CAPÍTULO 58

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Então aquele cheiro característico me alcançou e eu olhei para o céu limpo. Era cheiro de terra molhada, como se estivesse chovendo, mas não estava. Ren acompanhou meu olhar.

Antes que pudéssemos continuar, uma chuva forte se iniciou. Ryan e Ren começaram a guardar as coisas rapidamente.

— Parece que nosso encontro foi interrompido pela chuva — comentou Ryan sorrindo, não parecia tão incomodado com aquilo, quase como estivesse agradecendo aos céus. De fato, ele não se sente confortável perto da senhorita Lowis, era um incômodo visível, visto que evitava olhá-la nos olhos.

Sara se levantou com uma certa dificuldade e notei pelas suas expressões que ela ainda sentia dor.

— Você está bem, senhorita Lowis? — perguntou Ren a ajudando a se levantar e eu o olhei aborrecida. Ela então suspirou o olhando.

— Estou — mentiu.

Ryan logo percebeu e também e se aproximou.

— O que você está sentindo? — perguntou atento a ela. Enquanto isso eu observava uma nuvem negra tomar conta do céu e a chuva se tornar mais forte. Logo aquela copa não daria conta de segurar, eu já podia sentir os pingos dali.

— Precisamos voltar — ela falou. — Aqui é conhecido pelas tempestades, e essa está parecendo uma delas. — Bem que eu escutei falarem a respeito das tempestades de Eleovoar. Por que será que eram tão violentas? De repente um clarão embranqueceu minha vista, me assustei gritando na mesma hora e me aproximei de Ren segurando sua roupa.

— Você viu isso?!

— Perigoso, muito perigoso ficarmos perto de árvores — resmungou ele segurando meu ombro. — Elas atraem esses raios, quanto mais alta é pior, e essa é bem alta...

— Vamos voltar, tudo bem? — Ryan segurou o braço de Sara. O barulho que seguiu o raio pareceu fazer o chão estremecer. Esse passeio foi uma má ideia. Pensei comigo mesma ainda agarrada ao braço de Ren.

— Leve as damas na frente, eu vou juntar o que restou do piquenique e já volto — falou Ren para Ryan.

— Certo, vamos Yuna — chamou-me ele.

Relutante, o segui em direção a casa, outro raio se sucedeu e tivemos que andar mais rápido. Sara parou colocando a mão na barriga. Pelo visto a dor estava mais insuportável, quem conhece essas dores, entende que as vezes a dor se alastra para as pernas fazendo com que perca as forças. Prensei os lábios sentindo pena dela. Com a velocidade que estava, seria impossível chegarmos rapidamente à mansão. Então, como um bom cavalheiro que era, Ryan a carregou e andou com a senhorita em seus braços. Olhava para trás constantemente enquanto sentia a água escorrer pelo meu corpo, de onde estava já não podia ver Ren, me perguntava se ele estava bem. Os raios ficavam cada vez mais visíveis e a chuva mais grossa. A cada segundo a mais da sua demora, mais preocupada ficava. Quando a preocupação já apertava meu peito, parei.

— Vou em busca de Ren — falei trêmula por conta do frio.

— Ele está vindo, não se preocupe — Ryan afirmou tão convicto que eu podia jurar que ele estava vendo-o vir. Virei novamente para procura-lo, mas sem sinal dele.

— Vão na frente, vou ver...

— Por que se preocupa tanto? — Ele perguntou olhando-me sério. Pisquei.

— Não deveria me preocupar com meu irmão, senhor Venoza? — repliquei me sentindo confrontada e ele me olhou por mais alguns segundos, então continuou com a senhorita Lowis em seu braço. Dei meia volta tirando os cabelos do meu rosto e olhei Ren vindo carregando as duas cestas, ele estava andando rápido e decidido. Ao me ver, sorriu daquele jeito que conhecia bem, mostrando suas covinhas e seu sorriso perfeito. Me lembrei dele sorrindo para mim embaixo da cerejeira, prensei os lábios contendo o sorriso.

— Você sabe que não consegue esconder o sorriso, suas covinhas te entregam, minha nossa, que temporal... — comentou ele ao se aproximar. — Por que parou? Eu disse que estaria tudo bem. — Continuou ao meu lado. — Vindo para cá, um raio atingiu uma árvore não muito distante, fiquei cego por uns segundos, foi emocionante, meu coração está acelerado até agora... — Peguei uma das cestas para ajudá-lo com o peso. — Não precisa, eu consigo carregá-la.

— Deixe-me ajudar, ainda não completei minha boa ação de hoje — retruquei e ele riu. — Como pode o dia mudar drasticamente de uma hora para outra? — o perguntei olhando o céu.

— Nem mesmo Yuna conseguia ser tão bipolar — retrucou ele e ambos rimos. Yuna era exatamente assim, uma hora ela estava bem, outra estava aborrecida e séria. Sentia saudades dela e tinha certeza que Ren sentia também. Deus queira que ela esteja realmente viva e que estejamos certos em nossas suposições, mas para ter certeza, preciso apenas de mais uma pista, qualquer coisa.

Me senti aliviada quando chegamos na propriedade sã e salvos. Estava tão molhada que minhas roupas grudavam por todo meu corpo. Ren não estava diferente, seus cabelos insistiam em cair em cima do seu rosto, mesmo que ele os jogasse para trás.

— Sabe o que eu preciso? — falou ele.

— O que?

— De um banho quente. Estou tremendo por dentro, essa chuva é bem gelada.

Sorri.

— Não estou diferente. Acho a oração para que o tempo pudesse refrescar foi forte demais — falei, Ren riu e seus olhos quase se fecharam, o fitei por alguns segundos achando-o adorável.

— A minha oração deve ter se juntado com a sua, não via a hora desse passeio acabar.

— Por que aceitou, então? — perguntei e ele sorriu como se eu fosse boba.

— Queria ver algo — disse sério. O olhei sem saber exatamente o que se passava em sua mente, o que ele quis dizer com isso. Por que Ren está ficando cada vez mais misterioso? Antes ele me contava praticamente tudo, mas agora parecia alguém diferente. Esperávamos as empregadas nos trazerem toalhas para entramos na parte interna da casa. Ren me olhou fixamente, então me dei conta que o encarava, ambos desviamos o olhar ao mesmo tempo, cada um para o lado diferente. Levei a mão ao peito enquanto ele engoliu a seco afrouxando o colarinho da camisa.



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