O vizinho

By BrendaSousa373

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Ella Watson vive uma vida triste e monótona ao lado do marido abusivo que parece querer fazer da sua vida um... More

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Capítulo especial
Agradecimentos

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By BrendaSousa373

—– Clarice, que surpresa, não estávamos esperando pela sua visita, entre —  Falei me levantando para recepciona-la

Meu filho tinha sugado a minha alma, mas apesar da exaustão consegui colocar um sorriso no rosto.

Fora que eu não dormi nada e pareço um zumbi.

Tinha me esquecido dos dias de luta.

Ela entrou e Diego bateu a porta com força atrás dela, demonstrando o seu entusiasmo em revê-la.

Lancei um olhar mortal pra ele, sem ela perceber.

Depois olhei pra ela e mantive um sorriso congelado no rosto até ela se aproximar.

—– Sente - se — Apontei para o sofá e ela se sentou.

Me sentei logo depois e encarei entusiasmada.

Ignorando a dor nas costas e o cansaço que me fazia ofegar.

Eu tenho uma dívida enorme com essa mulher, tenho sempre que recebê-la como se fosse a rainha da Inglaterra
visitando a minha casa.

Pena que não posso dizer o mesmo de Diego que se sentou do meu lado e ficou desdenhando ela.

Infelizmente ele ainda fica estranho com a presença dela.

Ele não a perdoou totalmente por ter matado o irmão dele.

—– Eu soube da gravidez, queria ter vindo antes, mas fiquei muito atarefada esses dias, meus parabéns — Clarice disse olhando pra mim e para Diego

—– Obrigado — Cutuquei o Diego e ele sorriu falso.

—– Mas vim aqui também por outro motivo, Ella — Ficou séria de repente — Fiz uma nova investigação e tenho  informações valiosas que possam interessar vocês.

—– Não estamos interessados — Diego se adiantou

Fuzilei ele com olhar, e ele encolheu os ombros como se não tivesse falado nada demais.

Tocar nesse assunto ainda é muito delicado pra ele.

Estamos contando com a terapia de casal pra nos ajudar.

Usei uma das mãos livres para parar suas mãos agitadas.

Ele olhou pra mim com os olhos marejados e uma expressão de raiva.

Tenho que lembrá-lo quase todo dia que a detetive Clarice nos fez um enorme favor estourando os miolos do irmão dele, e que também se não fosse por ela, estaríamos presos.

Ele por homicídio, e eu por ter sido cúmplice

Sorri fraco pra ele, assegurando de que tudo ia ficar bem, e ele assentiu beijando a minha mão.

A gente ensaiou direitinho para quando ela viesse em casa, mas é normal que na prática fuja um pouco do controle.

Não somos feitos de ferro.

Voltei os olhos para Clarice.

—– O que você descobriu?

Quando ela ia dizer, sua atenção foi desviada para Annabelle que estava parada na porta da cozinha prestando atenção na conversa.

E ela se conteve em suas palavras por um momento e ficou admirando a beleza fascinante da minha enteada.

Cabelos compridos e loiros como o da mãe e olhos azuis herdados do pai.

—– Ah, essa é a Annabelle, a filha do Diego — Apresentei, fazendo um sinal pra Anna vir cumprimenta-la

Annabelle se aproximou um pouco retraída e estendeu a mão.

Ninguém acredita quando falo que Diego tem uma filha quase adolescente.

Que parece que come fermento, porque ela já está do meu tamanho.

—– Clarice, muito prazer — Ela apertou a mão de Anna com firmeza, e a fez sorrir.

—– Você gosta de bolo, Clarice? — Ela perguntou sorridente —  O meu pai comeu metade, mas eu posso fazer mais.

—– Gosto sim — Clarice assentiu com um meio sorriso sem tirar os olhos dela.

—– Então vou fazer um pra você — Ela deu de ombros empolgada

—– Não filha — Diego a parou — A detetive não veio comer não, veio pra tirar o nosso apetite mesmo

Annabelle fez uma cara confusa, e eu fechei os olhos, impaciente,  e eu me controlei para não arrancar a língua de Diego.

Quando ele ficou tão irritante?

—– Anna, leva o seu irmão lá pra dentro, que a gente precisa conversar sobre um assunto sério.

Ela assentiu e veio até mim, animada. Entreguei o bebê em seus braços com cuidado e sorri pra ela.

Ela o levou como se estivesse com a minha vida em suas mãos.

E ela estava.

Descobri recentemente que nem vida eu tenho mais, passei a viver em função do meu filho.

Mas Annabelle leva jeito para cuidar de criança, é ela que quebra o galho da Joy quando ela precisa deixar a Amber com a alguém.

E quando volta pra casa, encontra a filha vestida como uma boneca, além de bem alimentada.

—– Sua filha é muito bonita - Clarice falou pra Diego, mas ele a ignorou — É incrível a semelhança que ela tem com a Mia e as duas nem são parentes de sangue.

—– Também tinha notado a mesma coisa, as duas têm a mesma doçura —  Falei sorrindo entre as lágrimas — Onde conheceu a Mia? Tem notícias dela?

Ela ficou séria de repente e automaticamente o sorriso deixou o meu rosto porque eu sabia que isso não poderia significar boa coisa.

Lembro de Mateo dizer que as coisas não estavam bem na sua casa e que a Mia tinha se revoltado contra o mundo, depois da morte de Caleb.

Imagino que com a morte de Mateo as coisas ficaram piores.

—– Amor, quem é Mia? — Diego perguntou

—– A irmã de Caleb, da família adotiva — Olhei pra Clarice ao invés dele.

—– Ella, eu nem sei como te contar isso...

—– Fala logo.

—– Depois que Mateo morreu, a família Miller deixou de existir, o pai nunca foi encontrado, e a mãe dele não suportou perder mais um filho e se matou ingerindo uma grande quantidade de remédio pra dormir, e a Mia... - Ela fez uma pausa e suspirou —– Ficou sozinha... ninguém queria adotar uma garota como ela, rebelde, problemática, eu fiz o possível pra ajudá-la, acredite eu tentei, mas ela sempre fugia, se metia em confusões, não pude salva-la de si mesma...

—– E onde ela está agora? — Perguntei tremendo a sua resposta

—– Espero que em bom lugar.

—– O que? — Suspirei, arrasada.

—– Ela se matou.

—– Não, não é verdade — Soltei incrédula.

—– Também queria que não fosse, mas eu mesma fui buscar  o corpo para a perícia — Clarice disse friamente —Mais uma morte dessa família em que eu me envolvo, mesmo indiretamente

Levantei do sofá inquieta e andei um pouco pela sala sentindo um peso nas pernas.

—– Ella, você está bem?

Clarice levantou e caminhou até mim.

E antes que sua mão pudesse me alcançar, eu me virei e olhei pra ela com um misto de raiva e dor

—– Por que não mandou ela pra cá? eu teria ajudado ela, teria cuidado dela, dado o apoio necessário que ela precisava — Gritei em meio às lágrimas

—– Nem todo mundo tem a força que você teve Ella — Clarice disse enquanto eu chorava descontrolada — A garota vivia em um lar com dois psicopatas, uma mãe depressiva, viciada em remédios,  e um pai corrupto, ela já vinha com essa carga emocional muito grande, embora escondesse muito bem, eu fiz o que pude...

—– Amor, tente se acalmar, você ainda não pode ter emoções fortes — Diego disse preocupado.

Eu não tinha forças nem pra chorar.

As imagens de Mia se misturaram na minha cabeça. Balancei a cabeça e apertei os olhos com força afim de me livrar delas.

Mas aparecia uma atrás da outra, me deixando confusa.

Foram poucos os momentos que tivemos juntas, mas foram memoráveis.

Diego levantou e veio me abraçar, mas eu desviei dele e fui me sentar do sofá, desolada.

—– Viu só, o que você fez? —  Diego partiu pra cima de Clarice que o confrontou de frente.

Ambos ficaram cara a cara e a tensão que se formou entre eles era quase palpável.

Mas embora Diego estivesse furioso, eu sabia que ele seria incapaz de bater em uma mulher.

E ele nem teria chance com Clarice.

—– Diego — Falei quase sem fôlego — Deixe-a em paz, não foi culpa dela.

Ele me olhou incrédulo, como se eu tivesse dito a coisa mais horrível do mundo.

—– Amor, ela tem que ir embora, olha o estado que ela deixou você

—– Não sem antes ouvirmos o que ela tem pra dizer — Funguei e tentei me recompor

Sinto que conforme o tempo vai passando eu vou ficando cada vez mais fria.

E não sei se isso é algo bom.

Receber essa notícia foi muito doloroso, eu gostava de verdade da Mia, ela era doce, gentil e era a única que gostava de mim naquela família.

E eu sinto muito que ela não tenha conseguido se salvar.

Mas não vou ficar aqui remoendo mais uma perda lamentável, aprendi que não posso ficar tomando as dores dos outros o tempo todo e me culpando pelo o que eu deveria ou não, ter feito.

Cada um sabe o que faz da sua vida, e mesmo que seja doloroso dizer isso, ela fez uma escolha.

E não cabe a mim julgar isso, nem sofrer por conta disso.

Eu já estive no lugar dela, e posso afirmar que a morte é a melhor solução, e me considero uma guerreira por não ter recorrido a ela, porém acredito que o apoio da minha família foi essencial nesse processo.

E a Mia.

Não tinha ninguém.

—– Mas...

—– Diego, cala essa boca, e vem sentar logo aqui e escutar o que ela tem pra falar — Soltei impaciente e anestesiada pela dor —  Vamos acabar logo com isso de uma vez por todas, eu estou exausta...e estou cansada de você o tempo todo atrapalhando, se não quer escutar, vai embora, a porta é a serventia da casa.

—– Essa casa também é minha

—– Não perguntei.

Ele me olhou sem acreditar que eu tinha mesmo dito aquilo, depois olhou pra Clarice como se pudesse derreter ela com os olhos.

Mas decidiu me obedecer e veio se sentar do meu lado, seus olhos azuis se encheram de lágrimas e acredito que tenha sido por conta da raiva que ele não conseguia controlar.

Mas eu sei que ele também está cansado de toda essa merda e só deseja que tudo acabe logo.

No fundo, ele só está procurando alguém pra culpar, assim como eu culpei a vida toda as pessoas erradas.

A detetive suspirou profundamente e depois se aproximou e se sentou.

Diego tremia do meu lado e seus punhos estavam cerrados, mas ele respirou fundo e procurou se acalmar.

—– É o seguinte, eu não vim aqui tirar o apetite de ninguém — Clarice fuzilou Diego, depois olhou pra mim com cara de poucos amigos  — Muito menos causar dor e sofrimento, eu vim aqui porque eu devo uma explicação a vocês, é o meu trabalho, e eu sei que vocês querem entender o porquê de tudo que vocês passaram, e querem  descobrir quem são os verdadeiros culpados, para pararem de culpar a si mesmo e os outros, e  poder finalmente fechar esse ciclo e seguir suas vidas em paz, acredite, eu também preciso encerrar esse caso ou vocês pensam que são só vocês que cansam, só vocês que foram afetados. E não pensem nem por segundo que minha intenção aqui é  prejudicar vocês, eu sou a principal interessada na felicidade de vocês, não foi a toa que poupei vocês de uma represália da polícia, não foi a toa que manchei minhas mãos de sangue. Eu nunca me envolvi assim em nenhum dos casos que investiguei, mas se vocês não quiserem ouvir o que eu tenho pra falar, então eu vou sair por aquela porta e vocês nunca mais vão me ver na vida, estão me entendendo?

O sermão de Clarice deixou tanto eu como Diego, assustados.

E ela nem fez pausa pra respirar, estava ofegante e furiosa.

O que fez eu me sentir mal por não ter me importado com os sentimentos dela, eu nunca perguntei como ela se sentia.

Afinal, por mais dura que ela seja, não deixa de ser um ser humano.

—– Não, detetive Morgan, se Diego prefere se afundar em um mar de culpa e ressentimento, problema dele, eu quero muito saber a verdade.

—–  Eu também quero saber a verdade - Diego concordou. E seu tom de voz soou mais calmo, dessa vez.

Ele parecia ter se conformado, finalmente.

Segurei sua mão e o encarei, orgulhosa,  apoiando sua decisão.

A detetive respirou aliviada por saber que finalmente iríamos deixá-la falar sem interrupções.

E logo assumiu a postura que conhecemos muito bem.

—– Estava certa sobre ele — Ela direcionou os olhos pra mim.

—– Sobre quem?

—– Thomas.

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