentimentos pelo conde?

Só de imaginar a separação e que talvez nunca mais o veria, me deixava triste e com um embrulho no estômago. Me lembrei das coisas que ele falava, da sensação de tê-lo tão perto de mim e do fato dele deixar bem claro que deseja beijar-me. Engoli a seco andando de um lado para o outro em meu quarto. Ryan tem sentimentos por mim? Céus, aquele homem maravilhoso sente atração por mim?! Parecia chocante demais para ser verdade...

— Acordou cedo, senhorita — comentou Beatriz se levantando. — Está nervosa?

Suspirei. Me sentia mais irritada do que nervosa. Muitas coisas se passavam em minha mente e uma delas era o simples fato de que eu estava atraída pelo conde Venoza, não precisava beijá-lo para saber, meu coração disparava só por imaginar que irei vê-lo, me sentia feliz e radiante por pensar que estaria ao leu lado e ouvindo sua voz. Me sentei no canto do colchão e respirei fundo. E se eu gostasse do beijo e me apaixonasse de vez? Pare com isso! Quem disse que irá beijá-lo?

Talvez no futuro eu descubra que foi apenas alguma espécie de atração passageira; as cozinheiras da mansão Wamura viviam dizendo que, ao beijar, podia se descobrir se realmente estava apaixonada ou não, mesmo que fosse algo um tanto descortês. Minha esperança era essa, que Ryan tivesse um beijo horrível ou que os lábios não se encaixassem ou que seu bafo fosse semelhante a um defunto.

Fiz uma careta, certamente não gostaria de beijar um defunto, mas sabia que se fosse algo assim, haveria de me desencantar rapidamente e nós dois não sofreríamos. Ryan amava outra mulher, ele apenas não admitia. Ao pensar nisso, meu coração ardeu de uma forma inesperada. Por que no fundo algo me dizia que havia um pouco de apresso por mim, mas me lembrei de Ren, eu pensava o mesmo dele, no entanto estava terrivelmente enganada, não posso me deixar levar pelos meus devaneios, preciso ser mais realista. Isso mesmo, realista.

— Não vai se vestir? — perguntou Beatriz já pronta enquanto eu estava perdida em meus pensamentos.

— Ah sim, irei. Hoje será um dia memorável — afirmei decidida a beijá-lo e acabar de uma vez por todas com minhas dúvidas.

Ryan estava sonolento e aparentemente cansado. Visivelmente teve uma noite terrível de sono, me pergunto o porquê.

— Não gostou do colchão? — perguntei e ele piscou enquanto a carruagem seguia para o litoral. O rapaz estava com o queixo apoiado na mão e me olhou de canto de olho um tanto aborrecido, sério, curioso, eu não soube definir exatamente o que se passava em seu olhar, somente que me causou um frio na barriga diferente. — Não gostou do colchão? — voltei a perguntar imaginando que ele não tenha escutado direito.

— Talvez tenha sido isso... — suspirou e voltou a olhar a janela pensativo e um tanto melancólico. Estreitei o olhar o fitando e ele voltou a me observar. — O que foi? — perguntou com a voz cansada.

— Eu que lhe pergunto, o que houve? Parece que dormiu muito mal.

— Não, eu nem sequer dormi — afirmou retesando as costas e cruzou os braços olhando-me daquele jeito que me deixa extremamente desconfortável e nervosa. Desviei o olhar para a janela e o homem suspirou passando as mãos nos cabelos que voltaram para a testa em ondas bonitas e negras.

— Ainda temos um pouco de viagem. — Me levantei e sentei-me ao seu lado o olhando por cima do ombro. — Por que não usa meu ombro como travesseiro? — perguntei, mas me arrependi assim que ele me olhou de forma penetrante e cheio de uma insinuação discreta. Eu sempre fiz isso com Ren, por que Ryan não podia aceitar minha gentileza sem me olhar daquela forma? Meu coração disparou ainda mais rápido e me senti quente e arrepiada, então voltei a olhar para frente. Beatriz nos olhava de forma discreta fingindo estar distraída com a viagem.

— A senhorita é baixa demais — reclamou ele, então pensou um pouco e se aproximou de forma que nossos ombros se encostassem, então segurou meu rosto e fez minha cabeça encostar-se em seu ombro, logo em seguida encostou sua cabeça na minha — agora sim... — falou cruzando os braços e suspirando. Juntei minhas mãos sobre meu colo sentindo-me ansiosa e tensa.

Espero que ele não possa escutar meu coração.

Conforme nos aproximávamos do lugar, mais a carruagem chacoalhava, e em uma dessas, meu corpo pulou de forma que se não fosse por Ryan segurando meus braços, acabaria por me espatifar no chão. Foi interessante a sensação e me causou uma crise de riso um tanto descontrolada. Beatriz se esforçava para não rir, mas foi muito difícil diante da situação e da minha gargalhada. Ryan estava na mesma situação.

— Pulei como uma bola de gude — comentei tentando parar de rir.

— Segure-se direito — pediu ele rindo enquanto me ajeitava ao seu lado. — Em mim se possível, senhorita. — Ryan segurou minha mão entrelaçando meus dedos nos dele. Minha risada tornou-se nervosa. Deveria fingir que era uma coisa natural, certo? Por que estava tão difícil fazer isso?

Quando Ren segurava minha mão, me sentia nervosa, mas era fácil conter-me e parecer natural pois era uma mania que tínhamos desde pequenos, mas com Ryan, parecia que meu corpo ganhava vida própria e eu não sabia ao certo como reagir. Engoli a seco temendo que começasse a suar de nervosismo. A carruagem voltou a chacoalhar e ele passou o braço ao redor da minha cintura segurando-me junto ao seu corpo e com firmeza, me arrepiei de imediato e o olhei surpresa, ele me fitou, agora não parecia mais cansado e estava tão próximo que podia sentir seu hálito... ele tinha cheiro de canela.

— Eu disse para segurar em mim, senhorita... — falou com uma voz mais grave do que o normal.

— Ah... bem, sim... — levei minha mão livre até seu paletó e o agarrei com firmeza. E por mais que estivesse nervosa, com o coração batendo forte ao ponto de poder a qualquer momento sair pela garganta, mesmo que estivesse me sentindo tensa, eu estava adorando esse momento. Aproveitei a oportunidade e sutilmente senti seu peitoral, era firme, aparentemente definido e atraente, mas o que mais chamou-me a atenção foi seu coração batendo rápido. Pisquei surpresa por aquela nova descoberta, ele estava tão nervoso quanto eu?

Então antes que pudesse perguntá-lo, senti se aproximar do meu ouvido.

— Está se aproveitando da situação, senhorita? — perguntou ele com aquela voz sensual, me arrepiei, mas contive-me corajosa e destemida, tão próxima que apenas 5 centímetros de distância faríamos nos beijar.

— Eu não sou a única, não é mesmo? — retruquei confiante de minhas palavras. Afinal sua mão estava fixa em minha cintura.

Então ele sorriu de canto, como costuma fazer quando está achando algo divertido e adorável, e se afastou de mim olhando para a janela.

— Parece que estamos chegando — disse conforme a carruagem ia perdendo o ritmo e parrando. Prestei atenção na paisagem e logo reparei na areia branca e aparentemente fofa. Não muito longe estava o mar.

— Minha nossa... — Me levantei assim que a carruagem parou e fui a primeira a sair. Ventava bem mais do que imaginei e era simplesmente enorme! A água parecia estar tomando conta de todo o mundo! Tirei meus sapatos como ele sugeriu e pisei na areia, era fofa e estava geladinha. Sorria como uma criança ao descobrir algo novo — É maravilhoso! — exclamei andando em direção a água.

— Me espere! — gritou Ryan enquanto estava com dificuldades de tirar os sapatos. Parei e sorri ao vê-lo se desequilibrar e quase cair no chão. Logo ele veio a meu encontro.

— O que está achando? — perguntou animado.

— Incrível! — exclamei feliz. — Simplesmente incrível, Ryan! Olhe este céu!

Vi seus olhos brilharem enquanto ele me analisava e me senti nervosa, feliz e realizada, queria abraçá-lo e agradecer por isso, mas contive-me. Será que seria errado se fizesse?



§~~~~~~§


Rum, te digo nadinha, Mari.

O CONDE QUE EU AMAVAWhere stories live. Discover now