Respirou fundo quando as gêmeas voltaram suas atenções a ela; sendo assim, deu prosseguimento à narração.

— Mas suponho que queiram saber a origem de tudo...

— Queremos. — disseram em uníssono.

— Certo. Façamos, então. — aceitou o desafio sem pestanejar, embora estivesse bastante nervosa. Juntos, embarcaram numa viagem de volta ao passado turbulento dos Culpepper, mais precisamente no ano de 1996. — Dana e eu sempre fomos muito próximas na adolescência. Por mais que ela fosse a gêmea mais rebelde sem causa, nos dávamos bem. O mesmo não podia ser dito do relacionamento dela com os nossos pais, infelizmente. Sempre houve muito atrito, mais ainda quando ela decidiu se tatuar e colocar piercings em tudo que é parte. Depois, a fumar e a beber como se não houvesse o amanhã. De início foi só para afrontá-los, mas começou a ser algo que ela tomou gosto por fazer, e isso não foi bem visto por ninguém, até porque éramos de uma igreja bastante rigorosa num bairro pequeno. Todo mundo sabia da vida de todo mundo. — revirou os olhos e balançou a cabeça em negação, sinal de que reprovava aquele tipo de coisa. — E as pessoas comentavam...

— Certamente não tinham nada melhor para fazer. — Blair disse baixinho, mais para si que para os outros.

— Ela não era uma pessoa ruim, mas era vista como uma pelas atitudes que pareciam erradas aos olhos dos outros. Então ela assumiu o papel. Em sua cabeça, tendo em vista que sua imagem já estava manchada perante os outros, acreditou piamente que nada de bom que fizesse faria diferença. E foi esse tipo de pensamento que a destruiu aos poucos. — Debbie suspirou pesadamente. — Por mais que eu tentasse convencê-la do contrário, todos ao redor gritavam em seu ouvido coisas ruins, como se ela fosse a pessoa mais terrível do mundo. Sua defesa contra os ataques foi confirmar através de atitudes que eles sempre estiveram corretos ao seu respeito, isto é, ela passou a agir como uma má pessoa. Então surgiram os pequenos delitos, os furtos, o envolvimento com gente que não prestava, a complicação com a polícia vez ou outra e, alguns anos mais tarde, o relacionamento com o tal de Mairon.

              Sterling ouvia com atenção a história e cada vez mais sentia tristeza pelo modo autodestrutivo que sua tia, mãe, que fosse!, encontrou para encontrar paz interior. Numa busca silenciosa por ser aceita e por ser feliz, teve como castigo o julgamento daqueles que mais deveriam acudi-la, gerando dentro dela combustível suficiente para que se autoinflamasse ao ponto de se perder de si mesma e de seu próprio caminho. Não que isso justificasse, mas parecia explicar bastante coisa.

— Ela se apaixonou perdidamente por esse cara e eu sabia que não era uma boa ideia desde o primeiro momento em que eu os vi juntos. Como éramos amigas, me senti na obrigação de fazê-la enxergar que ele não era lá um bom sujeito. Mas no lugar de ter a sua compreensão e entendimento, recebi o seu ódio. Ela se voltou contra mim dizendo que eu estava com inveja de seu relacionamento e que eu queria destruí-la como os outros. Francamente! Como consequência, foi embora de vez de casa para morar com esse homem e se afastou de mim. De todos. — a raiva ao falar de Mairon era bastante palpável na voz da sra. Wesley. Lendo a sua fisionomia, dava para ver que ela guardava no fundo do baú de seu coração um rancor acumulado. Mas quem poderia julgá-la, afinal? — Não que Dana parasse em casa antes, de qualquer maneira, mas vê-la fazer as malas e partir me deixou desolada por um tempo. É claro que eu senti, era a minha irmã.

                 Debbie se aconchegou mais na beirada do colchão das meninas, olhando para baixo por um longo instante, apenas uma desculpa para que os outros não vissem a lágrima que escorreu por seu rosto, solitária. Doeu, pois era uma introdução à parte triste da história.

— Quando ela se foi, nossos pais preferiram se mudar da cidade para evitar os comentários desnecessários e as perguntas inconvenientes dos outros. Fomos para um lugar um pouco mais afastado, mas não tanto, para que não nos desprendessemos da vida que estávamos acostumados a viver e de nossas culturas. E vivemos lá por algumas semanas, até que, num fatídico dia, voltando do trabalho, eu encontrei os meus pais mortos no chão da sala. — nesse instante, fora fria para não se deixar fraquejar, porque esse assunto ainda mexia demasiadamente consigo. — Com a ajuda da perícia, descobrimos que o assassino fora aquele desgraçado inútil do Mairon. Nunca nos foi revelado a verdadeira intenção daquele pedaço de comida estragada, mas aposto que tenha sido porque os meus pais nunca gostaram dele, nunca o aprovaram, e ele deve ter ficado com tanta raiva que se vingou. Porém eu tinha as minhas dúvidas. Acreditava que Dana tivesse alguma coisa a ver também, já que os três também nunca se deram muito bem. Só que na época eu não achava que ela poderia ser tão monstro assim para ajudar o namorado a fazer tal coisa, porém hoje eu percebi que talvez ela fosse. Foi por isso que nunca falamos muito dos meus pais para vocês.

Teenage Bounty Hunters 2 (Stepril)Where stories live. Discover now