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—– Está novinha em folha — Disse o marceneiro abrindo e fechando a porta do armário para se certificar — Quem quebrou ela, parecia estar com muita raiva.
—– Foi a minha mulher, ela às vezes surta do nada, sabe, e acaba descontando nos móveis da casa —Caleb Ironizou — Estou pensando seriamente em interná-la em um hospício — Caleb completou com um sorriso sarcástico, fazendo eu me sentir constrangida
O homem olhou pra mim como se eu fosse mesmo a maluca da história. E eu abri um sorriso sem graça pra ele.
—– Bom, espero que tenha sido apenas um momento de raiva, e que ela esteja bem — Ele disse olhando pra mim
O que deixou Caleb um tanto surpreso.
Segurei a risada.
—– Certo — Caleb disse irritado ao ver a forma como o homem me olhava. E sacou de imediato a carteira, tirando de dentro o dinheiro e entregando para o ele afim de dispensa-lo rápido.
O homem assentiu balançando a cabeça e depois pegou sua maleta e se retirou.
Assim que ele saiu. Caleb se voltou pra mim e sua expressão endureceu. Tratei logo de tirar o sorriso do rosto.
Afastei dois passos pra trás e engoli a seco, vendo ele se aproximar, com sua beleza fatal e intimidadora, além do seu olhar implacável de sempre.
—– Então, você quebrou a porta do armário?
—– Eu estava com raiva, você me deixou com fome então eu...
—– Shh! — Ele me Interrompeu cobrindo os meus lábios com o dedo, enquanto meu coração batia acelerado e as lágrimas escorriam pelos meus olhos.
—– Pois bem..
Ele foi calmamente até o balcão da cozinha, pegou uma sacola e tirou de dentro um dos meus salgadinhos prediletos.
Por um momento eu sorri ingênua, pensando que ao invés de ser castigada eu seria recompensada.
—– Como você me pegou com um bom humor hoje, vou te dar duas opções.
Ele abriu o pacote de salgadinhos e despejou tudo no chão. Enquanto me olhava diretamente.
—– Não, eu não vou fazer isso — Antecipei incrédula.
Ele sorriu ironicamente e ameaçou tirar o cinto da calça, e quando ele ia abrir a boca para dar a minha sentença, eu não aguentei.
—– Está bem, eu faço.
Me ajoelhei no chão diante dos seus olhos, enquanto que os meus se encheram de lágrimas.
Antes de iniciar a tortura, eu levantei os olhos e o encarei, afim de que meu desespero pudesse convence-lo do contrário, mas eu sabia que estava perdendo meu tempo fazendo isso.
Sendo que tudo o que eu vi, foi um olhar frio e um sorriso assustador, se formar em seu rosto.
Peguei um salgadinho, e senti logo uma ânsia de vômito.
—– Se vomitar, vai comer o vômito também — Avisou.
Sua voz grossa e ameaçadora, fez o meu corpo inteiro tremer.
Mas eu preferiria levar uma surra ao ter que me submeter a essa humilhação, embora eu estivesse morrendo de vontade de comer aquele salgadinho, não poderia permitir que Caleb saísse ganhando desta vez.
Ele não vai me humilhar assim.
Levantei do chão e lancei um olhar desafiador para ele.
—– Olha só, agora você me deixou impressionado, Ella.
Fiquei calada, para ele não identificar através da minha voz o meu nervosismo.
Mas eu não estava pronta para levar outra surra, o meu corpo ainda estava muito dolorido. Eu não tinha me recuperado totalmente.
Ao invés dele pegar o cinto, como eu achei que faria, ele caminhou até a sala e tirou da parede um bastão de baseball que ele havia empalhado na parede.
Sempre me perguntei por que aquele troço ficava pendurado ali.
Ele voltou-se para mim, e minha respiração acelerou.
—– Vou te ensinar a não quebrar mais as coisas, te quebrando.
—– Por favor, não —– Desabei, vendo que eu não conseguiria manter a pose de durona por muito tempo.
—– Começando pelos dedos
Assim que ele levantou o bastão pra me bater, algo inesperado aconteceu.
Ele simplesmente parou e começou a rir assustadoramente, enquanto eu mijava nas pernas de medo.
—– Você tinha que ver a sua cara — Falou entre uma risada e outra, me deixando ainda mais apavorada.
O medo era tanto que as minhas pernas batiam uma na outra de tanto tremer.
Meus olhos estavam arregalados, e meu coração estava na boca.
—– Acha mesmo que eu vou estragar uma relíquia em você, sabe quem me deu isso...um dos maiores jogadores de beisebol do mundo.
Caleb pegou o bastão como se fosse um bebê, e o levou de volta para o lugar onde estava.
Eu estava paralisada. De todos os castigos que já levei, esse foi o mais aterrorizante e humilhante de todos.
Ele se aproximou de mim e sussurrou no meu ouvido.
—– Parece que alguém se molhou.
Meu corpo inteiro se contorceu de raiva, eu senti uma vontade imensa de fazê-lo engolir todas aquelas palavras, mas como já era de se esperar, me faltou coragem.
Então comecei a chorar, e dessa vez não parei mais.
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A tarde eu estava jogada no sofá, desanimada com a minha vida, quando a campainha começou tocar.
Suspirei fundo, e levantei pra ir atender.
Quando abri a porta, me deparei, com o semblante arrependido de Vicent. E eu tive que me segurar para não abraçá-lo
.
Eu estava muito mal, e precisava sentir aquela sensação reconfortante de novo, me sentir segura e amparada.
Mas queria fazer isso sem ele levar pro outro lado, achar que estou me jogando nos braços dele como uma mulher fácil.
—– Me desculpa — Suspirou. Eu sei que nesse momento, o que você menos precisa é de alguém pra te julgar, e sim entender, então se estiver afim, eu gostaria de te convidar pra tomar café na minha casa, pensei em preparar novos bolinhos — Completou empolgado.
—– Devo me preocupar? — Perguntei fingindo animação.
—– Deve sim.
Abri um leve sorriso, e ele deixou escapar um sorriso de alívio. Mas na verdade eu só queria sair daquela casa, e me distrair um pouco. E ele no entanto, parecia ser uma ótima opção.
Vicent não era um bom cozinheiro, mas em compensação era uma boa pessoa, ele me fazia dar boas risadas, era inteligente e gentil. Totalmente o oposto de Caleb. Seu toque era sutil, e ele me fazia esquecer da vida medíocre da qual eu estava levando
Com ele eu sinto que eu posso ser quem eu sou, sem medo, e isso me deixa feliz e a vontade. Mas eu sei que por mais viciante que seja viver essa aventura, e inevitável pensar em como acaba, e eu preciso parar antes que seja tarde demais.
Conheço os impulsos violentos do meu marido, e sei que quando está com raiva não enxerga nada além dela.
Por outro lado, eu ainda não confio nele o suficiente para me abrir, talvez seja pelo fato de não conhecê-lo bem, e também sinto que se eu perguntar, ele também vai querer me fazer perguntas, que eu provavelmente não vou querer responder.
Mas uma dúvida estava martelando na minha cabeça, e eu não queria deixar passar.
—– Você é um sádico? — Perguntei inesperadamente.
Ele se engasgou com o café, antes de responder.
—– O que? Não — Tossiu
—– E aquele quarto, pra que serve afinal? —– Insisti interessada.
Ele me olhou surpreso e intrigado ao mesmo tempo com a minha curiosidade.
—– Pensei que você tinha se esquecido disso.
—– Difícil esquecer, foi onde eu segurei um vibrador pela primeira vez.
Ele soltou uma gargalhada que me constrangeu por um instante, me deixando possivelmente corada.
—– Desculpa, foi uma pergunta idiota - Voltei a atenção para o café.
—– Não sou um sádico, mas gosto de atender as necessidades das minhas visitas, se é que você me entende...acredite, gosto de causar mais prazer que dor..e o termo correto seria dominador.
Sua voz sedutora me fez cruzar as pernas por baixo da mesa. Ele sabia desconcertar uma pessoa apenas com o olhar..
—– Por acaso está interessada?
Dessa vez foi a minha vez de me engasgar, agarrei o copo de café e despejei na boca para ajudar descer a massa do bolinho, que ficou entalada na minha garganta.
—– O café estava ótimo, porém você exagerou um pouco no açúcar, e na massa dos bolinhos, foi um sacrifício pra mastigar — Disfarcei, limpando a boca com o guardanapo, em seguida me levantei da cadeira.
—– Sinceridade é tudo — Ele disse impressionado, com os olhos fixos em mim.
—– Eu..eu preciso ir — Falei, quando finalmente consegui desgrudar os olhos dele.
—– Eu te acompanho até a porta — Ofereceu se levantando da cadeira.
—– Não precisa, eu sei onde fica a porta
—– Eu faço questão.
Sabe quando alguém está atrás de você, e você sente a presença vibrante dessa pessoa, sente a sua respiração profunda, seu olhar curioso, avaliando cada parte do seu corpo? então, era assim que eu estava me sentindo.
Quando voltei a olhar para Vicent, fui impactada pelos seus olhos em chamas, e seus lábios rosados levemente umedecidos.
Ele estava pronto pra dar o bote.
E eu me sentia encurralada no pequeno espaço entre a porta fechada e o seu corpo excitante.
Ficou difícil respirar.
—– Pode se afastar um pouco, para que possa abrir a porta — Pedi educadamente e vi como ele ficou desapontado em saber que sua tática de sedução falhou dessa vez
—– Claro, senhorita
—– Obrigado.
Escutei a sua risada sarcástica assim que passei pela porta.
—– Então é um jogo? — Questionou com o seu olhar atrevido de sempre
—– Não, isso sou eu acabando com as suas expectativas — Provoquei
—– Não acabou não, sempre foi o meu sonho tomar café com você, e eu consegui, estou bem mais do que satisfeito.
—– Que bom, guarde bem esse momento, porque não vai mais acontecer.
—– Será?
Ele sorriu maliciosamente, depois fechou a porta, me deixando parada com um sorriso bobo no rosto.
Mas o sorriso desapareceu assim que eu voltei pra casa.
Senti novamente o vazio beirar o meu peito. A sensação de inutilidade, o medo, a raiva.
Não era só o meu relacionamento que era tóxico, o ambiente no qual eu vivia também. A partir do momento que eu pisava o pé na calçada de casa, não importava quais emoções positivas, eu estava sentindo, tudo acabava
Eu voltava a me sentir como a mulher deprimida e sozinha que eu era, sem conseguir me livrar disso.
Talvez por estar acomodada demais, talvez por amar demais quem eu não deveria.
Por fim, eu simplesmente estou condenada a Caleb, assim como ele está condenado a mim.
E só mesmo a morte poderá nos separar.