CAPÍTULO 20

420 88 20
                                    


Assim que a porta da sala de visitas se abriu, eu olhei uma mulher de cabelos pretos e olhos bem puxados. Ela me deu um lindo sorriso.

— Estive esperando por vocês! — Abriu os braços se aproximando. Encolhi os ombros. Não imaginei que ela fosse semelhante a mim, muito menos que não parecesse uma nobre arrogante como imaginei que seria, então quer dizer que Ryan... — Oh, minha nossa! Yuna! Olhe como você cresceu! — Ela se aproximou tocando minhas mãos e eu estremeci. Oh, céus. Não é do meu feitio enganar as pessoas... Isso é muito assustador... — Vamos, pedi que preparassem um lanche, creio que deve estar com fome depois desta longa viagem...

Sorri sem graça e assenti. Precisava dizer alguma coisa, qualquer coisa...

— Vocês têm um belo jardim — falei a primeira coisa que veio em minha mente e ela sorriu de forma amigável.

— Certamente. Minha filha mais velha gosta muito dele.

Uma filha mais velha? Eu não sabia que o conde Venoza tinha uma irmã... Ele nunca mencionou isso em suas cartas.

— Adoraria conhecê-la — falei meio tímida e ela sorriu.

— E vai. Logo ela deve aparecer para se apresentar...Imagino que a viagem foi cansativa.

E como! Foi mais de um dia de viagem.

— Sim — assenti. — Obrigada.

Assim que chegamos no aposento onde estava disposto o chá da tarde, logo vi uma mulher de cabelos ruivos. Pisquei. Eu achava muito linda aquela cor de cabelos.

— Núbia! — A voz da senhora Venoza me assustou. Olhei para ela nervosa. — Não imaginei que estivesse aqui, nunca vem receber as visitas! — A senhora Venoza se virou para mim com aqueles seus olhos afiados e sorriu. — Esta é minha filha mais velha, Núbia Venoza. — Apresentou a menina que se levantou e me deu um abraço breve. Sorri sem jeito. — E este é meu filho, Ryan Venoza.

Pisquei olhando aquele homem se levantar. Céus. Engoli a seco sentindo um desespero chegar na ponta do meu estômago. Era ele! O cavalheiro de antes! Senti minhas bochechas formigarem de constrangimento. Não acredito que tratei um conde daquela forma! Mas não era isso que deveria fazer?

Ele se aproximou dando a volta na mesa, então segurou minha mão mesmo que eu não tenha a levantado. Arregalei os olhos ruborizando.

— É um imenso prazer, Senhorita Wamura — disse ele beijando os meus dedos enquanto olhava diretamente em meus olhos. Pisquei nervosa.

— É um imenso prazer — repeti pigarreando e juntei as mãos assim que ele a soltou sem saber o que fazer.

— Sente-se aqui. — Apontou a senhora Venoza para uma cadeira que ficava de frente a dele e ao lado de Núbia.

— Certo. — Me senti ainda mais tensa. Como eu poderia comer com ele de frente para mim?! Quem deveria estar ali era Yuna! Tenho certeza que ela se interessaria quando o visse. O olhei de relance sentindo toda a minha decisão vacilar, ele era bem diferente do que imaginei que seria! Ryan tinha os ombros largos, seus cabelos eram escuros como os meus, porém estavam partidos no meio com algumas mechas que lhe caíam sobre as têmporas. Seu rosto tinha uma mandíbula bem desenhada e seus olhos eram bonitos, assim como todo seu rosto. Ele olhou-me e eu desviei o olhar para o prato com um pedaço de bolo e empadas que foi colocado em minha frente. Comi em silêncio apenas esperando o momento em que poderia voltar a meu quarto e poder descansar em paz. Onde eu poderia ser eu mesma, livre dos olhares de nenhum deles.

Logo reparei que sua irmã, Núbia, era bem séria e calada, mas seu olhar tinha uma presença bondosa. Quando o senhor Venoza chegou, logo entendi por que eles tinham filhos tão diferentes. O Conde Arthur Venoza seguia o padrão de um perfeito nobre odioso daquele país, era loiro e tinha os olhos esverdeados. Ele sorriu assim que me viu e se juntou a mesa.

— Você se atrasou — alertou a senhora ao esposo.

— Sinto muito — disse ele sorrindo, então olhou-me. Pisquei. — Seja bem vinda, senhorita Wamura. Gostaria de estar aqui mais cedo para recebê-la, mas tive assuntos urgentes para resolver — explicou ele.

— Tudo bem, é um imenso prazer também — falei e ele assentiu satisfeito.

Parei para olhar toda aquela cena. Nunca tinha comigo em uma mesa tão farta como aquela ou com pessoas como aquelas. Geralmente minhas refeições eram feitas sozinha na cozinha ou com outras cozinheiras. Apesar de fazermos quase tudo juntos, o senhor Wamura não permitia que compartilhássemos da mesma comida, isso me lembrava que nunca fui uma irmã adotada como Yuna gostava de me apresentar para as pessoas. Mesmo depois que ele morreu, nunca comi com eles.

A sensação de comer com outras pessoas trazia um conforto diferente, talvez por isso, não entendia quando Ren contava sobre a falta que sentia de fazer as refeições com seu pai. Suspirei e voltei a comer.

Espero que Ren esteja bem. Mesmo que ele tenha me magoado profundamente, o sentimento que tinha por ele não deixou de existir simplesmente da noite do dia. Pensar nele ainda fazia meu coração disparar, eu ainda sonhava com um beijo seu e passava horas lembrando de seus abraços apertados quando mais jovem. Imaginava como seria me envolver por seu calor, com seu toque delicado em meu rosto e o gosto e textura de seus lábios. Suspirei fitando meu prato.

A verdade era que Ren era um covarde, aposto que ele falou aquelas coisas por que sua tia lhe pediu. Pude perceber seu olhar surpreso ao perceber que eu havia escutado. Me recusava a acreditar que seu olhar para comigo não tinha nenhum sentimento. Ren podia ser tudo, menos insensível, ele jamais usaria palavras tão duras para se referir a mim, não é?

Eu queria mesmo acreditar nisso. Meu coração queria acreditar nisso, mas ao mesmo tempo, ele estava tão ferido que me fazia pensar que tudo isso não passava de ilusões minhas. Por isso, eu deveria pôr um fim nessa paixão de uma vez por todas. Nas semanas que fiquei trabalhando naquela família, Ren nunca foi me visitar, muito menos explicar suas palavras para mim. Eu realmente não tinha importância alguma.

Funguei me sentindo triste e reparei que Ryan me analisava. Arregalei os olhos sentindo a culpa se alastrar novamente. Não acredito que agi daquela forma em frente dele, agora ele deve desconfiar se sou realmente uma condessa... Minha nossa... No combinado com Yuna ele poderia odiar-me, mas jamais desconfiar da minha identidade, será que percebeu que não era uma nobre?

Criei coragem e o observei nos olhos. Ele piscou e o vi sorrir como se tivesse divertindo-se com aquilo. De alguma forma, aquele sorriso me irritava a tal ponto que me sentia ferver por dentro. Não entendia por que meu corpo reagia desta forma, mas definitivamente não gostava que ele sorrisse de mim daquela forma, quase como se estivesse me desafiando a algo e isso fazia um lado meu que nem sabia que existia se rebulir.

Era fato que eu precisava analisá-lo. Por qual motivo ele queria este casamento? O que o movia para esta ação tão repentina? Eu descobrindo a causa, o motivo, certamente conseguiria fazê-lo mudar de ideia.

Mas ao contrário do que imaginava, os motivos eram outros. 

O CONDE QUE EU AMAVAWhere stories live. Discover now