CAPÍTULO 81

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Louise entrou com o convite em mãos junto conosco como suas acompanhantes. Assim que ela passou pela porta, os olhares foram em sua direção, foi o momento perfeito para que nos separássemos. O único papel de Louise era fazer o que ela fazia de melhor, chamar atenção.

O salão estava cheio, porém era bem espaçoso e tinha bastante comida disposta nas mesas. Senti meu estômago roncar enquanto me dirigia ao piano que havia ali. Os convidados estavam tão distraídos em suas conversas, que não notaram minha presença. Meu único receio era encontrar Selena ou Ren ali, mas ao invés disso, encontrei Ryan.

Ele me olhou de longe e eu gelei. Não queria uma confusão ali, mas ao contrário do que pensei, o homem desviou o olhar e prensou o maxilar. Pisquei e continuei andando em direção ao piano. Assim que cheguei perto, peguei uma taça com um liquido transparente com bolhas e olhei em volta, avistei Selena de conversa com a senhora Lowis no andar de cima. Ambas sorriam. Semicerrei os olhos, não confiava em nada do que essa mulher fazia. E tenho meus motivos para tal.

Meus olhos foram então a outros e senti meu coração disparar no mesmo instante. Ren olhava-me fixamente, e assim que o notei, ele piscou colocando ambas as mãos no bolso e respirou fundo procurando alguém pelo salão. Pelo visto era Yuna.

Eu também estava apenas esperando um comando dela. Fechei meus olhos com força tomando aquele líquido de uma vez. Senti minha garganta arder e fiz uma careta forçando tudo a descer por goela abaixo. Que coisa asquerosa! Olhei a taça e me acalmei um pouco.

Nosso plano tinha tudo para dar certo. Até que Selena olhou-me. Vi seus ombros encolherem-se. Sorri lhe dando um breve aceno com a taça. Me senti irritada, mesmo depois de tudo o que ela me fez, ela age como se fosse a única vítima, como se eu fosse culpada, isso era o que deixava-me mais revoltada.

Finalmente estava na hora. Fechei meus olhos com força respirando fundo. Coragem Mari. Coragem...

Yuna começou a tocar no piano uma musica conhecida, e tudo o que eu precisava fazer era cantar. Mordi o lábio inferior enquanto ela fazia a introdução, a sensação era tensa, mas ao mesmo tempo, eu gostava. Cantar para mim era como se tivesse tirando pesos da alma, então com toda coragem que possuía, fechei os meus olhos e cantei. Não precisava pensar no que estavam falando a meu respeito, se estavam achando bom ou ruim, se estavam julgando-me ou odiando-me, eu não precisava pensar nisso, por que estava pensando apenas em cantar, em fazer algo que me fazia sentir bem, e isso foi libertador.

Abri meus olhos notando que todos me olhavam. Então parei de cantar subitamente e peguei a taça batendo-a com um garfo que peguei na mesa ao lado do piano.

— Gostaria de fazer um brinde — falei e as pessoas se entreolharam sem compreender o que acontecia. Selena arregalou os olhos e começou a descer as escadas. — Mas antes irei apresentar-me... E claro, desculpar-me por essa pequena invasão. Me chamo Mari Momo, a empregada órfã que foi acusada de muitas coisas, todas equívocas.

Conforme falava, notava que algumas pessoas cochichavam maldades a meu respeito. Me senti um pouco temerosa, mas não deveria, aquela era minha história, se eu não a aceitar, quem o faria?

— Posso talvez não significar muito para vocês, mas também tenho sentimentos. O mundo pode não girar ao meu redor, mas os dias nascem e se põem para mim da mesma forma que para vocês. Eu sofro, eu choro, eu me divirto, e eu também sinto raiva, mas por algum motivo, sou muito mais rejeitada que vocês. Talvez por que suas palavras, atos e vidas tem um valor estipulado, enquanto a minha, nada disso tem. Minha palavra não vale absolutamente nada.

— O que estão esperando, essa mulher está acabando com a festa! Tirem ela daqui — Selena falou atiçando os homens que ali estavam.

— Tentei contar a verdade, depois de ser injustamente acusada por coisas que outra pessoa fez, e o que tentaram fazer foi silenciar-me ao invés de acreditar em minhas palavras. Muito mais compreensível uma pessoa como eu ser tão baixa, mentirosa e manipuladora. Por que na cabeça de muitos, nós faríamos tudo isso por dinheiro, que é o que nos falta, que é também aquilo que os fazem sentir superiores. Mas será que são mesmo? Selena, minha senhora, não sou apenas uma mulher louca, como gosta de me fazer parecer, mas quero justiça.

O CONDE QUE EU AMAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora