O CONDE QUE EU AMAVA

CAPÍTULO 57

Acordei me sentindo cansada da noite anterior. Meu ouvido zunia, juntamente com uma dor de cabeça latejante. Talvez por que chorei um pouco antes de cair no sono.

Mas me atentei a um pedaço de galho de Sakura ao lado da cama em um jarro de vidro, pisquei me aproximando daquele jarro olhando a cor bonita das pétalas. Meu coração se aqueceu no mesmo instante. Sorri sem mostrar os dentes e me levantei vendo o presente com cuidado. Foi inevitável não me lembrar da minha cidade natal, da casa onde passei boa parte da minha vida. Da cerejeira ao lado da minha cama, de Ren, de Yuna. Ao lado do jarro havia um cartão, o peguei e lá estava escrito:

"Para alegrar seu dia, Ryan''

Sorri achando aquilo encantador, então me levantei e me asseei rapidamente, precisava falar com Ryan e agradecer por essa surpresa nostálgica. Assim que estava pronta, me arrumei e saí do quarto. Acabei encontrando Ryan na escada, ele sorriu ao me ver.

— Bom dia, senhorita Wamura — disse de bom humor.

— Bom dia, obrigada pela surpresa — falei de imediato.

— Não sabia que a senhorita gostava de cerejeiras tanto assim — comentou ele e eu pisquei. — Se soubesse teria lhe levado para visitar a nossa propriedade onde temos algumas, iria gostar.

O olhei por alguns instantes e sorri.

— E como descobriu? — perguntei me sentindo boba.

— Ren me disse que gostava, ele mencionou que adoraria ver a propriedade em que fomos outro dia, então pensei em fazermos um passeio por lá essa semana, antes do baile. Parece que ele também percebeu que ontem você estava um pouco distante e disse que era saudade de casa, então espero que tenha gostado.

— Eu gostei...Obrigada. — Sorri e ele pareceu satisfeito, então continuou a descer as escadas. Fiquei parada um pouco ainda ali sem saber ao certo o que meu coração dizia. Levei a mão ao peito. Eu deveria estar radiante, então por que estava tão apertado?

Desci as escadas um tanto contrariada e fui para o café da manhã. Os Lowis ainda estavam ali e isso deixava a senhora Venoza aborrecida, visivelmente, mas Selena parecia radiante como se estivesse planejando algo incrível. Olhei Ren por cima da xícara que levava a boca discretamente. Ele então me olhou enquanto pegava uma torrada e eu desviei o olhar rapidamente.

— Hoje está um dia muito bonito, não acham? — Selena falou animada e eu tive medo do que poderia surgir daquela sua boca. — Por que não aproveitam que a senhorita Lowis está aqui e passeia com ela, Yuna? — sugeriu ela olhando-me fixamente. — Ryan e Ren podem lhes acompanhar nesse passeio.

— Acredito que seja uma ótima ideia. — A senhora Venoza confirmou e eu quis desaparecer. Aquilo não me parecia agradável, na verdade, eu estava me sentindo mais do que desconfortável com aquilo. — Podem sair um pouco depois do almoço, assim que o sol abaixar.

Ao contrário do que pensei, Ren não disse absolutamente nada. Por que ele não está intervindo? Não acredito que está sendo novamente influenciado por Selena e seguindo com seu plano! Pensava irritada.

Estava bem ensolarado, felizmente meu vestido era bem fresco. Ryan fez questão de me acompanhar e Sara ia não muito distante a nossa frente ao lado de Ren. Cada um levava uma cesta com algumas coisas para comer, além de uma toalha.

— Parece que nem a cerejeira foi capaz de lhe deixar mais sorridente hoje — Ryan comentou e eu sorri sem jeito. — Sente tanta saudade de casa assim? — perguntou e eu olhei para as costas de Ren.

— Sim, sinto — resmunguei.

Nos sentamos embaixo de uma copa de árvore depois de andarmos bastante. Me abandava com o leque, como podia estar tão quente?! Minha nossa! Fiquei aliviada por encontrar uma sombra e poder beber um pouco de água.

Olhei sutilmente Sara, ela estava um tanto abatida como se estivesse com dor. Seus lábios estavam pálidos e ela estava um tanto desligada do que acontecia a sua volta.

— Você está bem? — perguntei discretamente enquanto eles organizavam a cesta para o piquenique. Ela franziu o cenho e respirou fundo cansada.

— Mais ou menos... — disse um tanto agoniada. — Minhas regras desceram e eu costumo sentir muita dor quando elas vêm — explicou fazendo uma careta. — Hoje apenas está um pouco mais forte...

Toquei em sua mão e ela me olhou nos olhos. Sara estava gelada.

— Você está bem gelada, Sara. Tem certeza que vai ficar bem?

Sara prensou os lábios e sorriu.

— Certeza não, mas eu sou forte, já suportei coisas piores. — Então fez uma careta como se tivesse acabado de levar uma pontada.

Procurei alguma coisa quente que ela pudesse beber, tenho certeza que colocaram chocolate quente na cesta. Sem demonstrar preocupação, para não chamar a atenção deles, coloquei um pouco de chocolate quente em uma xícara e lhe entreguei. Sara sorriu sem jeito.

— Toma, coisas quentes ajudam um pouco — falei e ela agradeceu.

— Conheci a um tempo atrás alguém com um jeito parecido com o seu — contou com nostalgia. — Desculpe por duvidar de vocês... — bebeu um pouco e eu me senti ruim. Ela estava certa sobre duvidar de mim, afinal não passava de uma mentirosa. O clima ali não era um dos melhores e eu não conseguia pensar em nada que pudesse amenizar a situação. Felizmente ela começou um assunto. — Por que não nos contam como era onde moravam? Sempre tive vontade de visitar o exterior...

Olhei para Ren aliviada, finalmente um assunto. Ele começou a explicar sobre Hikari, e eu apenas complementava as informações falando a respeito das cachoeiras e rios bonitos, falamos do bosque suspenso feito por trepadeiras em árvores com copas enormes, era como um mundo de cabeça para baixo, os olhos de Ren brilhavam enquanto ele contava sobre os pastos, sobre as colinas e os lugares bonitos que já visitamos, sorri, contar sobre onde eu nasci me trazia uma certa saudade, engraçado que quando estava em Hikari, eu pensava que o exterior era melhor, nunca estive de fato aproveitando o presente. Tanto Sara com Ryan ficaram muito interessados no lugar.

— Vocês já visitaram o litoral aqui? — perguntou Sara e eu acenei em modo positivo, já Ren disse que não. Ryan prensou os lábios claramente sem graça, então me lembrei do beijo e me senti nervosa, não queria pensar nisso agora, nem que Sara desconfiasse de algo. Ela então se virou para Ren sorridente. — Deveria visitar, imagino que vá gostar.

— Não duvido que vá — respondeu ele pegando uma uva e comendo.

— Tem uvas? — Sara perguntou.

— Tem um monte delas, espere. — Ren pegou umas uvas e lhe entregou. Os observava discretamente me sentindo estranha.

— Obrigada, Ren — sorriu comendo, pelo visto ela gostava, pois pareceu bem mais feliz depois de comer uma. — Hmmm está docinha!

Ren sorriu como resposta e assentiu. Então parou a observando e eu segui seu olhar, estava para os cabelos dela, havia um inseto.

— Tem... uma folha na sua cabeça — falou e ela passou as mãos no cabelo, mas não o localizou. Sara parecia envergonhada já que todos a olhavam. Antes que Ren a ajudasse, me estiquei e tirei eu mesma aquele inseto, jogando-o para longe.

— Era um besouro — falei e ela fez uma careta de nojo, então olhou para Ren, ele sorriu sem jeito.

— Não queria que se desesperasse — explicou ele percebendo seu olhar. Sara pareceu se contentar com a resposta. Olhei para Ryan, ele os olhava enquanto comia uma maçã, parecia indiferente se não fosse pela força como mordia aquela maçã, como se a coitada tivesse culpa de alguma coisa. Suspirei.

§~~~~~~§

Hm.....