Teenage Bounty Hunters 2 (Ste...

Von 307Bitanic

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Numa noite em que tudo deu errado, as irmãs Blair e Sterling tiveram de aprender a lidar com os diversos conf... Mehr

Sterling, você é minha filha
Será que elas irão nos odiar para sempre?
Eu te amo
A verdade
Alex?
Como você soube?
Querida eu do passado
Se eu pudesse
Amiga da Sterling?
Relacionamento Cristão
E o que ela disse?
Ciúmes
Alicia Farwell
Isso sim que é diversão!
As anotações
Mal posso esperar
Padawan
Cúmplices
O encontro (parte 1)
O encontro (parte 2)
Sterling?
Volte agora!
Desculpa
Os preparativos
Sábado
Hartleben
Margaret
Domingo
Vamos?
Fique
Confia em mim
Será que ele é confiável?
O almoço
Caça ao tesouro
Aquela droga de livro da Blair
Um mês
Nossa única chance
Srta. Bela Adormecida
Precisamos conversar
Você me beijou!
A novata
Longa história
Carreira solo
Consulta
Alohomora
Somos Caçadoras de Recompensas
E o Uber?
Viva os honorários!
As gravações
As cartas de Margaret
É muito arriscado
A perseguição
A embarcação
Cassiopeia
Cem dólares
Tentando se manter viva
Acidente
Anderson
Um erro
Xeque-mate
Eureka!
Meisner
Harvey-Johan
Não posso te prometer
Bodas de papel
O presente de April
Slow Burn
Edifício Playcenton
Fim de jogo - Parte 1
Fim de Jogo - Parte 2
Acabou

Casa na árvore

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Von 307Bitanic

        Se April tivesse dito desde o começo qual era o segredo, o caminho teria se encurtado em algumas horas. Mas... tudo bem, ela estava no direito de tirar a prova real por conta própria, quis ver para crer, e a resposta desceu amarga por sua garganta qual imaginara. E agora tinham um destino certo a seguir. Seu corpo tremia de nervosismo, ansiedade, porém a andrenalina que percorria por suas veias não a deixara sucumbir. Energizou-se com as informações e quis logo colocar o plano em ação, fosse ele qual fosse.

       John Stevens.

       O capitão da família perfeita era o pior de todos e April mais uma vez teve o desprazer de passar pela mesma sensação. Na verdade, não. Igualar o sentimento nas diferentes situações soava incongruente, porque agora o problema era extremamente mais grave. Decepção não chegava nem aos pés do que sentia. Sentia nojo. E começara a entender o porquê de Alex o repudiar tanto. Ponderou por um instante se o irmão sabia sobre toda aquela rede de mentiras desde o começo. Dado os fatos e as circunstâncias, provavelmente sabia, visto o tamanho rancor que ele carregava consigo mesclado à raiva no olhar toda vez que tinha de falar do pai. Era como se nem mesmo compartilhassem o mesmo sangue. Mas, mesmo que Alex soubesse, April não poderia julgá-lo, porque o garoto tinha ciência de que ela não acreditaria tão facilmente no que dissesse contra o homem. Ela não acreditou tão facilmente, embora todas as provas estivessem escancaradas bem na sua cara. April relutou e guerreou até o último instante, esperançosa de quebrar os argumentos das gêmeas para mostrar que tinham se equivocado, mas agora não tinha mais volta, porque John conseguiu destruir definitivamente a coisa mais preciosa que ela tinha por ele: a confiança.

       Seguiam em direção à casa do lago.

      Os ânimos dentro daquele carro estavam aflorados.

       Um helicóptero. Teriam de arranjar um helicóptero para irem ao Alabama e não poderia ser o de John, é claro. Seriam muito negligentes se deixassem pistas ou evidências que as denunciassem facilmente. Além disso, era bem provável que o sr. Stevens estivesse usando a aeronave particular que a família tinha.

— E de um piloto. — Sterling mencionou. E fazia sentido, né, até porque quem é que colocaria o aeromóvel no ar?

— Alex pilota. — disse April, como se a ideia tivesse lhe surgido de repente. — Quer dizer, ele se arriscou algumas vezes. Tirar do solo ele sabe, ao menos.

       Alex é bem mais interessante do que aparenta, pensou Blair com certa admiração, e recordou-se da conversa que tiveram sobre fazerem uma boa equipe, especialmente na época da Escola em se tratando de pregar peças em professores chatos ou matar aula para irem ao melhor clube do livro de Atlanta. Eles tinham muitas coisas em comum, por isso se davam tão bem, porém as circunstâncias da vida os afastaram... Para agora uni-los de novo, dessa vez em uma missão muito mais divertida: colocar John Stevens na cadeia. E poderia ser cômico se não fosse tão trágico. Ele ainda não era um aliado seu, visto a pouca fé que ela tinha nos Stevens, mas se a própria April estava ao lado das gêmeas agora, quem seria o Alex para não se juntar também?

         E ele se juntaria, querendo ou não. Argumentos que fossem contra àquela decisão estavam fora de questão, April conseguiu esgotar todos. De qualquer forma, Blair acreditava que ele não recusaria a oferta nem tampouco pensaria duas vezes antes de concordar. Desde que ele lhe contara de suas suspeitas das movimentações criminosas na boate de John e desde que se ofereceu para ajudá-la, tê-lo na equipe pareceu uma boa jogada de mestre, embora ela tenha relutado. E esta jogada se confirmou perfeita na hora certa: a necessidade de adicioná-lo como membro. Interessante como as coisas poderiam ser, não?

       (...)

        A viagem até a casa do lago fora longa e as três sabiam que tinham de dar explicações para seus respectivos pais sobre a demora. April ligou para a mãe avisando que estudaria na casa de uma amiga e só voltaria à noite, provavelmente. Como Krista estava ocupada com seus próprios assuntos e com sua vida agitada, nem se deu ao trabalho de perguntar muito sobre quem era a tal amiga e onde ficava a casa. Confiava na filha e, por um lado, isso foi muito bom. Certamente April se sentiu mal pela mentira, especialmente porque suas palavras sempre carregaram verdades e sua mãe sabia que podia acreditar nelas, mas tirar vantagem de sua boa conduta só daquela vez não pareceu um crime. Convenceu-se de que foi por uma boa razão. Logo em seguida, mandou uma mensagem de texto para o irmão pedindo a ele que ligasse o quanto antes. Assunto importante.

        Quanto às gêmeas, avisaram ao pai. Por mais que ultimamente ele estivesse sendo mais firme com as duas, ainda assim era melhor que a mãe, que iria fazer um milhão de perguntas. Disseram que foram dar uma volta pela cidade para comerem algo e para Sterling espairecer, visto que a "doutora" orientou que era uma boa ideia para ajudá-la a melhorar. Anderson ficou feliz que a mais nova estava bem, mandou que se cuidassem e desligou. Simples assim.

        Logo que os responsáveis tomaram conhecimento dos "destinos" de suas filhas, as três seguiram caminho com a consciência mais tranquila, mais aliviadas. O foco voltou-se todo à missão. E foi justamente por causa da missão que as perguntas sem respostas surgiram, e as gêmeas se viram na obrigação de explicar tudo para April, tim tim por tim tim, desde o começo até as recentes descobertas.

         O ponto de partida foi: como se tornaram caçadoras de recompensas? E foi Sterling quem respondeu. Iria mencionar o fato de elas só terem batido no carro do foragido porque as duas estavam zonzas demais com o fato da mais nova ter transado pela primeira vez, mas preferiu omitir essa parte para o bem de todos. Então começou dizendo que, por estarem distraídas no trânsito, um carro desgovernado apareceu do nada e colidiu contra a caminhonete delas. As duas imediatamente desceram do veículo para ver o estrago e foram confrontar o homem, qual foi a surpresa delas ao saber que ele era um procurado e que um Caçador de Recompensas chamado Bowser estava atrás do dito cujo. Tendo-o deixado escapar, ela e Blair tentaram ajudar o Caçador indo atrás do bandido, que fugia como o diabo da cruz. Depois de muito custo, as gêmeas conseguiram capturá-lo e o Bowser se viu na obrigação de dividir a Recompensa com as duas.

        Entretanto, o dinheiro da recompensa não era o suficiente para pagar o conserto do carro, então elas pediram ao Caçador mais um trabalho para custear a despesa. Se não dessem um jeito de pagar o concerto, os Wesley as deixariam de castigo para sempre, certeza. Ele recusou veementemente a oferta no início, mas acabou cedendo quando percebeu que precisaria da ajuda delas de novo. Precisaria delas para capturar John Stevens, visto que ele não poderia entrar no Salão dos Homens devido ao preconceito das pessoas que ali frequentavam. Elas, porém, poderiam. Oficialmente, foi o primeiro caso delas como Caçadoras de Recompensas.

— Não queríamos acreditar que era o seu pai, April, nós duas relutamos muito. — disse Sterling, encarando sua ex nos olhos através do retrovisor interno. Depois ficou alternando a atenção entre ela e a estrada. A Stevens tinha o rosto impassível. — Mas esteve bem claro que só poderia ser ele. Blair e eu fomos atrás de provas para mostrar ao Bowser que ele tinha se enganado, porém, depois que assistimos a um vídeo do seu pai saindo do motel algemado e, logo atrás, a prostituta toda machucada, soubemos que ele era culpado.

— Lembra que fomos até você para saber onde ele estava e você nos disse que ele tinha ido de helicóptero para Hilton Head jogar golfe? Sabíamos que era mentira. Ele não poderia estar lá, porque dias antes tínhamos o visto no Salão dos Homens. Quando a procura sobre o John se intensificou, apostamos que ele só poderia ter se escondido em um lugar: na sua casa do lago. Tiro certeiro. Foi lá que o capturamos.

        A mente de April fora sequestrada pela lembrança trágica do dia em que o seu pai fora preso. Ela sentiu tanta raiva dele por ter feito aquilo com a família que chorou por dias junto da mãe, que só sabia gritar para o álbum de casamento, praguejando o marido. Aquela reviravolta em sua família a afetara tanto que não conseguiu comer direito por mais de uma semana, especialmente porque John ainda teve a audácia de ficar com raiva dela por ter perdido a liderança da irmandade. Que moral que ele tinha para tal, afinal??? Nenhuma! Mas ela se deixou sentir porque costumava considerá-lo seu herói e não queria manchar ainda mais o nome da família. Por isso fez de tudo para alcançar a liderança.

       E, falando sobre isso, havia uma curiosidade: só chantageou Sterling com a camisinha porque, além de toda aquela conversa de só poder fazer sexo depois do casamento e de tal conduta não ser digna de um líder, não conseguia parar de pensar na Wesley de forma mais... Íntima. Quis reprimir este pensamento ousado, mas não conseguiu. A descoberta do látex despertou em si um sentimento pela loira que nem sabia que poderia sentir, um tesão enrustido, algo totalmente diferente do que sentia quando era mais nova, lá pela quinta série. E para abafá-lo, para tirar seus pensamentos deste tipo de imagem, enxergou uma oportunidade de ocupar a sua cabeça sacaneando a garota com ameaças. Se Sterling cedesse e entregasse de bandeja a liderança, April ganharia duas vezes. E foi o que aconteceu, embora não tenha se orgulhado de seus métodos, no final das contas.

— Fizemos o que tinha de ser feito. É o nosso trabalho. — pontuou Blair, firme.

        Sterling continuou a responder aos questionamentos pacientemente, mas um deles a deixou bastante balançada e surpresa: "você, em algum momento, se arrependeu de ter usado a mim para descobrir mais sobre o meu pai?". E ela só faltou bater o carro, perplexa.

— Quê? Não! April... — e respirou fundo. Murmurou mais para si que para as outras: — pelo amor de Deus!

      Reduzindo a velocidade do Volt, parou num acostamento qualquer, soltou-se do cinto e foi para o banco de trás por dentro do carro mesmo, quase caindo sobre April ao se achegar perto dela. Blair logo assumiu o volante e rapidamente deu partida.

— Primeiro, April: acha mesmo que eu me envolveria com alguém cujo pai é um criminoso doente e que poderia me matar, mesmo estando na prisão, por eu tê-lo prendido, se eu não gostasse DE VERDADE dessa pessoa??

       Blair sorriu. April, por sua vez, engoliu em seco; os braços cruzados sobre o peito. A fisionomia de Sterling denunciava a sua incredulidade diante da falta de confiança.

— Segundo: por que inferno eu teria usado você para solucionar o caso de seu pai, se Blair e eu já tínhamos encontrado todas as respostas sem a sua ajuda?

        Pararam no semáforo e foi o momento perfeito para que a mais velha bisbilhotasse por cima do ombro e percebesse o tanto que a sua irmã gostava daquela garota.

— Terceiro: eu me recuso a acreditar que você ainda duvida do que eu sinto por você, mesmo depois de TUDO que a gente viveu. Eu sei que fui uma idiota recentemente e eu sinto muito. Eu não deveria ter te dado esperanças de uma possível volta se eu não tinha nem mesmo certeza do que eu queria. Eu sei que fui uma idiota. Mas eu não aceito que me diga que eu te usei, April, porque durante todo o tempo em que o seu pai esteve preso e durante todo o tempo em que a gente nem mesmo tinha algo, eu me preocupei com você. Eu me preocupei com o seu bem estar. Eu sempre perguntava como você estava, porque eu queria me certificar de que você estava lidando bem com todas as coisas.

        E o sinal abriu, mas Blair estava tão concentrada nas palavras de sua irmã que só se deu conta do fato quando os carros atrás de si começaram a buzinar.

— Ai, que inferno! — praguejou, voltando a acelerar.

— Se eu tivesse te usado durante todo aquele tempo, acha mesmo que eu teria me importado quando você começou a flertar com o Luke? Acha mesmo que eu teria gastado meus neurônios pensando num lugar legal para a gente ter o primeiro encontro? Acha mesmo que eu teria furado com a Blair só para ficar com você no estacionamento?

— Olha só, isso aí eu posso confirmar, hein. — a mais velha se intrometeu para ratificar a última linha de raciocínio de sua irmã. — A gente discutiu feio por causa disso. Ela me disse que não apareceu para o nosso combinado porque estava seguindo o próprio coração e que esse tal coração aí estava em partes que não eram da minha conta! — ai, Blair! A loira corou de vergonha.

      April ficou em silêncio, embora quisesse enfiar a sua cara em algum buraco.

— Por favor, cala a boca.

— Não é querendo defendê-la, não, mas duvido muito que a Sterling tenha usado v-

— Tá bom. Tá. Ok. Eu já entendi. — a Stevens desconversou rapidamente, fugindo do assunto sobre o relacionamento. O que tinha de saber, sabia. Mexer no que estava quieto só serviria para afetar o seu emocional. Se aquela história se alimentasse e se desenvolvesse até chegar ao ponto da Alicia ser mencionada, certamente ficaria extremamente irritada, especialmente com Sterling. Ou seja, não faria bem a ninguém. Portanto, era melhor prevenir que remediar. — Podemos falar sobre outra coisa?

        Então contaram, mesmo que não fosse concernente ao caso, não diretamente, que Sterling era filha adotada dos Wesley e que as irmãs não eram irmãs. Na verdade, eram primas. Debbie tinha uma gêmea chamada Dana, que era uma foragida da polícia há anos. O segredo foi mantido durante muito tempo pela família, sendo revelado apenas quando Dana sequestrou Sterl logo depois que a menina e April terminaram o relacionamento no acantonamento. Houve troca de tiros, a loira fora amordaçada e Blair só conseguiu encontrar a irmã por causa de uma sacada brilhante que a mais nova teve de deixar uma mensagem com gloss e com o açúcar de um doce na porta de um banheiro.

        A Stevens ficou chocada com a história.

— Por que não me contou nada sobre isso, Sterling???? Meu Deus!

        Não contou, pois nunca houve uma boa oportunidade de o fazer.

         E depois de explicar que Dana fora presa e que tudo tinha ficado bem depois daquele dia, na medida do possível, especialmente quando Debbie esclareceu toda a história, o assunto se desenvolveu.

        Era hora de falar sobre o momento em que a chave girou para todos eles: quando Bowser descobriu que John Stevens tinha sofrido um acidente quando era mais novo e a sua esposa da época morreu junto ao bebê que esperava.

— Quê???? — April escandalizou, completamente descrente. — Meu pai ia ter um filho???

— Pois é, iria. — ratificou Blair. E fora ela quem deu prosseguimento à história por ter mais propriedade para falar.

        Contou que Bowser, na década de 90, trabalhava no Departamento de Polícia da Flórida e acabou se deparando com este caso. John Stevens, ou Jonathan Hartleben, como estava nos registros, perdeu o controle ao desviar de um caminhão que vinha no sentido oposto e capotou repetidas vezes, saindo da via. A mulher de John, Beatrice, morreu na hora, porque estava sem cinto, assim como o bebê que ela esperava. Os olhos de April estavam arregalados com o comentário e ela não sabia nem o que dizer, ficou apenas escutando, perplexa.

        Blair mencionou que ela e Bowser quebraram a cabeça tentando entender os furos presente na história e chegaram a um denominador comum: O avô de April, George, premeditou a morte de Beatrice por alguma razão e John o ajudou. O objetivo deles provavelmente era esconder algum podre que Beatrice descobrira e, como queima de arquivo, eles arquitetaram a morte perfeita, em que Jonathan saiu vivo. Os documentos entregues à polícia eram falsos e não existiu nenhuma checagem mais aprofundada na cena para confirmar que realmente foi um acidente. Isto é, claramente alguém fora comprado para acobertar toda a história. A busca agora era descobrir o que de fato aconteceu naquele dia.

        O rosto da Stevens estava lívido, tão branco quanto um papel, como se ela tivesse acabado de ver um fantasma bem na sua frente. Sentiu o ar lhe faltar. Era muita coisa para digerir. Quão absurda aquela história poderia ser??? Mas, naquela altura do campeonato, não tinha mais como duvidar de nada que viesse metralhá-la. Percebeu que estavam cavando cada vez mais fundo e que a sua família era um milhão de vezes pior do que sequer um dia chegou a imaginar.

        O assunto teve como sequência o fato de Sterling ter encontrado Margaret no asilo mesmo sem saber e, no dia seguinte, durante o almoço, depois que Alex percebera Blair muito observadora, ele logo supôs que só poderia ter algo a ver com John. Então, não se conteve e revelou a ela todas as suspeitas que tinha contra o próprio pai: que ele estava para usar Anderson como um "laranja" na tal sociedade que fizeram juntos para encobrir as merdas e o dinheiro sujo que provinham da boate da qual o Stevens era dono e que ele poderia estar envolvido com tráfico de drogas e de mulheres. Além disso, ainda tinha o fato de John ter tirado a mãe do asilo inesperadamente e de a vida da senhora estar correndo perigo.

— Entende a gravidade de tudo isso? — fora Blair quem questionou, mas não obteve resposta. Olhando para trás por um instante, soube o porquê.

        Sterling deixou seus olhos repousarem em sua garota com o máximo de compaixão que conseguiu. April mordia os lábios inferiores com força, encarava o chão com tamanha raiva e tristeza, mas o peso de todas aquelas informações sobrecarregaram o seu emocional e ela não viu outra forma de se esvaziar senão chorando. E ela verdadeiramente chorou, chorou de soluçar. Outra vez. Chorou como se sua vida dependesse disso e seu corpo todo tremeu, desabando qual um castelo de cartas.

        O coração da loira se despedaçou em vários pedaços ao vê-la daquele jeito e, sem mais nem menos, rapidamente a trouxe para perto de si, abraçando-a com todo o carinho. Protegendo-a de todas aquelas merdas... Ou tentando. A verdade uma hora viria à tona e era melhor que soubesse ali pelas gêmeas do que quando fosse tarde demais. April sabia disso. Sabia. Mas era tão difícil de aceitar, Deus! Tão difícil de lidar! Por quê?? Por que sua família caiu na ruína tão bruscamente?? Sterling a envolveu em seus braços e a Stevens se deixou afundar. Deixou-se ser acolhida. Precisava daquilo mais do que qualquer coisa.

        Ninguém mais ousou dizer nada. Os únicos sons que preenchiam o silêncio do carro eram os fungos de April e a música ambiente. She will be loved tocava e Blair aumentou um pouco o volume para que se distraíssem durante o percurso. Murmurou a letra baixinho.

        A viagem fora mais longa do que pensaram.

        Deitada nas pernas de Sterling, a Stevens acabou adormecendo com o afago carinhoso que recebia nos cabelos. O toque era delicado e cuidadoso, e uma das principais intenções era acalmá-la. Funcionou. Funcionou bem até demais. Menos de dez minutos mais tarde e seus olhos começaram a pesar, implorando para que se rendesse ao sono. A loira a observou dormir por um tempo. Observou os detalhes, cada pequeno detalhe, e se concentrou na respiração serena, como se pudesse encontrar paz através daquela quietude.

         Fechou os olhos ao suspirar, repousando a cabeça no encosto do banco.

        Alicia imediatamente mergulhou em seus pensamentos qual o mar na areia e, por um instante, sentiu-se bastante feliz pela decisão que tiveram em conjunto.

        O início do período de um mês fora incrível, não poderia negar. Por mais que Sterling estivesse fugindo da Stevens na Escola, fora de lá conseguia se desligar totalmente dos problemas e se entregar satisfatoriamente ao que o novo relacionamento exigia. Alicia e ela saíam para jantar em lugares diferentes vez ou outra; afundavam-se no sofá em dias exaustivos e perdiam horas assistindo séries ou filmes; Sterling acompanhava os jogos de basquete da menina, assim como a ajudava, com opiniões, a produzir as músicas EDM. E elas conversavam todos os dias. Tinham uma relação saudável e muito boa, mas faltava algo. Ambas sabiam disso. Alicia sabia bem e ela entendia que não poderia cobrar nada, porque foi ela própria quem sugeriu o período, mesmo sabendo de todas as nuances.

       Naquele momento estavam no décimo dia.

       No nono, depois que Sterling contou aos pais que queria ir para a consulta, isto é, no mesmo dia em que ela e April tiveram o desentendimento, as duas garotas se encontraram para passar a noite juntas e tiveram uma conversa. A loira nem chegou a dormir na casa de Alicia, como costumava fazer vez ou outra, mas ficaram deitadas juntas no quarto, apenas deixando os pensamentos fluírem enquanto encaravam o teto. Farwell reconheceu que fora desesperada demais com a proposta. Que simplesmente ignorou os seus próprios sentimentos e os de Sterling apenas para não perder a oportunidade de estar com alguém que a fazia bem, apesar de saber que a entrega por parte da outra não seria cem por cento.

        Depois de três relacionamentos, era de se esperar que Farwell lidasse melhor com suas emoções, mas a verdade era que ninguém conseguia sair ileso a vacilos quando na situação de estar gostando de alguém. E Alicia percebeu que fora exatamente isso que aconteceu consigo. Para aconselhar os outros, era incrível. Porém, para cuidar de seus próprios problemas, era um desastre. E terceirizou a responsabilidade para Sterling também ao oferecer a proposta inusitada. Mesmo assim, a Wesley não se eximiu de sua culpa, porque sabia que tinha o poder nas mãos de decidir o que fazer e mesmo assim escolheu ficar. Seguir em frente com Farwell, embora as duas soubessem que a loira não estava preparada para seguir em frente coisa nenhuma! Enfim, uma grande merda!

        Com certo pesar, conjuntamente tomaram uma decisão: decidiram parar.

         Elas decidiram parar. Entraram num acordo. Decidiram que era o melhor a se fazer. E que bom que o fizeram! Há momentos em que desistir é mais sensato do que insistir e as duas não queriam sair com seus corações quebrados. Alicia não queria. Antes tarde do que mais tarde ainda. Intimamente, Farwell sabia que não poderia se submeter a ser segunda opção de ninguém, que estava se humilhando por algo que soube desde o começo não ser recíproco. Sterling era uma garota maravilhosa. Sim, realmente era, e amava com todo o coração tê-la por perto, mas a Wesley não era a garota perfeita que gostaria de ter para si e estava investindo energia em algo que não colheria no futuro.

         Foi a decisão mais importante que teve na vida. A primeira.

        Quanto à segunda, a segunda foi mais ousada, mesmo assim parecia promissora. Decidiu largar a faculdade e abraçar a oportunidade que lhe surgiu em Dubai. Uma amiga brasileira sua, Barbara Reis, que era produtora, a convidou para tocar como DJ na maior boate da cidade, porque um patrocinador de música EDM estaria por lá. Se desse mesmo certo e conseguisse conquistar a simpatia do homem, ele investiria na carreira dela. Era pegar ou largar, e ela segurou com todas as forças. Viajaria dali a uma semana.

        Sterling ficou tão feliz por ela que não soube descrever. Esqueceu-se de todos os problemas e se concentrou na vitória de Alicia àquela noite. Somente na vitória. E, por impulso e força do hábito, beijou-a em comemoração. Beijou-a com verdadeira alegria e felicidade, e começaram a gargalhar qual duas doidas cheias da grana em Las Vegas. E o beijou evoluiu para algo mais... Íntimo sem que percebessem. Evoluiu de tal forma que só se deram conta quando suas roupas começaram a cair no chão, peça por peça. Fora a primeira vez delas duas. E a última, provavelmente. Se ficassem até que Alicia fosse embora, haveria outras vezes. Mas... Consideremos que foi a despedida.

         Alicia fizera Sterling atingir o orgasmo três vezes consecutivas. Três vezes. Não foi uma nem duas, mas três vezes, e a loira FINALMENTE conseguiu compreender o que a sua irmã queria dizer com o "pequena morte". Grande morte, na verdade. É para você não esquecer de mim tão cedo, amor, foi o que Farwell lhe disse quando se despediu. Mas Sterling ainda não contara nada para Blair, visto que as duas não estavam se falando mais cedo e, quando surgiu a oportunidade, tiveram de tratar de assuntos mais urgentes.

         Alguma hora, talvez.

        Mesmo assim... Uau!!! Era uma nova mulher.

— Chegamos. — Blair anunciou de repente.

        April levantou, despertando com a voz da mais velha. Seu rosto estava amassado devido ao sono e inchado por causa do choro.

— Chegamos? — quis se certificar de que ouvira certo.

— Aham. — Sterl a respondeu.

        Era quase 14hrs da tarde.

        Blair estacionou o carro na frente da grande mansão e, logo, as três desceram do veículo. A Stevens esfregou o rosto para despertar de vez conforme caminhavam em direção ao quintal, num canto de terra próximo à piscina onde havia uma grande árvore que fizera de casa.

       As gêmeas trocaram um olhar cúmplice, como se dissessem silenciosamente que se lembravam da última vez que estiveram ali: na noite em que capturaram John Stevens. Era interessante saber que voltaram naquele lugar melhores profissionalmente, agora munidas de muitas informações e experiências. Não fariam diferente do que fizeram, garantiram para si mesmas, mas talvez não se exporiam tanto na próxima chance que tivessem, porque o homem poderia estar armado e, friamente, descarregado o pente contra elas. Quem garantiria que ele não o faria? Mas os erros serviam justamente para isso, não é? Serviam para ensinar. E elas aprenderam.

— Tá em algum lugar debaixo desse monte de terra... — April estava falando sozinha, tentando se lembrar de onde o enterrara.

       Respirou fundo, ciente de que se sujaria toda, tanto a sua mão quanto a sua roupa, mas tinha de o fazer. Começou a cavar. As gêmeas, vendo-a já colocando a mão na massa sem muita cerimônia, rapidamente se tocaram de que deviam ajudar também. Tocaram-se, sim, mas não quer dizer que o fizeram. Pelo menos Blair, não. "Eu vou voltar dirigindo e ainda temos de entrar lá na mansão para pegar a chave, não posso me sujar, desculpa aí", foi o seu argumento. Ridícula! Como uma madame, cruzou os braços e ficou observando as outras duas procurarem a tal caixa de madeira.

        Remexeram a terra como se suas vidas dependessem disso, uma sujeirada danada, mas não estavam encontrando. Ficaram alguns bons minutos cavando e cavando e cavando, e só o que conseguiram achar foram minhocas e lesmas. April irritou-se.

— Não tá aqui!

— Como assim não está aí? — Blair franziu a testa, sem entender nada. — Você não tinha enterrado nessa árvore???

— Sim. Sim. Eu enterrei em algum lugar daqui, mas não está mais! — explicou sem paciência, angustiada com a possibilidade de alguém ter pegado.

— Talvez esteja em algum lugar mais fundo... — Sterling tentou soar otimista, mas até ela sabia que tinha alguma coisa errada.

— Não, não tem como estar mais fundo que isso! — retrucou, mais arrogante do que gostaria. Deslizou o dorso da mão direita na testa suada para limpá-la, mas acabou se sujando mais. Bufou, estressada. — Eu não acredito que não esteja aqui!

— Ah, não! Não é possível! — estrilou Blair, sentindo-se no direito de ficar com raiva.

— Você não tem ideia de um outro lugar onde poderia estar? — Sterling, sabendo que tinha de ser o ponto de equilíbrio naquele momento, tentou pensar em outras possibilidades. — Talvez você tenha se enganado quanto ao local, afinal você era uma criança na época.

       April parou para pensar por um instante, mas não no que a loira sugerira, mas em quem poderia ter tirado a caixa dali. Tinha certeza de onde enterrara, não tinha como ter sumido tão do nada.

      Mas uma lâmpada se acendeu sobre a sua cabeça, indicando a chegada de uma ideia.

— A menos que...

— A menos que o quê, April?? — questionara Blair, ansiosa.

       Porém a menina estava tão dispersa, imersa em seus próprios pensamentos que nem lhe deu atenção.

        Inesperadamente, a Stevens saiu correndo rumo a um lugar teoricamente desconhecido e a sua reação abrupta assustou as gêmeas, que trocaram um olhar extremamente confuso. Logo, apressaram-se para irem atrás dela a fim de não perdê-la de vista.

— Aonde é que você está indo??? — Sterling quis saber.

       Nenhuma resposta.

       Quando viram, estavam muito além da casa, dentro de um bosque esquecido pelo tempo. April se lembrou de que, quando mais nova, gostava de aventuras e vez ou outra explorava os arredores da residência, cujo território era enorme, por pura curiosidade. Foi então que descobriu uma casa na árvore em meio àquele lugar, capenga, mas bonita, e fez de seu lar por muito tempo. Era o seu esconderijo. Entretanto tudo desandou quando Krista, sentindo a sua falta, começou a procurar feito louca por ela, acreditando que April tinha desaparecido ou se perdido em algum lugar. O desespero fora tanto que quase chamou a polícia, mas achou a filha antes de ter tomado uma decisão mais expressiva. Certamente, proibiu-a de entrar naquele bosque novamente e, diante disso, John se viu na obrigação de construir uma casa na árvore para ela para que não ficasse triste pela perda da outra.

       E tinha sido lá que April tinha enterrado o Alohomora.

       Como poderia ter se esquecido???

       Aos pés da casa na árvore velha e acabada, a Stevens se ajoelhou e, sem pensar muito, cavou como doida, remexendo a terra seca e desgastada. Cavou fundo. Um sorriso débil brincou em seus lábios, esperançosa. E antes que Sterling pudesse se juntar a ela novamente, o que tanto procuravam foi achado. As mãos de April tremiam.

— Achei! — gritou ela. Era um brado alto de Eureka. As gêmeas só faltaram soltar fogos de artifício quando a escutaram. — Achei... — murmurou para si, abobada.

        E segurou a caixa de madeira nas mãos, namorando-a como se fosse um pedaço de diamante raro. E, naquela ocasião, talvez realmente fosse. 
      

     
        

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