CAPÍTULO 19

408 92 14
                                    

Eu olhei em volta em busca do cavalheiro que nos ajudou ainda a pouco e não o encontrei em lugar algum. Pisquei ao ver alguns empregados se aproximando.

— Nos avisaram que precisavam de ajuda — disse um homem se aproximando e indo em direção a carruagem.

Logo uma empregada surgiu.

— Senhorita Wamura? — perguntou assustada, então fez uma careta ao olhar meu ferimento. — Minha nossa, venha! Que situação!

Suspirei. A situação toda fez com que me sentisse menos nervosa com aquela chegava, foi tão estranha e diferente do que imaginava que estava calma e tranquila, tal como uma verdadeira dama.

A mansão era enorme e estava muito bem cuidada. Assim que entrei, outra empregada nos acompanhou até nossos aposentos e disse que a senhora Venoza estava a minha espera, mas que seria bom se tomasse um banho e limpasse meu ferimento antes.

Agradeci por isso.

As escadas eram largas e a madeira estava bem brilhante e encerada. Assim que subimos, havia um corredor com vários quartos. O nosso não ficava muito distante das escadas.

Fiquei parada na porta do quarto observando aquele cômodo imenso e decorado para me receber. Na verdade, para receber Yuna. O chão estava encerado, a cama bem arrumada e parecia muito macia, a casa de banho tinha um cheiro característico de que a banheira estava cheia e com sabão, apenas esperando-me. Nunca em vida teria uma oportunidade como essa. Pisquei observando Beatriz tirar as coisas da mala trazida pelos empregados minutos depois que nos deixaram ali.

— Precisa de ajuda? — perguntei e ela me olhou confusa. Arregalei os olhos percebendo meu equívoco.

— Percebo que está bem nervosa. Confesso que entendo, também ficaria se estivesse em seu lugar, mas não se preocupe. Apenas seja você mesma — falou ela.

Ser eu mesma. Que ironia. Olhei mais uma vez em volta e me dirigi a cama sentando-me na beira. Minha nossa, que macia! Afofei ela com o bumbum e nem percebi que Beatriz olhava-me com divertimento nos olhos.

— É muito macia, Beatriz! — exclamei jogando-me para trás e observando aquele teto bem cuidado, muito diferente do que os que eu era acostumada a ver.

— Imagino — ela falou.

— Venha aqui, sente.

— Ah não... — Balançou as mãos em modo negativo acanhada.

— Venha, quero que sinta!

Beatriz se aproximou e sentou-se. Sorriu.

— É macia mesmo — comentou.

— Viu! É deliciosa! E eu vou dormir nesta cama!

Ela me olhou curiosa e sorridente. Arregalei meus olhos e voltei a me sentar. Ai, minha nossa! Por que eu tinha quer ser tão boba?!

Beatriz ajudou-me a tirar minha roupa enquanto eu me sentia nervosa em relação ao meu cabelo, não queria que ela descobrisse que o que usava era uma peruca.

— Imagino que queira prender o cabelo completamente — disse ela e eu pisquei tensa, porém seu olhar não era de alguém desconfiada.

Assim que entrei na banheira, agradeci por estar um tanto gelada e meu corpo relaxou na hora. Era estranho ter alguém esfregando minhas costas ou até mesmo olhando-me tomar banho, sempre era eu que olhava Yuna e não era olhada nunca. Suspirei esfregando meus braços com uma bucha ensaboada. Beatriz me deixou a sós para aproveitar melhor meu banho e me senti mais a vontade.

Ao menos uma vez na vida, todos podiam ter o direito a tomar um banho de banheira, era tão relaxante. Apoiei minha cabeça na borda e cantei aquela música de ninar que me lembrava mamãe e Ren. Prensei os lábios pensando nele e senti um aperto no peito. Sentia falta da sua presença, do seu sorriso e do seu toque. Fechei os olhos enquanto acariciava meu rosto com as pontas dos dedos e imaginava que ele estivesse fazendo aqueles carinhos em mim, lembrando dos seus olhares para minha boca, dos seus lábios avermelhados, dos seus dedos no meu rosto, da sua voz, das suas tentativas fracassadas de contar o sorriso, das covinhas que haviam em seu rosto, suspirei olhando o teto daquela casa de banho e voltei a cantar, às vezes, cantar era a forma que eu encontrava para demonstrar meus sentimentos. E naquele momento, eu queria que Ren apenas soubesse como eu me sentia a seu respeito verdadeiramente, mas ele acreditou no que sua tia disse e desconfiou de mim, desconfiou da minha índole, e isso me machucava.

Eu nunca lhe dei motivos para desconfiar de mim... Suspirei magoada, eu o amava, e nunca lhe disse tais palavras, e agora ele acreditava que eu estava querendo tomar proveito do que ele tinha? Eu não era esse tipo de pessoa!

Parei de cantar me sentindo revoltada, se o encontrasse naquele momento, talvez não pudesse controlar minhas palavras. Pisquei rapidamente lembrando-se que talvez eu nunca mais o visse, que, na realidade, ele nunca se preocupou verdadeiramente comigo, que eu nunca deixei de ser uma empregada como qualquer outra, fui trocada sem pena, sem hesitação, pensar nisso me dava um amargor na minha boca.

Não, Mari. Precisa parar de pensar nele e voltar-se para a sua missão de agora. Me perguntava como seria este conde Venoza. Seria alto ou baixo? Magro ou um pouco rechonchudo? Ele era bonito ou comum? Não fazia a menor ideia, mas muito provável que um loiro de olhos claros e atitude arrogante como a maioria dos nobres.

Espero que não seja tão difícil fazê-lo mudar de ideia. Eu e Yuna debatemos bastante a respeito deste plano, certamente se o contrariasse e não fizesse aquilo que ele manda, ele se cansaria da minha teimosia e rebeldia, então me mandaria ir embora como qualquer outro nobre faria. Mordi o lábio inferior, eu que sempre fui obediente teria que ser rebelde e desobediente agora? Exatamente como Yuna é, por que ela mesma não vinha fazer isso?

Respirei fundo, ela está em outro lugar agora. Massageei a testa sentindo uma breve dor de cabeça se instalar. Será que eu realmente seria capaz disso?

— Não quer tomar um banho também? — perguntei a Beatriz assim que ela me trouxe a toalha, e a mulher piscou surpresa pela minha pergunta.

— Vou, mas não no momento, tem uma casa de banho para as empregadas nesta casa, certamente.

— Se quiser, pode trocar a água e tomar banho aqui mesmo — falei e ela franziu o cenho confusa. Às vezes, Yuna deixava que eu fizesse isso. Quando éramos menores, até tomávamos banho juntas..., mas parece que essa não era uma prática tão comum...

Me vesti com um vestido azul claro, delicado, simples e bonito. Me olhei no espelho e insisti em ajeitar meu próprio cabelo dizendo que não gostava que tocassem nele. Precisava garantir que ela não descobrisse. Beatriz colocou um pouco de corante em meus lábios e nas bochechas apenas para deixar-me mais corada de forma sutil e natural. Eu estava irreconhecível com aquelas roupas, cabelo e joias. Respirei fundo me acalmando. Meu rosto era simples, usava uma franja rasa que estava penteada de lado. Meus lábios não eram muito carnudos, mas também não eram muito finos. Minha pele era clara e quando eu sorria, duas covinhas se formavam próximos ao canto da boca e outras duas na bochecha. Eu as achava um pouco estranhas, mas há quem ache adoráveis.

Nem nos meus sonhos mais gananciosos havia me visto desse jeito, como uma verdadeira dama.

Estava confiante de que conseguiria fazer o Conde Venoza mudar de ideia, eu estava certa de que esta seria algo simples, afinal eu o detestaria assim como detesto os nobres (isso inclui o traidor do Ren), e ele me detestaria.

Mas infelizmente não foi bem isso o que aconteceu.


§~~~~~~~~~~~~~~~~§


E agora, Mari?

O CONDE QUE EU AMAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora