CAPÍTULO 27

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O silêncio na sala de jantar era de deixar qualquer um desconfortável. Já havia passado duas semanas naquela casa e o suposto casal que a senhora Venoza tanto desejava não havia tido nenhum progresso. Olhei para Ryan discretamente, ele era um homem muito belo e uma das pessoas mais gentis que conheci, sua voz era grossa e pendia um pouco para um tom sensual. Se estivéssemos em outra circunstância, certamente me apaixonaria por ele, mas na situação em que estava, isso não só me magoaria, como magoaria a ele, então aquela distância era mais do que essencial.

Só não contava com a mente engenhosa da senhora Venoza. Ela logo anunciou um baile que seria feito na mansão Lowis, para festejar o aniversário de 18 anos de um dos filhos. Estremeci. Nunca participei de bailes, e de todas os costumes nobres que possuía, dançar não era um deles. Oque eu deveria fazer? Jamais poderia negar tal convite, afinal estava residindo em sua casa!

Mas uma ideia logo veio em minha mente. A família Lowis era de onde vinha a senhorita na qual Ryan era apaixonado. Seria mais que perfeito, um momento onde eles poderiam se entender!

— Não quero ir — falou Ryan decidido. Pisquei o observando. Ele parecia aborrecido e sério. Não era de se surpreender que ele não quisesse vê-la. Logo o olhar de sua mãe tornou-se tempestuoso.

Conhecia bem aquele olhar de quem acaba de ser contrariada. Pelo visto, ela não gostou nada da resposta negativa do filho a mais aquela tentativa de nos exibir. Abaixei a cabeça desejosa de não ouvir nenhuma espécie de discursão logo pela manhã cedo. Esses ânimos alterados me causavam uma sensação agonizante na boca do estômago e uma vontade de sumir quase tão poderosa que poderia fazer-me desmaiar.

— Confesso que também não me dou bem com bailes — falei descontraidamente enquanto limpava a boca com o lenço. — Dançar nunca foi meu forte..., mas o baile será no fim da primavera, certo? Tenho certeza que haverá tempo de aprender.

Logo a atenção da mulher veio para mim e vi um brilho em seu olhar se formar, sabia exatamente o que ela iria sugerir, e preferia isso a ouvir gritos pela casa.

— Por que Ryan não lhe ensina a dançar? O baile acontecerá daqui a um tempo, então até lá pode ser que as aulas de dança animem meu amado filho um pouco. — Senti a tenção no "amado" e assenti com a cabeça. Não faria mal uma aula o outra de dança. Assim que concordei com a tal ideia, a mulher pareceu aliviada e feliz. Era impressionante seu poder de modificar o clima da casa.

Senti o olhar de Ryan para mim e evitei fitá-lo. Não sei se ele gostou da ideia das aulas de dança, mas ao menos sua mãe sim. Ela não perdeu tempo ao encher minha agenda de atividades em que deveria fazer junto com ele. Isso incluía andar a cavalo, aulas de dança e aulas e pintura, já que segundo minhas antigas cartas, eu era maravilhosamente boa em pintura. Essa última me deu comichões, eu não sei nem sequer segurar um pincel, como haveria de dar aulas de pintura?

Senti o medo percorrer pelas minhas veias e a sensação de perigo eminente, aquela semana que estava passando ali parecia eterna.

~∞~

Ryan estava quase tão disposto quanto eu para ensinar-me a dançar. Naquele dia, me vesti com um vestido de baile por que, segundo a senhora Venoza, precisava aprender sob os pesados trajes de festa. Ryan não estava diferente, vestia um terno preto e seus cabelos estavam penteados para trás de forma elegante. Pisquei surpresa, não podia deixar de admitir que ele tinha uma presença elegante.

Quando ele notou minha presença no salão de festa da mansão, o vi respirar fundo, cansado. Ao piano estava um homem contratado unicamente para isso.

— Não sei por que ainda cedo aos caprichos de minha mãe — Ryan comentou ao se aproximar de mim. — Espero que saiba a sua intenção.

— Estou ciente — afirmei. — E infelizmente terei que arruinar as suas expectativas.

Ryan sorriu com o canto da boca.

— Ela me deu o tempo até o baile — disse ele. — Prometi a ela todos meus esforços e irei cumprir com minha promessa. Então espero que seja paciente. Logo estará voltando para sua casa e espero não a magoar.

Sorri. Este homem está insinuando que eu inevitavelmente irei me apaixonar por ele? Ora, meu coração já foi roubado por outro cavalheiro e não irei me apaixonar por ele.

— Você é muito convencido — sorri. — Já tenho alguém em meu coração, assim como o senhor. Não será uma tarefa nada fácil me...

Ele segurou minha cintura e me puxou para mais próximo a ele. Prendi o ar arregalando os olhos. Estava surpresa, muito surpresa, não pela aproximação em si, mas pela sensação incômoda que aquele toque me causou. Um arrepio percorreu meu corpo inteiro fazendo minhas pernas perderem as forças por alguns míseros segundos. Soltei o ar sorrindo descontraidamente e com confiança, não queria demonstrar minha surpresa.

Ryan olhava-me fixamente de forma que me causava um certo desconforto.

— E... espero que o senhor também não saia machucado — falei no intuito de diluir aquele clima tenso que se formou.

— Isto não acontecerá. É impossível apaixonar-me pela senhorita.

— Posso saber o motivo? — perguntei incomodada pelas suas palavras.

— Não querer é suficiente? — retrucou ele e sorri.

— Saiba que é recíproco — falei séria enquanto ele me conduzia de um lado para o outro. Até que não era tão difícil, visto que ele sabia exatamente como me conduzir. Ryan sorriu e me rodopiou.

— Não parecia, já que deu a ideia a minha mãe.

Perdi o equilíbrio e ele me segurou para que não caísse de costas. O olhei brava.

— Não lembro de nenhuma vez ter lhe dado tal ideia.

— Deixou quase insinuante.

— Apenas não gosto de desavenças.

— Não preciso que tenha piedade de mim, senhorita Wamura. — Ele me girou mais uma vez.

— Quase impossível, visto que faz uma carinha de cachorrinho molhado na chuva sempre que mencionam algo relacionado a sua amada — retruquei e ele me puxou com força apertando meu corpo contra o dele. Arregalei os olhos o observando, parece que eu havia conseguido irritá-lo. Mas no fundo no fundo eu também estava irritada, mesmo que não entendesse ao certo o porquê.

— Ela não é minha amada — disse sério enquanto segurava meu braço com firmeza. Seus olhos estavam fitos no meu e traziam uma certa revolta e mágoa. O pianista fingiu não escutar nossa conversa e continuou a tocar a música indiferente a tudo o que estava acontecendo.

— Se não é, por que está tão furioso? — perguntei o encarando.

— Não estou furioso — ele retrucou de imediato.

— Então por que está me apertando?

Ryan percebeu o que estava fazendo, me soltou e se afastou. Então coçou a nuca.

— Pare — Ordenou ao homem do piano, então me olhou irritado. — Você sabe como ser inconveniente... — reclamou e eu sorri.

— Estou aprendendo com o senhor — retruquei sorrindo como Yuna geralmente faz. No mesmo instante, ele prensou a mandíbula fazendo suas veias saltarem.

— A aula acabou. — Saiu da sala a passos decididos.


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Parece que alguém ficou bravinho!

O CONDE QUE EU AMAVAWhere stories live. Discover now