Srta. Bela Adormecida

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            Na sala de aula, a loira era a própria personificação da preguiça: os olhos estavam fechados, cansados, e a bateria encontrava-se muito fraca para manter os motores funcionando, descarregada demais para dar corda ao cérebro para fazê-lo funcionar durante o resto da manhã. Se os senhores Wesley vissem o estrago que devolver o celular fizera com ela, certamente não pensariam duas vezes antes de pedirem o aparelho de volta.

          Tarde demais!

          E não demorou muito para que o sinal tocasse, indicando o fim da primeira aula da manhã. Sterling despertou num sobressalto. Blair riu, é claro, enquanto guardava seus materiais dentro da mochila. A outra fizera o mesmo, mas com uma lentidão absurdamente fora do comum. A próxima instrução seria química.

— Você já dormiu bastante por hoje, srta. Bela Adormecida. — a mais velha acusou ao se colocar de pé. Sterling coçou os olhos, acostumando-os com o dia. — Agora é a minha vez. Química é um saco! Não vou aguentar ficar acordada nem dois minutos.

          Mas a mais nova nem fez questão de responder, sequer pensava direito no momento. Além disso, não se via em condições de fazer acordos com absolutamente ninguém sobre não dormir nas aulas daquela manhã, pois provavelmente não os cumpriria.

          Blair seguiu a frente, visto que sua passada era mais larga e um pouco mais enérgica, enquanto Sterling foi se arrastando logo atrás... Mas parou no meio do caminho: o coração na boca, as mãos tremendo. Parou quando ouviu a voz de April chamar por seu nome pedindo que ela a esperasse. Sem contestar, o fez. Um bolo na garganta, entretanto, impedia que ela respirasse com tranquilidade.

          A mais velha espiou por cima de seu ombro à medida que continuava andando, mas apenas para checar o cenário que se desenrolava: sua gêmea completamente estática no meio do caminho e a Stevens, com a fisionomia séria, indo falar com ela. As irmãs trocaram um olhar rápido, eloquente, que fora o suficiente para Blair entender que era melhor ir para a sala e deixar as duas conversarem sozinhas.

— Vou guardar o seu lugar. — ela murmurou, mas não teve certeza se fora ouvida. Dando de ombros, foi embora.

           April respirou fundo mais de uma vez. Nervosa, mordiscou os lábios superiores conforme se aproximava. Sterling, por outro lado, inquieta, pôs os cabelos soltos caídos no rosto para trás das orelhas e ficou mexendo nos próprios dedos.

— Oi. — Stevens disse de repente, e o tom sereno de sua voz maquiou a apreensão.

— Oi. — a Wesley retribuiu o cumprimento e esforçou-se para sorrir.

— Você tá legal? Vi que dormiu a aula quase toda. — e riu um pouco. — Tudo bem que não é lá a melhor aula do mundo, né, mas...

— É que eu li que a gente absorve noventa e cinco por cento do conteúdo quando estamos dormindo.

           April, cética, ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços.

— Ah, é? E qual é a fonte dessa pesquisa aí?

— A fonte sou eu mesma. — respondeu seriamente, como se estivesse falando de algum assunto relevante. Mas não resistiu ao seu próprio comentário e deixou uma risada divertida escapar. April a acompanhou.

— Muito engraçada, você.

           E as duas, com os olhares desviados para qualquer lugar e um sorriso nos lábios, permaneceram em silêncio por um tempo apenas apreciando o momento. Entretanto, voltaram a se encarar e a fisionomia alegre foi se transformando em uma neutra, depois numa mais afetada. E o desconforto se fez presente.

— A verdade é que eu só queria saber se você estava bem mesmo. — disse April, mas era certo de que havia muito mais a ser dito, só que se calou. Acreditou que não era o melhor momento. — Então... Está tudo bem?

— Está, sim. — ratificou, passando segurança.

— Ok... — soltou um silvo aliviado. — Bom... Acho que já vou indo.

— Uh... Ok. Ok, certo. — Sterling assentiu com mais energia do que gostaria de ter feito, mas logo se lembrou de que não poderia deixá-la ir, não ainda. — Ah! Ei, April... Uh... — e coçou a testa, desconcertada. — E-eu... Eu preciso falar com você uma coisa.

— Precisa? — e o tom de sua indagação deixou claro que ela tinha muitas esperanças no que seria dito, embora não quisesse ter se acusado daquela maneira tão explícita.

           Esperança no quê, April não saberia dizer ao certo. Mas talvez em uma segunda chance de tentarem. De recomeçarem. Esperança de tê-la de volta ou de ouvi-la dizer que, sim, pensara bastante na proposta e decidiu que ficaria. Mas não queria ter tanta esperança, também, apesar de ser inevitável.

— O que você gostaria de dizer?

          Mas Sterling se sentiu extremamente culpada, culpada demais para ter coragem de contar a verdade. Não conseguiu. Pensou que era forte o suficiente para lidar, mas não era. Não foi capaz de formar nenhuma frase coerente, nada, elas simplesmente não queriam sair de sua boca, então as engoliu de volta. Engoliu com amargor.

— Sterling?

— Uma outra hora, talvez. — desconversou rapidamente, querendo fugir da encruzilhada. — Tenho aula de química agora, preciso ir.

— Eu também estou indo para a mesma aula que você, se não se lembra. — a confusão ficou expressa em sua fisionomia. — Por que está com tanta pressa? Podemos ir juntas.

— Uh... Eu-Eu — e tentou encontrar a desculpa mais esfarrapada que conseguiu. — Eu tenho que ir no banheiro.

— É caminho. — argumentou, não sacando a jogada. — Quer que eu vá com você?

— Não! — estrilou, porém logo se desculpou, porque não havia sentido nenhum estar agindo daquela forma estúpida. — Não precisa, mas obrigada. Pode indo na frente, eu já vou.

           E antes que April tivesse a oportunidade de argumentar outra vez, Sterling partiu em disparada ao banheiro, os passos extremamente apressados, como se tivesse engatado a quinta marcha e pisado fundo no acelerador. Stevens respirou profundamente, intrigada, enquanto a assistia sumir de sua vista. Era a segunda vez que aquilo acontecia e percebeu que detestava passar por esse tipo de coisa, porque ficava parecendo uma idiota plantada no meio do caminho.

          Ajeitou a mochila nas costas, puta da vida, e marchou pesadamente em direção à sala de aula. Estava certa de que confrontaria Sterling quando surgisse uma nova oportunidade. Naquele momento, mais do que nunca, exigia saber o que de tão importante a garota tinha a lhe dizer, fosse o que fosse.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Onde histórias criam vida. Descubra agora