CAPÍTLO 2

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— Não acredito que encontrou uma ideia que considera absurda, logo você, a criadora das ideias absurdas... — comentei ironicamente e ela me olhou segurando o sorriso ao mesmo tempo que fazia um bico adorável. Rimos.

— Desta vez é uma ideia mais absurda que a minha...

— Parece que você puxou a alguém então... — falei, então ela deu de ombros e suspirou voltando-se para a pintura, mas desistiu da ideia e voltou a me observar.

— Acredita que ela quer fazer um casamento arranjado? Tsc — Estalou a língua voltando a pintar. Yuna falava despreocupada, como se fosse um assunto já resolvido, mas sabia que no fundo do seu coração tinha um pouco de preocupação, suas costas estavam tensas, mesmo que ela fingisse muito bem estar tranquila.

Torci o lábio. Se Yuna era teimosa, sua tia era três vezes mais. A mulher era obstinada e decidida. Desde a morte da senhora Wamura, ela tem cuidado deles como se fosse sua mãe, e a situação só se agravou mais ainda quando o senhor Wamura morreu, a 5 anos atrás.

Não gostava dessa mulher, e sei que o sentimento é recíproco. Acredito que ela apenas me mantém nesta casa por respeito ao conde Ren.

— Da mesma forma que quer que Ren se case com a senhorita Martinez — resmunguei e Yuna suspirou visivelmente cansada.

— Não quero escrever cartas a este conde que mal conheço. Minha tia é obstinada, sei que ela vai acabar por marcar um casamento sem meu consentimento. A julgar pela sua forma de agir, já deve estar trocando favores com a família dele a tempos... — Yuna parou o que estava fazendo e me olhou como se esperasse alguma resposta.

— Talvez ele não seja má pessoa — falei e ela sorriu de lado.

— Não me dê a resposta mais fácil apenas para não falarmos no assunto. Não quero me casar — afirmou decidida.

— Sabes que deve se casar, uma dama solteira é uma vergonha para a família... — repeti o que escuto com muita frequência de Selena, tia deles. Eu conhecia o coração de Yuna, mas sabia também que sua vida poderia ser muito difícil se ela não fizesse aquilo que era esperado dela.

— Se me casar, deve ser com quem eu escolher, jamais darei o gostinho a titia de escolher o meu marido...

Torci o lábio novamente e ela revirou os olhos.

— Às vezes, eu odeio essa sua mania — continuou Yuna e eu sorri tensa. Gostaria que Ren fosse um pouco mais teimoso como ela. Ren era tão bondoso e meigo, mas infelizmente era muito influenciável pelas vontades de sua tia. E por isso, ela acaba por fazer o que bem entender. Se Ren fosse mais firme, como herdeiro dos Wamura, ele poderia colocar um basta nisso, mas o homem era um tanto inseguro, apesar de não parecer.

— E que resposta quer de mim? — perguntei e desta vez foi ela quem torceu o lábio. Sorri.

— Escreva cartas a ele em meu lugar... Por enquanto vamos ver até onde isso vai dar, não creio que ele queira realmente se casar comigo, se assim fosse, ele mesmo teria aparecido aqui e feito acontecer.

— Por que não escreve a senhorita mesmo? — indaguei sem entender o que passava em sua mente, e Yuna me olhou fixamente visivelmente contrariada e colocando-me em meu lugar com seu olhar firme e impiedoso. — Desculpe, farei como pediu. — Abaixei a cabeça.

Não gostava quando ela me olhava desta forma, me lembrava que eu não era ninguém importante. E que meus passos só eram dados por que ela os permitia, mas caso ela mudasse de ideia, eu poderia ser simplesmente lançada longe sem um pingo de ressentimento.

Mas não posso julgar Yuna como uma pessoa má. Acredito que este é o jeito dela de se proteger da dor. Nunca conheceu sua mãe e seu pai só soube repreendê-la, assim como sua tia. Ela tem esse jeito duro de ser, mas no fundo do seu olhar, podia ver alguém muito dolorida tentando encontrar seu lugar no mundo.

E isso eu reconhecia bem. Essa vontade de encontrar seu lugar no mundo. Então de repente, meus pensamentos me levaram ao passado e vislumbrei, nas poucas memórias que restaram, o sorriso perfeito da pessoa que mais amei neste mundo. Acho que os olhos de Ren se assemelhavam aos dela quando sorriam, deve ter sido por isso que eu me apaixonei por ele. Suspirei sentindo a saudade apertar no peito. Me perguntava se ela estava bem... Se ela estava viva...

— Duvido muito que esteja. — Fechei os olhos com força enquanto saia do quarto da senhorita Yuna com papel e tinta na mão.

Sim, eu sabia escrever. Ren e Yuna fizeram questão de me ensinar a ler e escrever. Tenho certeza que se Lisa me visse agora, teria muito orgulho de mim... Cerrei meus punhos e nem percebi que amassava o papel.

— Ai, minha nossa! — Estiquei o papel com cuidado descendo as escadas, foi então que meus olhos trocaram com a governanta da casa. Ela estreitou o olhar e eu escondi o papel e a tinta rapidamente atrás do corpo.

— Espero que esteja cuidando de suas tarefas e não apenas vagando por aí, inútil — resmungou ela e eu abaixei o olhar e permaneci calada enquanto a mulher de língua solta passava por mim com aquele seu olhar superior e prepotente. Apesar de me sentir revoltada toda vez que ela me tratava desta forma, descobri que essa era a melhor forma de me livrar de confusão. Não queria dar motivos a Selena para me expulsar daquela mansão onde passei boa parte da minha vida. Eu conhecia aquele lugar como ninguém, e não desejo perder uma casa mais uma vez. Suspirei, mesmo que tivesse razão nas brigas, eu nunca estaria certa de qualquer forma, então tinha que agir como inferior. Já que este era meu lugar.



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Continua...


 Irei colocar 3 capítulo a cada dois dias. Aguardem que vai mais surpresas por ai! Esse é só o começo...

O CONDE QUE EU AMAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora