A doutora sorriu.

— Certo. — tão serena quanto poderia ser, disse, e a gentileza em sua voz era uma boa característica sua. Ela não precisava forçar nada, simplesmente era. — Então, antes de começarmos, Sterling, gostaria que soubesse que costumo conduzir as minhas sessões informalmente. Eu prefiro que seja dessa forma, detesto coisas engessadas.

        Paciente. Srta Wesley. Você. Jovem. Bom, que fosse! A questão era que Sterl não estava esperando ser chamada pelo nome. Melissa poderia ter empregado qualquer chamativo para se dirigir a ela e passaria tecnicamente despercebido, todavia a decisão inconsciente de usar o nome fizera toda a diferença para o início da conversa. Uma diferença positiva. Ser chamada por seu próprio nome causou em Sterling uma sensação boa de reconhecimento e de igualdade, como se ela e a doutora não estivessem em patamares distintos. A tensão gerada pela ideia da hierarquia se desfez em ruínas e a Wesley se despiu da dureza que não lhe era compatível, permitindo-se relaxar um pouco. Bem mais que antes.

— Eu me chamo Melissa ou, se preferir, Mel. É um pouco cafona, mas ainda é válido. — e riu um riso divertido para quebrar o gelo. — Nada de Doutora Jansen por aqui, tudo bem?

          A menina assentiu com a cabeça, ciente das condições.

— Bom, — a mulher pigarreou antes de começar. A fala era macia. — a ideia da primeira sessão é que eu conheça um pouco sobre você e entenda os seus motivos para ter vindo. Uma introdução. Mesmo assim, quero que saiba que você não precisa se sentir pressionada a falar tudo de uma vez.

— Ok. — fora só o que conseguiu responder.

         Sterling não se sentia intimidada, mas também não estava totalmente à vontade. Melissa entendia, já passara por situações como esta milhares de vezes. Alguns pacientes seus preferiam escrever os tópicos num papel para não se esquecerem de nada e, assim, contavam-lhe tudo o que os importunava. Era interessante quando acontecia. Já outros, transmitiam para uma folha seus sentimentos mais profundos e pediam para que ela lesse para entender. Uma terceira parte, desprovida de timidez, falava absolutamente tudo o que lhes vinha à mente assim que chegavam. Mas a grande maioria era como Sterling: iam se abrindo bem aos poucos. E estava tudo bem, não existia um jeito certo de começar. Cabia à doutora e somente a ela compreensão, paciência e dinamismo para lidar com cada caso.

         Melissa prendeu a caneta azul em sua prancheta pela tampa e a deixou de lado para que suas mãos ficassem livres. Cruzou-as no colo.

— Então... Por que não me conta quem é a jovem que veio com você?

— A que está na sala de espera?

— Sim.

         A resposta foi automática.

— É a minha irmã gêmea.
        
         Entretanto, quando ponderou segundos mais tarde, retificou o que disse. Como era uma conversa informal, não faria mal contar a verdade, muito embora nem pensasse nisso como uma mentira. De qualquer forma, esconder os detalhes não serviria de nada.

— Bom, quero dizer, ela é a minha prima. Minha prima. É isso.

         Uma das sobrancelhas de Melissa se ergueu em curiosidade imediatamente. Um conflito? Devagar, foi se achegando. Delicada, foi desbravando os mistérios da adolescente.

— Sua prima? — quis saber só para confirmar. Estudou a menina com discrição. — Ela seria, então, aquele tipo de prima próxima que a gente considera uma irmã?

           A negação foi demorada.

— Não. Não... Acho que não. — Sterl se ajeitou na poltrona, provavelmente procurando uma melhor posição para disfarçar o desconforto diante daquele levantamento. Seu rosto se contorceu numa sutil expressão soturna. — Descobrimos recentemente que não somos irmãs. Minha mãe, na verdade, é a minha tia.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Where stories live. Discover now