O CONDE QUE EU AMAVA

CAPÍTULO 46

RYAN VENOZA:

Yuna estava definitivamente estranha. Ryan logo percebeu quando a viu pela manhã. O quer que ela esteja escondendo, estava mexendo demais com sua cabeça. Será que seria certo ele perguntar a sua tia ou talvez para seu irmão a respeito? Ele não sabia. Que segredo era esse? Deveria ser alguma coisa grave para ela guardá-lo com tanto afinco e ele tinha receio do que fosse. Não saberia dizer se seria capaz de aceitar qualquer que fosse o mistério, mas ele tinha o direito de saber, não é? Assim poderia decidir casar-se ou não com a moça.

Ryan se aproximou de Ren com o intuito de tirar alguma coisa dele, o homem de praticamente sua altura e porte um pouco maior estava carrancudo como se alguém tivesse cutucado uma ferida profunda dele.

— Teve uma noite ruim de sono? — perguntou Ryan tentando ser amigável, mesmo que não se sentisse muito confortável na presença daquele Conde.

— Pior do que isso — respondeu Ren lhe lançando um olhar aborrecido, quase como se ele tivesse feito algo errado, então Ren estreitou os olhos e o analisou. — Não entendo... — resmungou para si mesmo.

Ryan viu que não teria abertura com ele, então pensou em algum assunto melhor, qualquer coisa.

— Como é a senhorita vossa irmã em casa? — perguntou e o viu estremecer. Ele piscou achando aquela reação estranha, mas Ren logo se recompôs.

— Por que me faz essa pergunta? — Ele o olhou desconfiado.

Ryan sorriu. Não tinha por que fazer rodeios.

— Desde que você e sua tia chegaram aqui, sinto que ela não tem sido ela mesma, parece estar escondendo algum segredo.

Ren prensou os lábios pensativo, então descruzou os braços e levou ambas as mãos ao bolso o olhando sério.

— Não tem por que desconfiar dela — falou ele voltando-se o horizonte.

— Não desconfio, só sei que tem algo que está escondendo...

— Se isso o incomoda, você está desconfiado dela. — Ren cerrou os punhos e Ryan piscou ficando impaciente. Talvez por que ele não suportava mais ser enganado, talvez por que não tinha certeza que poderia perdoá-la.

— Se não é algo significante, por que não fala? — reclamou ele.

— Isso faria você parar de cortejá-la? — perguntou olhando o horizonte. — Se sim, então se afaste desde então. — Ryan trincou a mandíbula. Ele e Yuna eram parecidos até nisso. Suspirou cansado. Como ele saberia se sim ou se não, se ela não se ninguém lhe falasse? Ren respirou fundo, parecia cansado. — Não desconfie dela, a magoaria — falou por fim.

Ryan não queria pensar nisso, quanto mais inventava motivos, segredos em sua mente, pior ficava. Ele se afastou a procura dela, e então viu a moça sair do bosque acompanhada de Oliver e Sara seu coração acelerou. O que aconteceu ali? Por que ela e Sara estavam andando próximas? Isso o deixava ainda mais incomodado do que imaginou.

Quando se aproximou para conversar com os três, Yuna parecia distante enquanto olhava para lugar algum. Será que Sara havia lhe falado algo? Não tinha o que falar... Pensava ele agoniado. Ele queria poder levar Yuna para um lugar a sós e saber o que se passava em seu coração, queria entender sua mente, queria poder amenizar a sua carga, qualquer que fosse.

Ele não estava ali para julgá-la, e aquela sua aflição o deixava aflito também. Ryan não sabia desde quando começou a se importar tanto com a garota, por que ela não era honesta consigo mesma e com ele? Ele olhou discretamente para Sara, aquela mulher nunca lhe contou a verdade a respeito do que sentia, e isso era ainda mais frustrante do que apenas ser sincera com seus sentimentos, por esse motivo ele passou anos a fio cultivando uma certa esperança pela moça, e na primeira oportunidade que ela teve, correu atrás de outro homem revelando que Ryan foi um verdadeiro trouxa por gostar dela por tanto tempo.

Ele queria sorrir de si mesmo, mas o orgulho ferido falava mais alto e tudo o que ele sentia era raiva de si mesmo. Agora vem esta senhorita que esconde um segredo. No começo, ele não queria que Yuna fosse para lá, mas depois de algumas semanas, pensou que talvez ela pudesse ser a solução para seus problemas e completar o vazio que ele sentia dentro de si mesmo, mas parece que mais uma vez ele estava enganado. Talvez ser sentimental fosse o erro de sua vida, como seus pais viviam afirmando.

— Eu irei atrás do meu irmão, com licença — disse Yuna se afastando. Ele a olhou querendo segui-la. De todos os dias, aquele era o mais estranho, Yuna simplesmente não estava sendo ela mesma, não olhou o céu nenhuma sequer vez desde que chegou ali e isso o deixava preocupado. Será que ela estava planejando ir embora?

Ao pensar nisso sentiu um aperto no peito, estava tão acostumado com sua presença que não conseguia mais pensar nela sem estar ali presente, desde que chegou, ele via Núbia sorrir e se divertir com sua nova amiga...Estava permitindo-se a ter ela ao seu lado, porém desde quando isso se tornou assim?

Ele se lembrou do beijo e a vontade de tê-la em seus braços novamente se tornou forte como de costume, e fazia dias que ele tentava controlá-la. A verdade era que ele tinha sim sentimentos por ela, mas será que podia chamar isso de amor? Era semelhante ao que sentia por Sara, mas um pouco mais maduro talvez, porém doloroso, revolto e magoado.

Desde a primeira vez que viu Yuna, sentiu um rebuliço estranho no estômago como se já pressentisse que a presença dela iria mexer com ele de tal forma que sua vida nunca mais seria a mesma. Então seu olhar foi a Sara, ela piscou sentindo-se nervosa e desviou no mesmo instante ruborizando como pimentão de época. Ele piscou sem entender aquela sua reação, Sara nunca demonstrou nenhuma espécie de sentimentos para com ele a não ser desprezo e agora estava com vergonha? Ele piscou desejando não querer pensar muito nisso, então decidiu sair de lá o mais rápido possível.

— Com licença — disse se afastando e seguindo em direção de Yuna. Ela andava a passos rápidos em direção aos cavalos. Ren a acompanhava com o olhar de longe, estranhando toda aquela situação, nem ele estava agindo de forma comum.

Foi então que um grito surgiu ao longe e Ryan olhou um cavalo vindo descontrolado enquanto o cocheiro de uma carruagem ali perto tentava segurar as rédeas do bicho, mas sem sucesso. O animal vinha desenfreado em direção aos outros cavalos, e Yuna estava no seu caminho.

Ryan estava um pouco longe, o acidente era eminente.

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