CAPÍTULO 24

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— Até dois — falou e eu sorri. Este homem sabe como me arrancar sorrisos, é muito agradável. Como aquela dama pôde negar eu coração?

— Sempre quis estar em um lugar assim — contei e ele voltou a olha-me fixamente. — Queria poder correr sentindo o ar entrar em meus pulmões e me jogar na grama sem pensar em mais absolutamente nada, se estão me olhando ou o que estão achando, depois olhar para o céu e respirar fundo... — Suspirei. — Só de imaginar isso, eu me sinto mais feliz. — Sorri o olhando nos olhos.

Ryan me olhou fixamente por mais alguns segundos, quase como se tentasse entender o que se passava em minha mente, então piscou sorrindo com o canto da boca.

— Por que não faz? — perguntou e eu sorri achando aquilo um absurdo.

— Tenho um nome a zelar. — Um nome que nem sequer era meu. Não podia fazer o que bem entender com aquele nome em minhas costas. Ele assentiu e olhou em volta.

— Nunca saí correndo por aí, mas já me joguei no chão, pinica um pouco, porém é bom ficar de frente para o céu.

— Imagino que sim...

— Quer ver algo interessante? — Ele saiu andando na frente por aquele bosque e eu o segui tomando cuidado para não escorregar. Ryan parou em frente a algumas plantas e me esperou até que eu descesse aquele pequeno monte e fosse até ele. O problema era que a grama era escorregadia. Ele esticou a mão até mim e eu a aceitei de bom grado, só não queria cair. Foi impossível não notar, mas suas mãos eram grandes e quentes, sua pele ali era mais grossa que a minha, no entanto, tinha uma maciez diferente.

De repente, meu pé deslizou sobre a grama e eu fui contra seu corpo. Ryan segurou-me com um abraço firme. Pisquei sentindo-me nervosa e ele se afastou rapidamente de mim, então sorriu sem jeito e voltou a me mostrar a planta.

Arregalei os olhos quando vi que as folhas se fechavam quando ele tocava nelas. Achei aquilo simplesmente surpreendente!

— Minha nossa! Eu nunca tinha visto uma dessas! Por que elas fazem isso? Será que sentem cócegas?

Ele riu e eu ruborizei. Não queria parecer alguém ignorante, mas era o que parecia.

— Imagino que seja para se protegerem da chuva, mas agora vou refletir sobre as cócegas, tenho as mesmas reações...

— É mesmo? Posso testar? — perguntei entrando na brincadeira e me aproximei dele, Ryan então se abraçou e se afastou rapidamente. Fiz um bico achando graça. — Brincadeira, brincadeirinha... — Ele piscou rapidamente e voltou um tanto constrangido para as plantas.

— As pequenas folhas são muito frágeis, vê? — Ele se inclinou juntamente comigo e mostrou-me. Assenti.

— Que espertas — concluí e ele sorriu olhando-me. O encarei também e senti uma pequena tensão se formar, afinal estávamos próximos demais. — Depois o senhor reclama sobre os olhares na mesa de jantar, está fazendo a mesma coisa agora, deveria presumir que sou bela? — perguntei voltando a ficar de pé e ele fez o mesmo sorrindo. Desta vez, seus olhos estavam quase fechados e ele mostrava sua dentição perfeita. Esperava que, com isso, eu pudesse deixar o clima mais descontraído. Não precisava desse tipo de situação estranha.

— Não estaria errada se presumisse. Sua mãe nunca lhe disse isso? — perguntou voltando pelo mesmo caminho, mas desta vez me ofereceu a mão ao subir o monte.

Pensei em minha mãe. Minha mãe morreu muito jovem, eu ainda era muito jovem, mas lembro de sua voz doce e de quando ela gostava de cantar comigo, lembro de seu toque gélido e o olhar doente. Suspirei aceitando sua mão, então voltamos ao parque onde todos estávamos. Ao contrário do que foi, Ryan parecia bem melhor, feliz e radiante.

Avistei Núbia, ela estava conversando com a dama que negou o coração de Ryan. Ambas riam de alguma coisa qualquer, e eu logo olhei para Ryan que observava aquela cena sem perder a pose de superação.

— Não precisa me olhar desta forma — ele sussurrou ao perceber meu olhar. — Não preciso que tenha pena de mim... — falou aborrecido.

— Não tenho pena, apenas compreensão — retruquei e ele me olhou por cima do ombro, então seguiu me puxando para onde estavam as mulheres.

— Então, me acompanhe, tudo bem? — Meu coração disparou no mesmo instante. Não era isso o que eu queria! Não queria me envolver com outros nobres! Isso estava além do meu plano com Yuna! E se por acaso algumas delas conhecerem Yuna?

Antes que pudesse negar, já estava de frente a senhorita alta de cabelos negros que me olhava atenta e feliz. A presença dele não lhe causava nenhuma espécie de arrependimento?

— Bom te ver, Ryan — disse ela amigavelmente. — Esta é a senhorita Wamura? — perguntou e eu assenti timidamente. — Que linda!

— Bom te ver, senhorita Lowis — respondeu ele. — Sim, esta é a senhorita Wamura.

Espera, Lowis! Ah, minha nossa! Lembro que Yuna uma vez comentou a respeito deles, então ela era Sara Lowis e já foi noiva dele, mas o negou e até hoje, se não me engano, era uma senhorita solteira, mesmo já tendo passado da idade de casamento... A senhora Lorenze falava dela com tanto desprezo que não tinha como se esquecer. Pisquei surpresa. Sara era linda e parecia ser muito doce, não fazia sentido que só por ter rejeitado um conde ela estaria destinada a viver solteira contra sua vontade... Que coisa cruel...

— Vocês fazem um belíssimo casal! — ela exclamou alegre demais para parecer verdadeiro. Ryan apertou meu braço e eu me senti estranha. Ela estava mentindo, pude perceber pelo seu olhar que aquela afirmação não era verdadeira. Ao menos não antes de estar envolta de incômodo. Ela agia igual Yuna quando fingia estar gostando de algo, seus lábios tremiam.

— Como está o Marquês Pitthan? — perguntou Ryan e eu pisquei curiosa, quem seria este novo nome? Observei Sara atentamente e ela piscou visivelmente incomodada com a pergunta.

— Muito bem... — disse quase sussurrante.

— O conheci brevemente, mas me pareceu ser um ótimo homem, a senhorita deve estar imensamente feliz...

Pisquei olhando o chão. Que situação mais desconfortável, Ryan não parecia lhe dar alfinetadas, mas ao mesmo tempo parecia. Prensei os lábios tentando parecer o mais natural possível.

— Sim, ainda estou o conhecendo. Nada é certo, ainda posso mudar de opinião... — afirmou ela e eu a olhei, depois encarei Ryan que mantinha seu sorriso social. Eles estão trocando farpas, ou era impressão minha? Olhei para Núbia que sorriu sem jeito.

Talvez Sara tivesse sentimentos por Ryan..., mas se ela tem sentimentos por ele, e ele por ela, por que não se resolvem? Se se resolvessem, eu poderia logo voltar a minha realidade e deixar de estar ali, de estar vivendo aquela mentira!

Talvez eu devesse ajudá-los. Se eu os ajudar a se retratar, irei conseguir ir embora daquele lugar. E o que eu faria depois? Não poderia voltar para a casa Wamura... Não importa. Precisava acabar com aquilo logo, só assim para me ver livre daquela situação... Espero que eu consiga.

Porém as coisas não eram tão simples como eu gostaria...

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