CAPÍTULO 78

290 57 20
                                    


REN WAMURA:


Existam muitas coisas que ele mudaria se pudesse voltar no tempo, uma delas era o vergonhoso fato de ter postergado a decisão de ser mais corajoso e autossuficiente. Isso teria poupado muito sofrimento, mas até ele sabia que não dava para viver culpando-se dos seus erros passados, afinal eles não voltariam.

Ren precisava concertar as coisas a partir de agora, mesmo que o rumo não fosse bem como ele imaginava. Aquela nova informação a respeito de sua família não só o chocou, como o deixou enojado, como pode conviver com a mulher que teve a coragem de tirar a vida de sua mãe, como pode ter dado a ela a autoridade para reger sua vida?

Saber que Yuna estava viva o deixava mais aliviado, mas não amenizava a raiva que sentia de Selena. Ele desceu de seu cavalo sentindo o estômago roncar, estava morrendo de fome a fazia dias que não encontrara Yuna, nem Mari em lugar algum. Será que ambas estavam juntas? Era sua grande dúvida.

Ele não iria forçar Mari a fazer absolutamente nada, apenas queria saber como ela estava, e lhe oferecer ajuda caso precisasse, essa sua falta de comunicação o estava deixando aflito. Agora sobre Yuna, havia algo que o deixava intrigado, a amiga que o homem se referiu era Louise? Pelas características que ele descreveu, não podia ser outra mulher. O que Louise estava fazendo naquela cidade? Cruzou os braços não tendo um bom pressentimento.

A família dessa moça era um tanto problemática, principalmente seu irmão mais velho. Ele respirou fundo tentando não pensar muito nisso, mas a preocupação era inevitável, Louise estava sozinha? Ela havia fugido? Isso significa que os seus irmãos estão a sua procura, e se fizer mal a Yuna? Ele não queria nada disso.

Ren deixou o cavalo descansando e decidiu a si mesmo que daria uma volta ali a pé, talvez elas estivessem escondendo-se dele propositalmente, então estar em cima daquele animal chamava muita atenção para si.

Antes de continuar sua procura incessante, avistou aquele jornal no chão, uma folha toda amassada e machucada. Sorriu com o canto da boca, Mari o surpreendeu, de fato. Quando recebeu aquele jornal ontem, ficou surpreso e não conseguiu evitar o sorriso. Foi uma bela vingança, porém qual seria seu próximo passo? Certamente ela não poderia publicar absolutamente nada já que todas as gráficas estavam sendo vigiadas. Será que a moça pararia por aí? Ele duvidava muito disso.

Ren parou um pouco para descansar enquanto comia um sanduíche debaixo de uma árvore ali perto e observava o lugar em sua volta. A periferia tinha ruas muito estreitas, e com o crescimento da cidade, como fariam caso precisassem aumentá-las? Derrubariam casas certamente. Seria muito mais simples se alguém planejasse a periferia como faziam com o centro, desta forma a cidade inteira seguiria um padrão. Respirou fundo olhando o céu. Isso lembrava a moça das covinhas mais bonitas que ele já conheceu.

De repente, Ren viu um vulto preto ao seu lado e no susto, quase chutou o bichano que se esfregava em sua perna. Ele piscou observando o animal manhoso miar enquanto continuava esfregando-se em sua perna. Sorriu nostálgico, isso o lembrava do pato que teve de estimação e seu pai o matou, depois disso ele nunca mais quis ter outro animal de estimação, justamente por receio da perda, por medo da dor.

— Que desperdício — disse pegando o gato filhote de olhos esverdeados e pelos negros e brilhantes. O bichinho o olhou com os olhos de tédio. — Ainda agorinha você estava cheio de manha e agora me olhava desta forma? — falou e o animal miou. Ren o colocou no chão e entregou o resto do sanduiche que tinha para que ele se alimentasse enquanto alisava seu pelo. O gato não sabia se preferia o carinho ou a comida. — Que manhoso você — sorriu observando o bichinho demonstrar mais interesse pelo queijo do que pelo pão. — Deveria comer o pão, vai encher mais sua barriga — falou, mas o animal o ignorou completamente, e assim que terminou de comer o queijo voltou a se esfregar nele pedindo mais comida. — Você deveria ter me dito que não gostava de pão, assim não desperdiçaria, queijo — comentou se levantando, então seus olhos foram direto a moça de cabelos negros e curtos que se escorava pelas árvores enquanto olhava em volta. Parecia estar fugindo de algo.

Ren sorriu. Parece que o destino tirava peças com ele. Sem que ela o visse, ele se aproximou.

— Mari... — a chamou e ela o olhou assustada, então levou a mão ao peito. Ren sentiu-se feliz, visivelmente ela estava bem. — Como você está?

— Por que está aqui? — perguntou ela. Ao contrário do que ele imaginou, Mari não parecia tão contente, mesmo que seus olhos fossem um tanto contraditórios.

— Eu...estava procurando você, queria saber como estava sentindo-se...

— Não precisava Ren, eu estou absolutamente bem — falou séria e ele cerrou o punho sentindo-se estranho. O que ele havia lhe feito dessa vez para que ela o tratasse desta forma?

— Para saber disso, eu precisava achá-la, agora sei que está bem... — retrucou ele confuso e hesitante. Mari o olhava fixamente. — Onde você está hospedada? Eu soube sobre o jornal, não vá novamente a uma gráfica...

— Por que? — ela perguntou na defensiva. — Vai me impedir assim como todos os outros nobres?

— Não, eles provavelmente sabem sobre você e tentarão lhe fazer mal caso...

— Ren, não temos mais nada — continuou ela e ele piscou. — Não precisa preocupar-se comigo. Deveria preocupar-se com sua reputação, com o nome da sua família, não está pensando nisso?

— Tenho coisas mais importantes que isso, por que está falando disso?

— Alguém tem que falar, não é? — Ela estava completamente irreconhecível. — Não pode mais deixar que sua tia resolva esses problemas por você ...

— Por que está agindo desta forma? — perguntou ele e Mari mordeu o lábio inferior, quase como se pensasse em algo. Suspirou.

— Não se perguntou o porquê de eu ter desaparecido sem deixar rastros? — Ela voltou a olhá-lo e Ren fazia o mesmo. Ele só queria entender o que se passava com ela. Não era seu intuito assustá-la, ou fazê-la fugir dele. Ele negou com a cabeça e ela continuou hesitante. — Eu não queria que você viesse ao meu encontro, deveria estar com raiva de mim depois do que fiz — comentou ela e ele se sentiu impaciente. Queria lhe contar o que descobriu sobre sua família, mas pelo visto Mari não queria ouvi-lo, muito menos vê-lo. E isso doía.

— Eu não estou com raiva — afirmou. — E como queria que eu não viesse atrás de você se ... eu a amo? Eu me preocupo, não sou indiferente a você...




§~~~~~~~~~~~~~§



Ai ai....

O CONDE QUE EU AMAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora