Capítulo Sessenta e Cinco

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— Samuel? Ficou no quarto, daqui a pouco tá aparecendo por aí — respondeu rapidamente, voltando sua atenção para afilhada.

Magnólia apenas estreitou os olhos, mas pegou César pelo braço e foi indicando a saída, deixando bem claro que era para deixarem o casal de amigos sozinhos.

Por um longo momento nenhum dos dois disse nada, Viviane foi sentar numa cadeira, admirando a cena carinhosa. Quando Toni percebeu o olhar saudoso que recebia, percebeu que estavam sozinhos e ficou um pouco desconfiado e inquieto, sem saber o que dizer. Afinal da última vez que viu Viviane ela lhe contou que estava grávida da pior pessoa que conheciam, revelou ter contado seus segredos mais íntimos para ele, seu pior inimigo. Despejou tudo de uma vez, em meio a um pranto dramático e pedidos de perdão que só serviram para enervá-lo mais ainda.

Não tinha ideia do que deveria dizer agora que estava ali, um de frente para o outro depois de um ano e meio.

— Ela é tão linda – soltou olhando fascinado para os olhos castanhos enormes que não se desgrudavam do seus.

— Genética querido! Morra de inveja! — gracejou, Viviane, no seu tom implicante de sempre, mas nitidamente estava tão receosa quanto ele.

Toni apenas olhou de forma displicente para moça antes de voltar sua atenção para a menina.

— Tu sabe que isso não muda né? Eu não esqueci tua punhalada e nunca vou esquecer – começou enfim, em tom de aviso, falando seriamente sobre a situação da amizade dos dois e indo logo direto ao ponto como era de seu costume.

Viviane sorriu cheia de culpa e saudade, um sorriso triste que não mostrava o brilho que a mulher geralmente possuía.

— Eu só vim porque estava passando da hora da minha filha conhecer o padrinho dela. O César ela já conhece, ele acompanhou o parto sabia? – explicou calmamente, porque não havia muito mais a se fazer.

Já não eram amigos como antes, ao mesmo tempo, não eram completos estranhos. Conheciam um ao outro de tal forma que nunca seriam capazes de esquecer totalmente a conexão que tiveram por anos.

De amigos a ficantes, os primeiros um do outro na cama, de ficantes a companheiros nas batalhas do ensino médio, uma parceria que garantiu a sobrevivência de ambos naquela fase negra. De ficantes a apenas amigos outra vez quando Toni simplesmente não sentia mais tesão por mulher nenhuma, nem sua cúmplice de vida. Tudo isso passava pela cabeça de Viviane naquele momento, lhe fazia sentir um aperto no peito.

— Ele nunca me disse que viu o parto – falou mais consigo mesmo, tentando achar na memória alguma vez que seu ex tenha deixado escapar alguma coisa a respeito.

— Óbvio que não bebê. Vocês estavam morando juntos ainda e com certeza teria quebrado a cara dele por ele ainda falar comigo – falou voltando ao seu tom ligeiramente irônico.

— Teria mesmo – constatou o óbvio, lembrando como aquela traição ainda lhe doía na alma naquela época.

De repente Viviane se empertigou na cadeira, limpou os vestígios de lágrimas no rosto e colocou um daqueles seus famosos sorrisos radiantes, mas que ameaçava fraquejar a cada segundo, seus lábios trêmulos entregavam sua fragilidade momentânea, quando falou sua voz saiu calma, ou conformada.

— Eu sei que você nunca vai entender ou perdoar o que eu fiz, muito menos que as coisas vão voltar a ser como eram antes. Mas tudo bem, porque eu não vim aqui em busca de redenção. Me desculpe bebê, eu ainda te adoro muito, mas não consigo me arrepender de nada que eu fiz, porque isso trouxe a Vi para minha vida – sua voz embargou por um momento, limpou gentilmente a lágrima que escapou, ganhando a atenção do ex-amigo enquanto olhava para filha com olhos maternais únicos.

UnilateralWhere stories live. Discover now