CAPÍTULO 9

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Cantava enquanto Yuna tocava o piano. Minha voz até que era bonita, modéstia parte, e Yuna gostava de me ouvir cantar quando estava muito estressada. Às vezes, até Ren aparecia para ouvir, e era nessa esperança que eu dava meu melhor.

As empregadas sempre reviravam os olhos quando me viam cantando, diziam que eu era o brinquedo dos irmãos Wamura, no começo isso me afetava bastante, hoje eu sabia que elas queriam apenas me deixar cabisbaixa, então tentava ignorar os comentários maldosos a meu respeito.

Fechei os olhos imaginando-me novamente no quarto com Ren, lá ele segurava minha mão delicadamente e levava meus dedos a sua boca avermelhada e pulsante de desejo pela minha. Certamente eu não estaria diferente diante de um toque como aquele. Lembrei-me dele acariciando meu rosto com cuidado e do seu olhar para meus lábios, da sua expressão séria e ao mesmo tempo apaixonante. Sorri ao me lembrar disso e sonhar com um romance que sequer poderia existir, mas estava satisfeita em apenas imaginar.

Ao abrir os olhos, me deparei com ele no batente da porta com os braços cruzados enquanto me olhava fixamente sorrindo sem mostrar os dentes. Meu susto foi tanto que acabei por morder a língua.

— Ah! — Levei a mão a boca e Yuna parou de tocar piano e me olhou por cima dos ombros. Ren veio preocupado em minha direção.

— Está tudo bem? — perguntou ele segurando meu braço — deixe-me ver sua boca, mordeu a língua?

Sorri mostrando a ponta da língua machucada e ele sorriu, não tive alternativa a não ser rir, afinal foi engraçado, apesar de que meus olhos lacrimejavam de dor.

— Você a assustou! — Yuna o acusou e Ren riu.

— Eu não fiz absolutamente nada! — Ergueu as mãos enquanto eu fazia caretas de dor. — Estava apenas admirando a belíssima voz dela, como sempre.

O olhei entre as lágrimas. Ele sempre fez isso.

Eu lembro muito bem quando costumava cantar para eles. Eu tinha apenas 10 anos quando Ren descobriu que eu cantava. Na época, ninguém se importava se passávamos muito tempo juntos, então eu, Ren e Yuna nos tornamos melhores amigos e fazíamos praticamente tudo juntos. Desde brincar, banhar nos rios próximos, estudar e muitas outras coisas. Era como se tivesse ganhado uma outra família e eles uma outra irmã.

— Você vai cantar, e eu vou tocar, está bem? — falou Ren aos 10 anos enquanto treinava para a prova de piano que o professor disse que faria com ele.

Eu já havia cantado para minha irmã mais nova, mas no momento fiquei nervosa pois não sabia ao certo o que cantar, então me veio a letra de uma musica de ninar conhecida da região.

— Você pode tocar "Ao cair da noite"? — sugeri e ele me olhou por cima do ombro por alguns segundos.

— Não sabia que conhecia essa musica — falou organizando os dedos no piano. — É a única coisa que me lembro da mamãe — explicou tocando a melodia com cuidado e sentimento. Nunca tinha visto Ren tão sério como ele estava naquele dia. Meu coração se apertou e eu senti um leve rebuliço no estômago. Olhando-o dali, Ren parecia brilhar. Respirei fundo me preparando para cantar e dei meu melhor, lembrei da mamãe, da Lisa e da minha antiga casa. Lembrei-me da falta que ela me fazia e isso me fez cantar com mais força e vontade imaginando que aonde quer que elas estivessem, pudessem me escutar. Mamãe dizia que quando os pensamentos eram fortes, as pessoas podiam sentir que estávamos pensando nelas. Então ali orei para que elas estivessem me escutando, eu apenas as queria dizer que estava com muita saudade, e que elas eram muito importantes para mim...

De repente, Ren parou de tocar e me olhou com os olhos marejados, parecia surpreso e boquiaberto. Parei de cantar e ele piscou.

— Continue, por favor — sentou-se virado para mim e mesmo com vergonha, continuei a canção, não queria pará-la na metade. Ren sorriu discretamente deixando as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Meu pai dizia que homens não choram, por que isso é uma característica das mulheres. Meu pai não era um homem confiável, ele batia na gente, ele batia na mamãe. Ele descontava toda sua raiva nas pessoas que deveria amar, nas pessoas que mais confiavam nele, então eu não acreditava no que ele falava e admirava muito a sensibilidade que Ren tinha.

O CONDE QUE EU AMAVAWhere stories live. Discover now