CAPÍTULO 39

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O CONDE QUE EU AMAVA



—Parte 3—



Aquela reunião na sala não passou de um pesadelo para mim, e apesar de ter medo da reação de Selena ao descobrir tudo, o que me deixou mais aflita foi o fato de que ela não falou absolutamente nada a respeito da mentira e agiu como se eu realmente fosse sua sobrinha, mesmo que olhando no fundo de seus olhos, eu podia ver o desgosto ecoando.

Enquanto Selena e a senhora Venoza conversavam calorosamente, eu me sentia gélida por dentro e por fora, como se meu sangue tivesse petrificado. Suava de nervoso e senti vez ou outra minha visão escurecer pelas bordas.

— Minha nossa, querida — A senhora Venoza reparou meu estado. — Está com um rosto pálido, aconteceu alguma coisa?

Vi a hora que Selena me olhou séria, Ren nem sequer olhava em meus olhos, muito provável que estivesse com raiva de mim e de Yuna, não podia culpá-lo por isso, pois naquele momento me sentia a pior das pessoas.

— Apenas cansaço da viagem, na verdade... estou me sentindo um pouco indisposta.

— Ah, minha nossa, que modos os meus, minha sobrinha acabou de voltar de viagem e eu já obrigo a passar a tarde aqui... — Selena falou fingindo preocupação e eu sorri meio sem jeito. Queria apenas sair dali e poder ficar sozinha.

— Por que não vai descansar, querida? — A senhora Venoza sugeriu. — Eu e minha amiga ainda temos muito o que conversar, imagino que no jantar esteja mais disposta se descansar agora.

— Sim, eu irei. — Me levantei rapidamente pensando em fugir daquela mansão, se eu fosse rápida, talvez conseguisse estar longe dali até a hora do jantar, mas minhas esperanças foram ao chão quando Selena se levantou.

— Eu acompanho minha querida sobrinha até o quarto, quero ter uma palavrinha com ela — Me olhou fuzilando com o olhar e eu estremeci. — Faça companhia para minha amiga, querido — disse a Ren, que continuava a evitar-me.

Então Selena me segurou pelo ombro delicadamente e me conduziu em silêncio pelo corredor. Sentia como se estivesse sendo levada para o matadouro, como se ao chegar lá, ela fosse me matar. Fechei os olhos com força e quase tropecei na escada.

Beatriz veio atrás de nós, mas ficou do lado de fora do quarto quando entramos. Eu estava preparada que ela gritasse comigo, mas ao invés disso a mulher riu.

— Não sei onde você e a Yuna estavam com a cabeça quando inventaram isso, mas eu achei expendido... — concluiu e eu a olhei sem compreender o por que dela estar me dizendo isso.

— Não entendi...

— Ninguém lhe conhece nesse país, muito justo já que Yuna pouco saía para socializar, seu rosto é delicado e quando está bem vestida e com os modos que copiou de minha sobrinha, pode enganar esses idiotas.

— Que? — Estava incrédula, ela não estava me repreendendo, estava me estimulando a continuar com aquilo?

— Me escute, para seu bem, você vai continuar com isso até o fim — falou ela decidida andando de um lado para o outro no quarto.

— O que? Mas..., mas e Yuna? — perguntei trêmula, não era esse meu plano! Eu não queria enganar Ryan mais do que ando enganando, por favor.

— Não importa, Yuna está morta de qualquer forma... — balançou a mão como se se referisse a um rato que morreu, a um animal insignificante e se valor, cerrei os punhos e percebi que havia puxado a minha respiração tão forte que ela veio rasgando minha garganta. Morta? Não! Não podia ser! Yuna não morreu, morreu?

— Morreu? — resmunguei incrédula. Como ela pode ter morrido? Não, isso era impossível... Até algumas semanas atrás eu recebi cartas dela, e ela estava bem... como pode...

Percebi minha respiração ficando irregular.

— Ah, pare de drama. Aquela menina apenas me causaria dor de cabeça de qualquer forma, colocar você no lugar foi uma estratégia que nem mesmo eu teria pensado, assim não perdemos os Venoza.

— Como pode... ela era sua sobrinha... — falei desacreditada de sua frieza. — Não sente absolutamente nada? — perguntei já com a voz trêmula e os olhos marejados. Por que todas as pessoas que eu amo acabam morrendo?

— Por que deveria? — Ela se aproximou brava de mim — a culpa é toda sua — vociferou. — Se não tivesse aceitado este plano, ela jamais teria feito o que fez, não encontrariam o corpo dela em estado lamentável, você a incentivou, agora arque com as consequências...

Não... eu sempre fui contra este plano desde o início, eu apenas queria ajudá-la...

— Ela era minha ama...

— Você já havia sido demitida — Ela se aproximou ainda mais de mim e eu desviei o olhar para o chão me sentindo trêmula. — Você sabia que Yuna tem miolos a menos, mas ainda assim, quis seguir com os desejos infantis e perigosos dela, agora ela morreu e sobrou você. O que quer fazer, hein? Fugir e abandonar sua responsabilidade?

Abandonar... Essa palavra me causava arrepios, eu não a abandonei, eu apenas queria que ela encontrasse o que estava procurando! Sem perceber, lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e eu funguei as limpando com o dorso da mão.

— Eu não posso fazer isso...

— Se tivesse dito isso antes, as coisas teriam sido diferentes, agora, minha querida. Aprenda de uma vez por todas que não saber dizer não te faz um pião. E é isso o que você sempre foi e sempre será, uma inútil que só serve quando for mandada. — Sorriu de forma maldosa, como se tivesse falado uma frase incrível, quando na verdade, a única coisa que me fez foi despedaçar o coração e reafirmar aquilo que minhas inseguranças apontavam.


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Só por que me pediram muito kkkk

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O CONDE QUE EU AMAVAWhere stories live. Discover now