O vizinho

By BrendaSousa373

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Ella Watson vive uma vida triste e monótona ao lado do marido abusivo que parece querer fazer da sua vida um... More

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Capítulo especial
Agradecimentos

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By BrendaSousa373

Quando eu tinha treze anos, eu  costumava ter um desejo incomum por homens mais velhos e não entendia o porquê. Mas eu só sei que eu adorava olhar o Sr Simons, o nosso vizinho, regar as plantas da frente de sua casa, e quando ele olhava para mim e sorria, meu coração faltava pular pra fora do meu peito.

Ele era alto, cabelos grisalhos, olhos negros e penetrantes, tinha um físico de arrancar suspiros apesar da idade.

Ele devia ter uns quarenta anos.

Mas ele era um homem casado e parecia amar muito a sua esposa, enquanto eu a odiava pelo simples fato dela roubar toda a atenção que deveria ser pra mim, ou pelo menos era o que eu achava.

Visto que Simons me enxergava apenas  como uma criança rebelde e enxerida, ele adorava bagunçar as minhas madeixas e me dar bombons.

Ela não tinha noção do que suas mãos faziam comigo.

A minha sexualidade brotou em uma fase onde as garotas da minha idade brincavam de bonecas, e isso fazia eu me sentir diferente delas, eu me sentia adulta.

Eu vivia fantasiando uma vida com George Simons, e incluía o nome dele em todas as minhas brincadeiras, e em todas folhas do meu diário só dava ele, era uma espécie de obsessão.

Eu sempre procurava uma forma de deixar a vida de Brigitte Jones, sua esposa, impossível.

Quando não era cortando o varal de corda onde ela estendia as suas roupas, era puxando o freio de mão do carro, que ela esquecia a porta aberta, sempre que entrava com as compras em casa.

Só pra ter o prazer de vê-la correr desesperada atrás dele, e eu ainda roubava as guloseimas que ela trazia e me deliciava enquanto a assistia a cena.

Eu vivia espionando eles, e na maioria das vezes eu era flagrada, e Simons sempre levava tudo na brincadeira, assim como sua esposa que por incrível que pareça nunca guardou rancor de mim.

Porque ao contrário de mim, eles me enxergavam como uma filha mais velha, mas a minha mente era repleta de pecado, e por isso minha mãe me obrigava a ir  todo domingo na igreja, para que eu pudesse confessar.

Ainda bem que os padres sabem guardar segredos.

Eles sempre me levavam pra fazer compras com eles, e foi assim que aprendi a gostar de salgadinhos e guloseimas.

O dia que Sr Simons beijou a minha testa, eu nem dormi.

E no dia seguinte lá estava eu outra vez tornando a vida deles impossível novamente, eu já me sentia parte daquela família.

Eu disse ao padre um dia, que se Brigitte Jones morresse, eu não sentiria remorso, porque seria eu quem cuidaria do seu marido.

—– Ella, não posso te levar dessa vez — Simons falou com um estranho brilho nos olhos — Eu e Brigitte vamos ao hospital para fazer alguns exames.

—– Quais exames?

Ele sorriu malicioso e em seguida passou por mim, me deixando inquieta com todo aquele mistério.

—– Quais exames? — Gritei atordoada.

—– A gente se vê mais tarde, querida — Ele acenou sorrindo, e logo após isso, entrou em seu carro, me deixando ali parada sem entender nada.

Alguns dias mais tarde, eu soube que a  sua esposa teria um bebê, e com muita raiva eu arranquei página por página do meu diário e ateei fogo nele.

Isso me deixou muito mal, a ponto de não conseguir nem levantar da cama, porque eu entendia que um bebê era algo muito especial na vida de um casal.

Todas as famílias do meu bairro tinham bebês em sua casas, e isso deixava tudo muito harmonioso e feliz, e eu pensei que Simons jamais faria isso comigo e ele fez.

Eu me considerei traída.

Era eu, quem deveria ser a mulher dele, mãe dos filhos dele e não suportava a ideia desse espaço ser preenchido por outra pessoa.

Movida completamente pela impulsividade, eu fui até a sua casa e me declarei para ele. Eu disse que apesar do choque, eu o perdoei, falei com todas as letras que o amava, e tentei beijá-lo, mas ele me impediu e me afastou com suas mãos firmes e grandes, e com lágrimas nos olhos, ele  disse:

" Meu deus, Ella, você é apenas uma criança".

Essas palavras ficaram na minha cabeça por um bom tempo.

Eu sai da sua casa aos plantos, devastada pela rejeição, na minha cabeça perturbada, eu achei que as coisas ficariam melhores entre a gente se eu contasse para ele o que eu estava sentindo.

Mas ficaram bem piores, pois assim que desci a calçada da casa dos Simons, os  meus olhos imediatamente se encontraram com os olhos do meu pai.

.......

Eu não tinha lembranças tão claras disso, tem coisas da minha infância que eu não me lembrava com clareza,  até passar pela sessão de hipnose na psicoterapia e recordar esses momentos que também foram bem traumáticos na minha vida.

O meu pai odiava muito ele, e depois desse dia, ele me proibiu de chegar  perto dos Simons, e toda vez que ele me pegava o espionando, ele falava que ia  me bater até sangrar, mas fico feliz que ele nunca tenha feito isso, ao mesmo tempo que  penso que se ele tivesse feito isso ao invés de ter abusado de mim, doeria menos.

Eles tiveram uma discussão um dia e foi a primeira vez que eu vi o meu pai perder o controle, ele machucou muito o Sr Simons, o deixou com o rosto  desfigurado, e o susto ao encontrar o marido nesse estado fez com que Brigitte perdesse o bebê.

Meu pai criou uma paranóia de que naquele dia o vizinho teria abusado de mim, e por isso eu cheguei em casa aos berros,  o que foi uma grande ironia da sua parte.

Eu só descobri que meu pai fazia essas coisas comigo quando eu tinha quinze anos, e me neguei a acreditar.

Então até ali eu pensei que ele só estava tentando me proteger.

Depois disso, eu nunca mais vi George Simons, nem a sua esposa, pois depois de toda essa confusão, eles se mudaram.

Abrindo um buraco enorme em meu peito.

Foi chocante acordar e não vê-lo mais no jardim molhando as plantas, chorei até encharcar o travesseiro, chorei pelo bebê da Brigitte, pois eu nunca desejei mal a ele.

Agora eu entendo o quanto dói.

Depois de um tempo, visto que eu não poderia fazer nada pra mudar isso, eu me conformei.

......

Eu não sabia de onde vinha tanta raiva, e nojo de mim mesma, eu não entendia porque ao invés de olhar para os garotos da minha idade, eu olhava para os professores mais velhos e fantasiava com eles. Quando eu atingi a puberdade de fato, eu comecei a achar tudo isso, muito errado, e eu tinha vergonha de contar pra alguém, até mesmo para a minha mãe.

Eu sofria, porque eu me sentia uma aberração, minha libido se comparava a de uma mulher com crise de meia idade.

Minha mãe na maioria das vezes me pegava encarando o motorista do ônibus fixamente, e ela se sentia constrangida por isso, e muitas vezes me reprimia.

Sempre fui uma garota curiosa, mas a minha timidez muitas vezes me atrapalhava. Eu fingia interesse pelos garotos da escola porque eu não queria que minha única amiga me julgasse e se afastasse de mim, eu morria de medo da rejeição, de ficar sozinha, eu morria de medo de ser tocada, ao mesmo tempo que eu queria que me tocassem, e lutava incessantemente contra mim mesma para que não acontecesse.

A história do vizinho, eu contei pra Joy e ela riu, talvez por achar que era só uma fantasia boba de adolescente, levando em consideração que a gente amava romances impossíveis, e filmes onde a mocinha sempre se apaixona pelo vilão.

Mas eu não contei a história toda.

Se depender de mim, Joy nunca vai saber porque o vizinho se mudou da casa do lado.

Às vezes a gente fantasiava com os personagens das fanfics, e passava o intervalo inteiro comparando eles com os garotos da nossa escola.

A amizade da Joy foi fundamental para me desprender desse lado meu que eu não queria que viesse à tona. Por um tempo eu fui a garota tímida e calada, e me permiti viver a adolescência como tem que ser vivida, me privando de certos tipos de coisa. Mas os meninos me olhavam como se já soubessem da minha promiscuidade.

Como da vez que Patrick Teles tentou me beijar, e eu o empurrei.

  "Vadia"

Ele disse, e eu acreditei.

Mas Joy me consolou dizendo que garotos são assim, age como idiotas quando não dão o que querem.

E quando eu pensei que estava me libertando da minha personalidade promíscua, Caleb aparece na porta da minha escola e me faz reviver tudo outra vez.

Vi nele uma oportunidade de fugir da frustração, de sair da minha casa, pois naquele meio tempo eu tinha feito a pior descoberta da minha vida.

E a sucessão de acontecimentos depois foram consequências das experiências vividas no passado.

Todos os relacionamentos que tive giram em torno de um único trauma reprimido, e enquanto essa questão não for completamente resolvida, esse ciclo nunca irá se encerrar.

Os traumas quando não tratados corretamente tendem a ser repetitivos, mas isso acontece de uma forma inconsciente, você muitas das vezes nem percebe que está repetindo o mesmo comportamento anterior.

E eu tive que voltar na raiz do problema para poder resolvê-lo, e confesso que não foi uma experiência muito agradável, mas eu tive um apoio indispensável da minha terapeuta.  Buscar ajuda é sempre a melhor opção.

E acredito que com o tempo, os traumas não irão mais fazer parte da minha vida e eu vou poder finalmente viver em paz.

Ou pelo menos tentar....

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