O CONDE QUE EU AMAVA

CAPÍTULO 45

Enquanto Beatriz me ajudava com o espartilho, olhava fixamente para o espelho do meu quarto. Hoje estava estranhamente calma, mesmo que tudo a minha volta parecia estar desabando, mesmo que tivesse um evento social um tanto suspeito. Teríamos um chá no parque principal da cidade, lá estaria presente as famílias nobres da cidade.

Me perguntava se Selena e a senhora Venoza colocariam seu plano em prática. Mas se elas fizerem, o que eu poderia fazer? Que escolha tenho?

Meu vestido era um belíssimo traje azul claro com detalhes azuis escuros, sua manga era curta o que permitia ver meus braços e boa parte de meus ombros, coloquei luvas brancas e delicadas, meus cabelos estavam presos no topo da cabeça em um penteado muito belo que eu mesma fiz. Nunca permiti que Beatriz tocasse na peruca, se ela o fizesse, saberia que não era meu cabelo. Talvez tenha até notado, mas nunca teve coragem de comentar, imagino eu.

Suspirei ao me ver muito bonita, e saí do quarto com ela me acompanhando. Ryan me esperava no pé da escada assim como Ren e Selena. Assim que os vi, senti meu coração bater forte contra o peito. Eles estavam lindos, como sempre estiveram. Ryan se adiantou e ofereceu o braço, ignorei os olhares de minha "tia" e do meu "irmão" e aceitei o braço do meu futuro noivo.

A tarde estava muito bonita, mas pouco olhei para o céu. Estava focada demais em como agir perante tantos olhares.

— Me desculpe por ontem, Yuna — Ryan sussurrou enquanto me conduzia em direção a carruagem que nos levaria ao tal evento.

— Desculpo desde que nunca mais se repita — falei séria e ele pensou por um tempo antes de responder.

— Tudo bem, deixarei que aja da forma que lhe aprouver.

Me sentei na carruagem e ele ficou a minha frente, ao lado de sua irmã e eu ao lado de Ren. Fiquei em silêncio o caminho inteiro enquanto ignorava os olhares ilegíveis de Ren para comigo. Já tinha muitas coisas a que pensar, não queria pensar no que ele pensava a meu respeito.

O parque era imenso e estava cheio de nobres e empregados. Selena, a senhora Venoza, Arthur Venoza e Beatriz também vieram em uma carruagem diferente da nossa, olhei em volta, eu não conhecia absolutamente ninguém.

Ryan foi cumprimentar alguns membros da família Lowis, que por sinal era enorme. Eu o observava de longe enquanto tentava manter um rosto saudável e feliz, como se me sentisse confortável naquele lugar.

— Agora que sou seu irmão, devo lhe acompanhar — Ren comentou ao se aproximar.

— Poupe-me de sua ironia, Ren. Hoje não estou com bom humor — rosnei aborrecida.

Ele sorriu cansado.

— Não fui irônico, Mari — respondeu ele e eu revirei os olhos, Ren pareceu aborrecido com isso — Por que não abaixa sua guarda, ou planeja agir como Yuna comigo também? — resmungou irritado e eu o olhei por cima do ombro fixamente.

— Se eu pudesse escolher, pode ter certeza que não estaria aqui — falei voltando a olhar o horizonte.

— E estaria onde, posso saber?

— Estaria morta — respondi friamente e notei seu olhar surpreso. O vi abrir e fechar a boca logo em seguida.

— Não deveria falar isso... devia agradecer por sua vida, afinal estar viva e com saúde — ele retrucou sem jeito, mas uma ruga no meio da testa revelava preocupação.

— É o que estou tentando fazer, mas você está dificultando. — O encarei já brava. — Acha que estou fingindo ser outra pessoa por que gosto? Por que é divertindo enganar o homem que estou me apaixonando? Se sua tia me... persuadindo, e se eu não tivesse um dever para com sua família, eu estaria longe deste lugar. Me arrependi de ter aceito essa proposta absurda desde que me vesti de dama, mas já era tarde demais, tinha que cumprir com o plano por que eu não consegui dizer NÃO a Yuna por agradecimento por ela ter sido a única pessoa que se importou comigo desde que... perdi minha família, desde que não sei o que é ser amada, e a única que não me via somente como uma empregada... — notei meu tom ácido e parei, minhas bochechas formigaram e notei que lágrimas brotavam do meus olhos, pisquei olhando para cima no intuito de não deixá-las cair.