Capítulo 59

369 68 39
                                    


Pisquei, depois olhei ara Núbia surpresa. Ela, no entanto, estava vermelha como um morango maduro e fingia estar distraída com um livro.

— Você escreveu isso? — perguntei ainda perplexa, eu acreditava que escrevia bem, mas ela era ainda melhor.

Núbia assentiu ainda envergonhada e eu li de novo todo o texto.

— Nossa Núbia, não sabia que escrevia tão bem... — comentei sorrindo. — Confesso que amo escrever também... Ela então me olhou e sorriu.

— Nunca mostrei para ninguém, nem para Ryan — admitiu ela sem graça. — Você acha que ficou bom mesmo?

— Claro que acho! Já deu um nome para o conto?

— Ainda não... Não tenho muitas ideias...

— Que tal: o conto do espelho? — Sugeri e ela pareceu pensativa, então assentiu.

— Eu gostei — sorriu.

— Eu particularmente me senti mais tocada com o final. Reli ainda pensativa sobre ele:

" ( .... ) Somos todos imperfeitos, passíveis de erros, mas buscamos constantemente nos outros motivos para nos sentirmos melhores conosco mesmos. Fazemos isso sem mesmo perceber. E jogamos nas pessoas a responsabilidade de nos fazer sentir menos imperfeitos, erro nosso associar a felicidade com perfeição, pois sempre estaremos em busca de algo que não existe e mais sensíveis a frustações.

Se abandonamos por conta das imperfeições, acreditaremos também que precisamos ser perfeitos para não sermos abandonados. E assim caminhamos para a solitária vida dos hipócritas.

Jesus mesmo disse, perdoei os outros para que sejais perdoados, eu, no entanto, acrescento, se não puder perdoar os outros por suas imperfeições, jamais será capaz de fazer de repeti o feito por si mesmo.

A única forma de se sentir melhor consigo mesmo, não estar em fingir ser perfeito para si e para os outros, mas compreender as próprias imperfeições, e mais do que isso, entender que os outros também as possuem."


Prensei os lábios. Esse texto parecia ter sido feito para mim. Eu era medrosa, um pouco covarde, e estava sempre querendo a aprovações das pessoas como se minha vida dependesse disso. Mais do que nunca estava tentando ser perfeita para ser amada.

Mas se tiver que mentir minha vida toda para ser amada, que graça tem uma vida assim, pois no fundo nunca estarei em paz, nunca terá sido eu. E era isso que pensava sobre Ryan. Se contasse a verdade a ele, que sou órfã, que vim de uma família sem títulos e que não tenho propriedades, nem absolutamente nada para chamar de meu, se contar isso a ele, será que ele ainda será capaz de dizer que continuar a ter sentimentos por mim? E se disser, qual será minha resposta?

E eu? Por que insisto em correr atrás de atenção quando isso não é suficiente para suprir a minha necessidade de amor próprio, um amor que só eu posso me proporcionar. Me senti tão feliz quando Ryan disse ter sentimentos por mim, parecia que meu mundo estava completo, afinal acreditava que era incapaz de ser amada, mas não era eu, ele estava interessado por uma condessa, com títulos, uma vida bem diferente da minha. Acreditei nessa hora, mesmo no inconsciente que não podia deixar de ser Yuna, afinal era ela a dona de todo aquele afeto, ela era perfeita, já eu, era um espelho de todas as minhas imperfeições, eu mesma me rejeitei e joguei a minha história para o fundo do poço.

A verdade era que estava postergando contar a verdade, e me sentindo cada vez mais irreconhecível.

Quis chorar, mas segurei as lágrimas.

O CONDE QUE EU AMAVAWhere stories live. Discover now