O vizinho

By BrendaSousa373

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Ella Watson vive uma vida triste e monótona ao lado do marido abusivo que parece querer fazer da sua vida um... More

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Capítulo especial
Agradecimentos

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By BrendaSousa373

Cheguei na cafeteria por volta das dez horas, e depois de pagar o motorista, desci do carro apressadamente.

Chegando na cafeteria, avistei de longe uma mulher sentada, e notei que era a única ali. Então me aproximei.

—– Bom dia — Cumprimentei educadamente, mas assim que ela me olhou, o meu estômago revirou.

Diante de mim estava a mulher que fez tanto mal a Caleb, e que provavelmente o transformou em um ser cruel e impiedoso.

—– Bom dia — Respondeu enquanto olhava para os lados como se procurasse por alguém.

—– Antes que pergunte, fui eu quem mandei a mensagem.

Ela voltou os olhos pra mim e sorriu com os lábios selados. Arrastei uma cadeira e me sentei de frente pra ela, movida pela ansiedade.

—– Dois cafés por favor — Fiz um sinal para um moço que estava atrás do balcão, e ele assentiu

Depois voltei os olhos para a mulher, e um silêncio repentino pairou sobre nós.

—– Creio que deve estar aqui em busca de respostas  — Deduziu, se recostando na cadeira, enquanto me observava atentamente.

Reparei um pouco nela, e notei que ela  tinha uma aparência um pouco febril e descuidada, como se tivesse passado um tempo morando na rua, nem parecia ser a mãe de Caleb. Mas embora apagados, ali se notava seus grandes olhos azuis.

—– Por que você fica ligando para o meu marido, o que você quer? — Fui direto ao ponto, e fui correspondida por uma risada monstruosa que me fez remexer na cadeira...

—– Eu sou a mãe dele, e as mães ligam para os seus filhos — Ironizou.

—– Não mães como você.

—– Caleb teve uma puta sorte de ter encontrado uma boa família — Ela retrucou com uma voz falha — Uma mãe de verdade, que deu todo o carinho e amor que eu não fui capaz de dar, não fui uma boa mãe...

Senti uma raiva imensa ao imaginar que muita coisa poderia ter sido evitada, se ela simplesmente tivesse feito o seu papel de mãe.

Caleb não seria tão vazio de amor, como ele é hoje. E provavelmente teria sido um marido incrível.

—– Engravidei muito cedo, fui expulsa de casa, comi o pão que o diabo amassou, mas sei que isso não justifica nada, eu estava lá, e ele era o meu filho, tudo o que eu deveria ter feito era ter cuidado dele como uma mãe que se preze faria.

Eu só  conseguia sentir raiva dela. Uma mulher desprezível, sem caráter, uma pessoa que você nem pode comparar com um animal.

Como ela teve coragem de machucá-lo, era só uma criança.

As lágrimas saiam sem controle dos meus olhos, enquanto eu me espremia para aguentar só mais um pouco, eu precisava saber os motivos dela, eu precisava sair dali com alguma certeza de que Caleb não era o único culpado.

—– Era só eu, e ele contra esse mundo cruel e tenebroso, mas eu estava revoltada com tudo e todo mundo,  o pai dele era um desgraçado que só me batia e abusava de mim o tempo todo, e quando Caleb nasceu e pensei que a paz reinaria em casa, mas ficou pior...e ele sempre enfrentava o pai pra me proteger e acabava apanhando, eu tinha consciência de tudo isso, mas eu ficava paralisada sem consegui fazer nada pra tirar o meu filho das mãos daquele monstro..eu não fiz nada pra para-lo...eu simplesmente o abandonei...ele presenciou o pai tirar a própria vida, e depois disso algo parece ter mudado dentro dele...

Uma lágrima escorreu pelo olhar vago daquela mulher, mas ela a aparou rapidamente, e voltou a ficar inexpressiva.

Como se estivesse em transe.

—– Boa atuação eu quase acreditei em você — Falei  enojada, e ela virou os olhos na minha direção, e estudou bem as minhas expressões, depois sorriu fraco.

—– Eu conheço esse desespero, você se cansou dele, não é? e está aqui porque está procurando uma pessoa para culpar além de si mesma.

Deixei escapar uma lágrima.

—– Eu posso desistir dele, você não — Suspirei.

Foi o suficiente para ela se calar.

—– Eu só quero entender o porquê.

Franzi as sobrancelhas sentindo uma dor enorme.

Ela ficou um tempo inerte, procurando uma resposta válida na sua cabeça. E as rugas do seu rosto nem se moviam, como se ela não sentisse remorso.

—– Ele não é quem você pensa, garota —  Soltou, e eu notei que eu não estava falando com a mesma mulher — Ele pode até está se fazendo de vítima pra você acreditar que eu sou a grande culpada, mas ele não é diferente de mim, e nem do pai dele, somos todos iguais.

—– Caleb é o que é por culpa tua  — Esbravejei —  Você o transformou em um monstro.

—– Ele nasceu assim, acredite.

Eu deixava as minhas lágrimas  rolarem soltas pelo meu rosto, sem consegui esconder o quanto eu estava indignada e revoltada com o cinismo daquela mulher. Ela realmente queria que eu acreditasse que uma criança de oito anos é culpada de tudo de ruim que aconteceu com ela.

Depois ela assumiu as suas feições chorosas novamente, o que foi assustador.

—– Caleb tem razões de sobra pra me odiar, pra não querer falar comigo, mas tudo que eu mais queria agora era que ele me perdoasse... pode até não parecer, mas eu fiquei feliz quando vi a mensagem dele, porque como sou eu  que sempre o procuro, fiquei surpresa de saber que ele viria dessa vez, eu só queria olhar pra ele, uma última vez...

Revirei os olhos, e ela continuou.

—– Descobri uma doença recentemente, e o médico disse que não tem cura, e que eu só tenho alguns dias, e eu esgotei todo esse tempo, correndo atrás do perdão do meu filho.

—– E Acha que vai conseguir, pedindo dinheiro pra ele?

—– Ele sempre tem essa impressão de mim, mas eu nunca pedi dinheiro a ele, exceto para fazer algum tratamento.

—– Discurso pronto de viciado, me poupe.

—– Eu o amo —  Ela suspirou e notei uma mudança brusca em sua temperatura, ela estava começando a ficar pálida.

—– Ama tanto, que abusou dele e depois o abandonou, como se ele fosse um cachorro.

—– Não é verdade — Ela gritou, batendo na mesa — Eu nunca toquei em um fio de cabelo dele.


—– Faz um favor,  deixe-o em paz —  Protestei com raiva — Você já fez muito mal a ele, e eu não vou permitir que continue fazendo, você é uma viciada de merda que quer destabiliza- lo, só porque agora descobriu que ele é rico, e quer se aproveitar disso usando o título de mãe, mas fique sabendo que mãe é quem cria, quem dá carinho, e você só prestou pra parir

Ela me olhou com ironia.

—– Eu sei que você quer salvá-lo, mas não pode, algo morreu dentro desse menino há muito tempo, e tudo que resta é pura maldade dentro dele, ele tem uma raiva incontrolável, vai por mim, e eu tive uma prova disso quando ele tentou me matar, e ele só tinha seis anos, foi por isso que eu o abandonei, eu senti não conseguiria lidar com esse fardo, era pesado demais pra mim  carregar sozinha, e eu te aconselho a fazer o mesmo, ele... não tem concerto.

Eu já estava ficando atordoada e confusa, sem saber em quem acreditar. Aquela mulher pode está exagerando, mas tudo o que disse sobre Caleb não é nenhuma mentira.

E ela o conhece melhor do que eu.

Ela agarrou o meu braço aos plantos, mas eu soltei rapidamente e a encarei com todo ódio e desprezo do mundo

—– Tomara que você tenha uma morte lenta e dolorosa por tudo o que fez — Cuspi as palavras.

Separei um pouco do dinheiro e joguei no chão, diante dela.

—– Isso deve ser o suficiente pra você sumir.

Ela olhou para o dinheiro e depois pra mim clamando por  misericórdia. Mas eu engoli o resto de compaixão que me restou e virei as costas.

Subitamente ouvi o barulho de algo pesado caindo no chão. E algumas  pessoas que ali estavam,  se levantaram, assustadas.

E quando me virei, notei que a mulher havia desmaiado, e que sangue escorria pelo seu nariz.

Embora o desprezo que eu sentia por ela fosse maior, não hesitei em ajudar.

—– Alguém chama uma ambulância, por favor — Gritei em meio ao desespero com a cabeça dela apoiada em meu colo.

Por fim, acabei tendo que acompanhá-la até o hospital, como sempre essas situações só sobram pra mim.

Ela teve que passar por uma cirurgia, e realmente o câncer estava bem avançado.

Algumas horas depois, um residente de cirurgia apareceu. E eu conhecia aquela expressão, não era cara de uma cirurgia bem sucedida.

Ele suspirou fundo o que foi o suficiente pra entender o que havia acontecido, mas me mantive firme.

Afinal aquela mulher não tinha nada a ver comigo, então porque eu deveria chorar pela morte dela.

Mas eu não entendo porque as lágrimas queriam sair a todo custo.

—– Você é filha dela? — O enfermeiro perguntou, reparando que eu estava prestes a desabar.

Olhei para a minha blusa e notei que ela estava manchada de sangue, então entrei em pânico.

—– Senhora? — O rapaz insistiu.

—– Não — Respondi com um nó na garganta.

—– Conhece algum parente dela, ou um amigo que possa ajudar?

Tinha uma pessoa sim. Porém eu iria poupá-lo desse sofrimento.

Caleb já sofreu demais, seria injusto envolver ele nisso, e eu sei que ele jamais vai me perdoar por ter escondido essa verdade dele, mas pra mim, essa mulher merece morrer sozinha.

—– Não — Neguei com a voz embargada.

O rapaz suspirou novamente, e deu de ombros.

Foi impossível segurar o choro depois disso, então eu desabei.

Eu fiquei tanto tempo naquele hospital, que nem percebi que havia escurecido, e que uma névoa congelante cobria toda a rua.

Caminhei relutante até o meio fio, sem saber pra onde ir, tremendo de frio e completamente perdida até mesmo na minha própria desordem mental.

Acenei para um carro que passava, e o mesmo estacionou um pouco a frente de onde eu estava.

Agora sim, eu posso ir.

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